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Brasília

Universitários passam mais tempo diante do computador e devem atentar para saúde

Livros deram espaço a computadores e estudantes reclamam do impacto do isolamento na sua rotina de estudos

Agência UniCeub

25/05/2020 19h09

Mayariane Castro e Marília Silva
Jornal de Brasília/Agência UniCeub

O mundo parou. As engrenagens da rotina foram paradas de repente e a casa virou refúgio. Com a pandemia declarada do coronavírus, adaptações foram feitas em todos os ambientes. Livros deram espaço a computadores e estudantes reclamam do impacto do isolamento na sua rotina de estudos.

A estudante de psicologia Giovanna Ponte, de 21 anos, relata que a mudança na rotina levou a uma adaptação ao método de estudos a distância adotados pelas instituições na quarentena. “Eu fico de 7h40 até 19h com o computador ligado e vou estudando e trabalhando conforme as atividades que preciso exercer em casa”, explica.

Giovanna é estudante de psicologia e relata as dificuldades com ensino a distância (Foto: Arquivo Pessoal)

O governo do Distrito Federal decretou a quarentena ainda no mês de março, no dia 16, antes do grande aumento de casos de Covid no Brasil. Desde então, as faculdades privadas promovem as aulas a distância para dar continuidade ao semestre que não há previsão de volta dos encontros presenciais.

Para outros estudantes as adaptações não mudam drasticamente. Maria Eduarda, aluna de psicologia, 29, relata que organiza seus estudos da melhor forma para não deixar acumular conteúdo. “Eu tento selecionar uma matéria para estudar por dia, às vezes até no fim de semana, e dedicar pelo menos uma hora pra ela”, diz a estudante.

A mudança na rotina foi brusca para estudantes que antes tinham contato direto com os professores. Este novo modelo que utiliza aplicativos de vídeo chamada para dar continuidade ao conteúdo exige mais concentração e foco que nas aulas presenciais por estar num ambiente livre dos olhos do professor. “Acredito que uma das partes mais negativas desse modelo de aulas remotas seja a questão de manter a concentração no momento da aula”, relata a estudante Bárbara.

Saúde Mental

Já faz mais de 40 dias que a população precisa ficar em casa e com isso vem também a saúde mental que pode ser afetada. Muitos não se lembram e não passam por isso, mas há pessoas que sofrem com a ansiedade, angústia e outras sentimentos ruins. Maria Eduarda lembra, “tenho me sentido bastante ansiosa, mais agitada e cansada. Com a mudança da rotina tão brusca fica difícil acompanhar mentalmente”.

Para dar suporte às pessoas que estão passando por essas situações, a psicologa Cintia Matos explicou como pequenas ações podem ajudar. “É preciso acolher as pessoas por trás das telas. Oferecer suporte aos estudantes no que diz respeito aos processos emocionais para além dos cognitivos”. A psicóloga afirma que os alunos também têm necessidades, emoções e pensamentos diversos.

A estudante Bárbara também relata que a indefinição do fim da quarentena é algo que tem afetado mais a sua rotina e sua saúde mental “Não ter uma perspectiva de quando isso (a pandemia) vai terminar ou, pelo menos, diminuir, é algo que me dá uma certa angústia”.

Elyohana, 21, sente que alguns dias são mais difíceis mas que tenta não se cobrar tanto para que consiga ficar bem. A estudante de psicologia fez um questionário com colegas, onde era uma atividade da faculdade, para avaliar como as pessoas estão se sentindo em relação a saúde mental. De acordo com Elyohana, a pesquisa “Ataque de Pânico no Contexto da Pandemia” tem mostrado que o ponto que mais tem visto é que as pessoas se sentem mal ao ler notícias sobre a doença que se espalhou.

A psicóloga Bruna Crhistina, 30, explica que possui pacientes que são estudantes e sofreram com o impacto das aulas remotas. “Muitos se sentem desmotivados, pois a maioria dos cursos não foram programados inicialmente para serem oferecidos EaD, então, a qualidade e a surpresa pelos módulos dessa forma deixam a desejar”, comenta. Ela também reitera a importância de manter o cérebro ativo durante a quarentena e criar novos hábitos.

Este impacto também afeta os professores, que reclamam da carga redobrada de trabalho com as aulas a distância. A professora de geografia, Fernanda Souza, 28, relata o estado da sua saúde mental com esse novo desafio na profissão. “Você fica muito abalado e muito muito estressado. É estressante ter pais cobrando, coordenação cobrando, é o dobro do trabalho”. A carga de trabalho dos professores aumentaram com a adaptação repentina feita com o uso da tecnologia para continuar os estudos. Profissionais relatam que o trabalho em casa tomou mais tempo do que antes devido ao confinamento.

Fernanda é professora de geografia do ensino fundamental 2 e do ensino médio e lida com dois ambientes para lecionar diferentes. Ela explica que tem trabalhado mais leitura com os alunos do fundamental e questões dos livros enquanto com o ensino médio, trabalha com questões e conteúdos de vestibulares para prepará-los aos exames no fim do ano.

“Como professor de presencial, tem sido muito mais cansativo que o normal porque eu preciso acordar mais cedo para ver se a internet está funcionando ou não, separar correção das atividades porque é impossível corrigir as atividades por ditado. Na aula online, acredito que demanda muito mais tempo e é muito mais cansativo pro professor, muito desgastante pois são aulas online, não é uma plataforma EaD”, relata Fernanda.

Problemas Técnicos

O uso das ferramentas tecnológicas antes da quarentena eram pequenos comparado com o modelo atual de ensino. Este novo meio de estudo não estava nos planejamentos das instituições e foi um choque tremendo para todos. “Nas primeiras semanas as atividades foram mais intensas em função da adaptação ao novo modelo, com a apropriação dos recursos tecnológicos e reestruturação dos cronogramas”, diz Mara, professora de psicologia.

“O maior obstáculo ao meu ver é a questão da internet que nem sempre tá fluindo bem, as vezes cai a net e isso dificulta um pouco”, Fernanda comenta. A professora também relata que o e-mail virou ferramenta de amparo para os alunos e que o modo de corrigir os deveres foi adaptado pois não é possível corrigir na chamada com os alunos como seria na aula.

Os professores têm realizado as aulas remotas por meio aplicativos de vídeo chamada, como o Google Meets e o Zoom, e as atividades têm sido feita pelos computadores. Esse formato trouxe o debate de como esse método seria acessível já que nem todos possuem acesso. Bárbara relata que uma das partes negativas do ensino a distância é essa questão de que nem todos têm acesso a internet.

A professora de psicologia, Mara, ainda acrescenta, “penso que isto impactou o aprendizado no sentido de que descobrimos habilidades que desconhecíamos e também passamos a valorizar situações que antes não eram tão destacadas, como as trocas e discussões presenciais tão importantes na nossa área”.

A estudante Maria Eduarda, 29, aponta que as aulas remotas vão além de apenas possuir um computador e acesso a internet. “Vai além dos equipamentos e materiais, não adianta ter material pra estudar se você precisa trabalhar pra ajudar sua família que perdeu emprego por conta da crise. Como uma pessoa vai se concentrar morando em uma casa com mais, não sei, talvez 3 ou 4 pessoas, sem ter um espaço onde possa ficar sozinha pra poder ter o silêncio necessário para realizar as tarefas?”, questiona.

Presente

A participação dos pais na vida escolar resulta em melhores notas, segundo relatório de fevereiro de 2016 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Entretanto, esta não é uma realidade comum nas escolas, onde professores reclamam da ausência dos pais na vida escolar dos filhos.

A professora Fernanda relata que um dos obstáculos que têm enfrentado na adaptação das aulas tem sido os pais. “Outro obstáculo é o julgamento dos pais, eles não tinham tanto contato, não iam na escola e agora tem que assistir às aulas com os filhos e eles criticam muito todos os professores em todos os sentidos. O que mais pesa é essa presença do pai de uma maneira crítica desconstrutiva”, explica.

Ela completa e diz que este comportamento dos pais tem tido um pouco de impacto na sua saúde mental pois sua vida mudou totalmente e esperava compreensão neste momento delicado. A cobrança da instituição, a preocupação com as aulas e a carga emocional das críticas constantes transformam as aulas remotas num desafio aos professores que precisam seguir este modelo.

“Em relação a saúde mental, tem dias que a gente fica um pouco mais animado, tem dias que fica um pouco mais desanimado e quando você recebe uma das críticas desconstrutivas que falei anteriormente, você fica muito abalado e muito estressado”, finaliza.

 

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