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Brasília

Vídeo: mulher de 52 anos vive situação de abandono no DF

Arquivo Geral

16/10/2018 7h00

Ivontete Alves Ribeiro, comenta que pede socorro quando se sente sozinha. A ex-cozinheira sofre depressão e tem a mobilidade comprometida. Foto: Myke Sena/Jornal de Brasilia.

Rafaella Panceri
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Gritos de socorro de uma senhora de 52 anos têm tirado o sono de moradores da quadra QNP 36 do P Sul (Ceilândia) há pelo menos dois meses. Recentemente, vizinhos gravaram um vídeo da mulher caída dentro da garagem de casa. Lá dentro, havia fezes, lixo acumulado e restos de comida pelo chão.

A filha, Jéssica Alves da Costa, 26, mora no local, mas estava fora há três dias. Revoltados perante a frequência com que presenciam essa situação, os moradores acionaram, mais uma vez, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros do DF. Porém, nada pode ser feito a não ser que haja uma denúncia formal.

Uma vizinha que preferiu ter o nome preservado conta que a família “não aguenta mais” escutar dona Ivonete Alves Ribeiro gritar por socorro durante a noite. “Ela chora muito e pede ‘ajuda pelo amor de Deus’”, relata. Segundo a vizinha, a idosa fica trancada no imóvel.

Desespero
“Difícil é um fim de semana em que isso não aconteça”, conta outro vizinho. “A gritaria começa às 20h e vai até por volta da meia-noite. Meu quarto é no segundo andar da casa e eu escuto. A irmã dessa senhora já veio aqui, deu banho nela, alimentou, mas diz que não pode fazer isso sempre porque já cuida de outros familiares”.

Na última sexta-feira (12), a Polícia Militar interveio, com ajuda do Corpo de Bombeiros. Apesar de prestar socorro à senhora, os militares orientaram a população a denunciar o caso às autoridades. Uma vizinha gravou um vídeo e publicou na internet, mas, com a repercussão do caso, ela preferiu apagar a publicação, por medo de represálias. Veja o vídeo:

 “É solidão”
Ontem à tarde, dona Ivonete e Jéssica estavam na sala de casa e disseram estar “cientes” da insatisfação dos vizinhos. A senhora parece lúcida, mas, segundo a filha, foi diagnosticada, há cinco anos, com depressão e transtorno bipolar.

“Não consigo emprego fixo porque preciso cuidar dela”, alega Jéssica. No fim de semana, faço ‘bicos’.” A jovem admite, no entanto, que a mãe não consegue ficar sozinha por mais de 24 horas sem gritar. “É de solidão. Quando passa disso, acontece o que aconteceu e ela faz o que fez: grita”, afirma.

Sobre o lixo e as fezes espalhadas pelo chão, Jéssica afirma que a mãe se locomove com dificuldade e, por isso, não consegue chegar ao banheiro a tempo. “Digo a ela para fazer onde estiver”, rebate.

“Ela não tem nenhuma doença, mas o estado emocional causa tudo isso”, alega. “Ela não gosta de ficar sozinha e começa a chorar, mas não posso viver a vida dela. Ter vizinhos reclamando e questionando não é confortável, mas o relatório sobre a saúde mental dela me deixa mais tranquila.”

Filha questiona vizinhos
Apesar de a relação entre mãe e filha parecer pacífica, quem mora perto dali sugere que há brigas com frequência. “Já escutei a filha dizendo que vai abandoná-la, que vai sair e deixá-la sozinha. Parece que é para dar medo mesmo”, conta uma vizinha.

“É uma situação que todo mundo vê e passa a borracha em cima, mas nada muda”, informa um outro morador da vizinhança. “Todo mundo comenta que elas se mudaram para cá devido ao mesmo problema com outra vizinhança”, endossa outra moradora. “Ninguém deveria ser deixado em uma situação dessas. Ela claramente é alguém que não pode ser deixada só”, opina outra vizinha.

Jéssica revela que o aluguel da casa onde está morando com a mãe é pago por familiares. Diz também que não tem qualquer condição de se manter sozinha. “Ao mesmo tempo, sou obrigada a cuidar dela e, por isso, não consigo emprego”, reclama.

A jovem também questiona o comportamento dos vizinhos. “Na hora de criticar, todo mundo lembra que ela tem uma filha. Mas meu irmão não a vê há três anos e não quer dividir essa responsabilidade comigo. Chamar a polícia não é a melhor atitude”, aponta.

Dona Ivonete, por sua vez, se resume a declarar: “Não estou apanhando e nem passando fome. Só me sinto sozinha e grito para ver se alguém vem conversar comigo”.

Jéssica não especificou que tipo de atividade exerce aos fins de semana. Apenas argumentou que, em razão desse trabalho extra, deixa a mãe desacompanhada, mesmo ciente das limitações físicas e emocionais da idosa.

Registros Oficiais
De acordo com o Corpo de Bombeiros, a última ocorrência registrada no endereço é de 10 de setembro. Dona Ivonete Alves Ribeiro foi atendida durante uma “crise nervosa” por uma viatura da corporação e uma ambulância do Samu, que administrou medicamentos à paciente. Até o fechamento desta reportagem, o sistema da Polícia Militar do DF estava fora do ar, o que impossibilitou a consulta de ocorrências relacionadas.

Saiba Mais
A Secretaria de Estado do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) conta com uma Unidade de Acolhimento para Idosos (UNAI) provisória, com 20 vagas. Há, também, mais de 44 vagas disponíveis na Unidade de Acolhimento para Adultos e Famílias (Unaf), localizada no Areal.

A pasta disponibiliza, ainda, quatro unidades conveniadas de longa permanência para idosos, com 242 vagas: Lar Casa do Candango, Instituto Integridade/Lar dos Velhinhos Maria Madalena, Associação São Vicente de Paulo e Obras Assistenciais Bezerra de Menezes. Ao todo, são 306 vagas disponíveis aos idosos no DF em instituições da secretaria.


Serviço
Denúncias sobre abandono e maus-tratos contra idosos podem ser feitas nos seguintes canais de atendimento:
» Disque Idoso 156 — opção 8
» Disque 100 — Ouvidoria da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
» Conselho dos Direitos da Pessoa Idosa (CDI) — Estação da Cidadania (estação do metrô da 112 Sul). Presta orientação para pessoas idosas.
» Disque 162 — Ouvidoria-Geral do Governo de Brasília
» Central Judicial do Idoso — pessoalmente, de 2ª a 6ª, das 12h às 18h, no TJDFT, Bloco B, 4° andar
» Polícia Civil — pelo telefone 197, e-mail [email protected] e WhatsApp: (61) 98626-1197
» Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin) — funciona no Departamento de Polícia Especializada (DPE), ao lado do Parque da Cidade.

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