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Brasília

Tumulto leva à prisão de dois policiais civis durante Marcha das Mulheres Negras

Arquivo Geral

18/11/2015 16h09

Uma confusão no início da tarde de hoje causou pânico e terminou com a detenção de dois policiais civis no momento em que a Marcha das Mulheres Negras chegava à Praça dos Três Poderes. Segundo relatos de participantes da marcha, algumas mulheres teriam tentado derrubar um boneco inflável que estava em um acampamento em frente ao gramado do Congresso Nacional. Um policial civil do Maranhão, que está acampado com o grupo que pede intervenção militar, deu quatro tiros para o alto e se entregou à polícia. Durante o tumulto, um policial civil do DF também deu tiros para o alto e foi detido, segundo a Polícia Militar.
 

Durante a confusão, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que participava da marcha de mulheres, foi atingido por gás de pimenta – usado pela Polícia Militar para afastar as pessoas. “A polícia chegou e protegeu os integrantes do acampamento. Eles jogaram gás de pimenta na gente. É impressionante como até a atitude da polícia é racista. Os dois lados erraram, mas a polícia foi terrível”, afirmou uma participante da marcha que não quis se identificar.
 
Poucos minutos depois e com os ânimos ainda exaltados, um grupo de mulheres se colocou diante de um carro particular em frente ao Ministério da Justiça. As manifestantes acusavam a motorista de não respeitar o protesto e de invadir uma das faixas destinadas às mulheres.
 
“A motorista jogou o carro em cima da companheira. Todas essas violências que aconteceram aqui na Esplanada dos Ministérios foi só uma amostra do que acontece no nosso dia a dia”, afirmou Verônica Lourenço, 45 anos, historiadora, educadora e integrante da Rede Sapatá (Rede Nacional de Lésbicas e Bissexuais Negras).
 
Após o tumulto, a marcha seguiu em direção ao Ginásio Nilson Nelson, de onde partiu na manhã de hoje.
 
Mais informações

A 1ª Marcha Nacional das Mulheres Negras reuniu cerca de 10 mil pessoas nesta quarta (18), nas Esplanada dos Ministérios. Mulheres de todo o país vieram à marcha para lutar contra a violência, a discriminação e o racismo, entre outras pautas como o reconhecimento das parteiras tradicionais e a defesa das terras quilombolas e indígenas.

“O que está acontecendo hoje não é uma manifestação de 2015, é uma manifestação histórica, por exigência de igualdade de gênero e raça. A gente sabe, a partir de dados de vários institutos de pesquisa, que a mulher negra é colocada num lugar de inferioridade”, afirma a estudante de geografia Tais Teles, 28 anos. Ela veio em uma caravana que trouxe diversos coletivos de mulheres do oeste paulista.

A deputada Janete Capiberibe (PSB-AP) disse que se juntou ao movimento para lutar contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC 215), contra a discriminação das mulheres negras no Sistema Único de Saúde (SUS) e a favor do reconhecimento das parteiras tradicionais.

“A mulher negra sofre na saúde, nos atendimentos do SUS. Os médicos não olham essas mulheres, principalmente os ginecologistas e obstetras. E a marcha também apoia o projeto das parteiras tradicionais, para regulamentar a sua atividade e definir um salário para essas mulheres que estão nas comunidades longínquas, onde nenhum profissional da saúde chega”, disse.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215/2000 transfere do Poder Executivo para o Congresso Nacional a prerrogativa de demarcações das terras indígenas, quilombolas e de unidades de conservação.

A deputada Maria do Rosário, que já foi ministra da Secretaria de Direitos Humanos, disse que a marcha ocorre em um momento importante de mobilização das mulheres em prol de direitos.

“Essa marcha acontece em um momento de retrocessos na lei que trata da violência contra mulheres, através do Projeto de Lei 5069, que trata as vítimas de estupro como um caso de delegacia, obrigando as mulheres a irem à delegacia, antes de serem atendidas no sistema de saúde”, disse.

Presente à marcha, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) defendeu maior atenção às mulheres negras com mais de 60 anos. “Nós nascemos e queremos garantir a vida depois do nascimento. Nós nos tornamos jovens, adultas e envelhecemos. Queremos envelhecer com dignidade, respeito. Temos o Estatuto do Idoso, mas queremos que este estatuto tenha um recorte racial. Se somos maioria, envelhecemos também em maioria”.

Dados do último Censo (2010) indicam que as mulheres negras são 25,5% da população brasileira (48,6 milhões de pessoas) e são as maiores vítimas de crimes violentos. De 2003 para 2013, o assassinato de mulheres negras cresceu 54,2%, segundo o Mapa de Violência 2015: Homicídios de Mulheres no Brasil. No mesmo período, o índice de assassinatos de mulheres brancas recuou 9,8%, segundo o estudo feito pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), a pedido da ONU Mulheres.

Veja vídeos do conflito:

 

 

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