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Brasília

Tupi-guarani virtual: “ensinar a língua é ato de resistência”, diz professor

O professor Luã Apyká, da comunidade Piaçaguera, no litoral sul de São Paulo, defende a necessidade de divulgar a língua originária no Brasil

Agência UniCeub

14/08/2020 6h34

Geovanna Bispo
Jornal de Brasília/Agência UniCEUB

Aguydjeweté. A expressão em tupi-guarani pode ser traduzida para o português como um “ato de resistência”.  É assim que o professor Luã Apyká, da comunidade Piaçaguera, no litoral sul de São Paulo, defende a necessidade de divulgar a língua originária no Brasil como forma de chamar atenção para a situação dos indígenas.

Luã questiona a preferência e valorização do aprendizado de línguas não-nativas pelo povo brasileiro. “Por que não nos conectamos com uma língua nativa? E sempre valorizarmos as europeias? Todos sabemos que existem vários vestígios da nossa língua na língua portuguesa falada hoje por causa da mistura e é muito importante que reconheçamos e valorizemos as 270 outras línguas que se têm espalhadas pelo Brasil.”

O professor explica que  o tupi-guarani não é uma língua “única”, mas uma família de mais de vinte idiomas, que o incluem o Tapirapé, Kamayurá, o Parintintin e o tupi antigo (a mais estudada e a que mais influenciou na formação da cultura brasileira).

De acordo com o professor, a língua é uma forma de empoderamento e faz parte da identidade dos povos indígenas, transmitindo valores e proporcionando uma reconexão com seus ancestrais e a natureza. “A língua tupi-guarani é muito importante para nós porque faz parte da nossa identidade. A nossa língua transmite valores específicos e a língua tupi-guarani é ancestral, muito antiga, onde conseguimos uma reconexão muito profunda com o nosso modo de vida, com a natureza, com o coração e com o universo. A relação com o contato e a transmissão de conhecimento de geração em geração. É uma forma de transmitir o que conhecemos através dos valores ancestrais.”

Desaparecimento

Luã ainda conta que antes da colonização havia cerca de duas mil línguas indígenas no Brasil e  que, a cada ano, esse número diminui, de forma que hoje sua comunidade passa por diversos processos e atividades de revitalização linguística. “Aqui no clã, no nosso território, temos diversas atividades de revitalização linguística, trazendo nossa reconexão com nossas práticas a qual foi muitas vezes ocultada”. Ele explica que, antes da colonização, existiam mais de duas mil línguas. Hoje, restaram 270, que estão em processo de desaparecimento. “Acredito que nenhum povo gostaria de parar de falar sua língua. Hoje nos movimentamos com muitas articulações e projetos de reviver e falar ‘Estamos aqui, vivos.’ Hoje, se existimos e resistimos, é fazendo muitos trabalhos de revitalização, fortalecimento da língua e da fala, onde muitos valores e potências dos nossos espíritos ancestrais são trazidos e fortalecidos através das práticas”.

Em documento elaborado pelo professor que conta um pouco da história e cultura dos povos originários, quando os portugueses chegaram a “Pindorama” -o nome dado pelos povos originários ao que um dia se tornaria o Brasil- eles logo encontraram os Tupi-guarani, a tribo mais numerosa e poderosa da época, que se dividiam em grupos menores e ocupavam todo o território até o Paraguai. A palavra “tupi” significa “o grande pai” ou “líder” e “guarani” significa “guerreiro”.

Para divulgar a língua, o professor ministra um curso on-line (em função dos tempos de pandemia) e fará nova turma a partir do dia 19, todas as quartas-feiras. Ele promete um preço simbólico e diz que negocia o valor (que é usado para ajudar a aldeia) por whatsapp (13.99642.5688). “Acredito que o curso veio pela necessidade de descolonizar nossa mente, fala e espírito, além de ampliar e ocupar, como formas de resistência”. O curso, que existe há dois anos, era realizado presencialmente em São Paulo. A pandemia possibilitou que ele espalhasse a ideia pela internet. 

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