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Brasília

Um mundo pequeno demais para duas muletas

A deficiência física de Luiz Thadeu não é obstáculo para sua disposição. Ele já visitou 140 dos 193 países existentes no mundo. E se prepara para completar sua volta ao globo

Marcus Eduardo Pereira

11/10/2019 5h31

De muletas, Luiz Thadeu viajou mais de 140 paises. Veio a Brasilia para ser o primeiro brasileiro com mobilidade reduzida a ir para a Antartida. A negociacao com a Marinha acontece nesta sexta-feira (11).Foto: Vitor MendoncaData: 10-10-2019

A volta ao mundo com muletas

Luiz Thadeu já conheceu 140 países com as “companheiras de viagem”. O próximo passo é o sétimo continente: a Antártida

 

Vítor Mendonça
[email protected]

O Planeta Terra abriga, atualmente, mais de 7 bilhões de pessoas em seis diferentes continentes. São 193 países reconhecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), dentre os quais Luiz Thadeu Nunes e Silva, de 60 anos, já visitou 140. O maranhense aposentado, que tem a mobilidade reduzida por um acidente sofrido em 2003, pode ser a primeira pessoa com limitações motoras a ir para o sétimo continente do mundo: a Antártida.

Dentro dos padrões da Marinha do Brasil, só quem pode visitar o país ou é jornalista ou é pesquisador ou está à serviço da própria Marinha. Eu seria o primeiro a cumprir o feito”, disse o empolgado viajante. O homem chegou a Brasília na última quarta-feira (9) para tentar negociar a ida com a corporação a fim de realizar mais uma parte do sonho que nutre há dez anos: ser a primeira pessoa portadora de necessidades especiais a viajar por todos os países do mundo.

O chamado globetrotter, ou viajante do mundo, já é o brasileiro mais viajado do globo terrestre com mobilidade reduzida. O título, segundo ele, lhe possibilitou uma homenagem dos Correios pelo feito. Está previsto um selo com uma foto de Luiz em uma das viagens que fez, caminhando com as muletas. Formado em Engenharia Agrícola, o servidor público aposentado costuma dizer:

“Na Terra, aproveite enquanto ainda está em cima dela, ainda em vida.”

Acidente

Em 2003, Thadeu sofreu o acidente que o levou a usar as muletas. Enquanto viajava numa estrada no interior do Rio Grande do Norte, o motorista do táxi que havia locado se distraiu ao atender um telefonema. Com a ação, o taxista perdeu o controle do carro e o veículo colidiu de frente com um caminhão.

“Tive uma fratura exposta de fêmur e foram 43 cirurgias na minha perna. Foram quatro anos sem conseguir andar”, relembra.

No período de recuperação, Thadeu precisou usar fixadores externos (pinos de carbono ligados ao membro fraturado) para preservar o osso e completar o tratamento. Depois passou a usar uma cadeira de rodas por um tempo menor.

“Um cara que não anda durante quatro anos tem muito tempo para pensar. Achei que ia ficar dependendo da minha esposa, dos meus filhos, cuidadores, etc”, relatou.

Foi em uma viagem para fora do Brasil, após a recuperação e já com o auxílio de muletas, que Luiz Thadeu deu início ao sonho que começou a construir desde 2009. “Meus filhos estavam fazendo um curso de inglês em Dublin, na Irlanda quando fui ao encontro deles. Esta foi a primeira vez que eu saí de casa de muletas e durante dois meses andei por oito países na Europa”. Desde então a lista de países visitados aumenta a cada ano.

Até o ano que vem, Luiz planeja acrescentar mais 23 países na lista dos que já viajou. “Eu sou o rei das promoções”, afirmou. “É mais barato viajar fora do Brasil do que dentro dele”. A partir das ofertas, o homem consegue fazer as viagens que precisa para realizar o sonho, além de também aproveitar para ir aos países que já conheceu. A meta é cumprir os países do mapa terrestre em 60 meses. Para o projeto destes cinco anos, se prepara há dois.

“As pessoas me fascinam”

O viajante Luiz Thadeu não se considera um turista nos países que viaja. “Eu sou viajante, não sou turista. Turista vai para os passeios comuns, já agendados. Não que eu não goste, mas eu prefiro comer onde o nativo come”, explicou.
“O que mais me fascina é isso: são as pessoas. Eu cruzo o mundo todo e sento num café num final de tarde em qualquer lugar da Terra para olhar como é que as pessoas vêm do trabalho, como é o cotidiano delas”, complementou. Amante de novas culturas, a Ásia é o continente que mais gosta de conhecer, justamente pelo choque entre as culturas oriental e ocidental. “É completamente diferente da nossa realidade aqui no Brasil.”

A mobilidade reduzida de Luiz poucas vezes se mostrou um problema, segundo ele. “Nunca nem caí nas minhas viagens”, afirmou. A situação que mais se mostrou limitadora foi nas Filipinas, quando, em decorrência do trânsito atabalhoado, precisou de ajuda para atravessar a rua. “O tráfego era tão intenso que eu tive de levantar a minha muleta e esperar que o guarda me visse na via. Ele veio até mim e fez o trânsito parar. Não conseguiria se não fosse ele.”

Economia nas passagens

“Eu não escolho as viagens, elas que me escolhem”, costuma dizer. “Elas me escolhem pelo preço, pelo valor. Para a Rússia, por exemplo, fui na época do frio porque na época do verão a passagem era cinco vezes mais cara do que no período que eu queria, então tive de me adequar.”

Dicas do viajante

Para quem pretende começar a vida de viajante e tirar da gaveta alguns projetos para conhecer novas culturas, o globetrotter dá algumas dicas.
Entrar nos sites ou aplicativos de promoções de passagens aéreas. “Todos os dias ou pelo menos duas ou três vezes por semana tem promoções para diferentes destinos.”

Sempre olhar calendários. “O viajante viaja em qualquer tempo que ele tenha, então é bom adequar feriados e outros períodos de folga às passagens”

Se programe com antecedência. “Mesmo que você ainda não tenha um roteiro, comece a comprar a moeda estrangeira, de preferência dólar ou euro. Quando chegar o momento, você não precisa pagar o câmbio do dia”

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