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Brasília

Três mulheres e o mesmo destino: atacadas em casa pelos maridos

Arquivo Geral

19/03/2018 7h00

Foto ilustrativa/Myke Sena/Jornal de Brasília

Jéssica Antunes
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Edna não queria sexo e foi incendiada. Mary Stella estava se separando do marido que teria casos extraconjugais e levou tiros. Romilda também queria pôr fim à relação e foi morta com disparos de arma de fogo. As três mulheres não se conheciam, mas se encontram nas estatísticas: tiveram como algozes os próprios companheiros, têm mais de 30 anos e foram feridas em casa, como a maioria das vítimas de feminicídio tentado ou consumado do DF. Somente uma delas está viva, mas em estado grave: a própria Edna. É ao menos o quarto caso no mês.

As chamas que queimaram 75% do corpo de Edna Maria de Jesus, 43 anos, também atingiram o esposo, Nivaldo dos Santos, 46 anos, que saiu ainda mais ferido que ela, com 90% da pele afetada. O casal está internado em estado grave e as fuligens agora compõem o cenário de casa, repleta de materiais inflamáveis, na QNQ 4 de Ceilândia – cidade com maior número de casos de feminicídio tentado e consumado.

Na manhã deste domingo (18), o homem pegou um galão com gasolina, jogou na esposa e ateou fogo por ela ter recusado sexo na noite de sábado e manhã de domingo. As discussões se estenderam após a mulher impedir que ele fosse à Feira do Rolo. A Polícia Militar foi acionada para a ocorrência de violência doméstica e se deparou com a mulher gravemente ferida na calçada.

“Quando chegamos, populares indicaram a direção para onde o suspeito havia fugido. Ele assumiu que pegou gasolina, jogou no corpo dela e eles entraram em uma briga. Não se sabe como o fogo iniciou”, afirmou o tenente Luciano Lino, do 10º Batalhão da PMDF.

O suspeito tentou fugir após o crime, mas foi capturado a cerca de 70 metros da residência, onde eles moram há dois meses. No entanto, bastante ferido, Nivaldo não conseguiu correr.

Fuligem e móveis queimados compõem a cena do crime. Foto: Myke Sena/Jornal de Brasília

Surpresa

O casal foi socorrido e levado em estado grave ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Um irmão da vítima afirmou que o casal nunca havia relatado problemas. Na vizinhança, ninguém diz ter visto discussões anteriores. “É inimaginável. Nunca soubemos de nenhum problema entre os dois. É um casal tranquilo”, diz o corretor de imóveis Antônio Magalhães, 53 anos, irmão de Edna.

Ele soube do ocorrido nas primeiras horas da manhã. Se dizendo surpreso, ele afirma que conversou com a mulher, que indicou que o marido estava nervoso. Eles não têm filhos juntos. Edna trabalha como vendedora de móveis usados, carros e terrenos. “É trabalhadora, os dois são. Não dá para engolir o que aconteceu”, desabafa o irmão.

O caso será apurado pela 19ª Delegacia de Polícia, no P Norte, e foi registrado como tentativa de feminicídio, tentativa de homicídio e incêndio.

Ao menos quatro vítimas dos parceiros neste mês

Somados, os casos de feminicídio tentado e consumado no Distrito Federal cresceram 115% no ano passado. Em 2016, foram 20 assassinatos e 18 sobreviventes. Em 2017, os números saltaram para 19 e 82, respectivamente. Nos dois casos, segundo números da Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social (SSP-DF), a maioria das vítimas têm acima de 30 anos e é alvo dentro da própria casa. Nos últimos dois anos, o mês de março teve ao menos quatro mulheres mortas e outras quatro feridas.

O caso de Edna aconteceu exatamente dois dias após o piloto metroviário Júlio César dos Santos Oliveira, 38, atirar contra a esposa Mary Stella Maris Gomes Rodrigues dos Santos, 32, e depois se matar, na QNN 4, também em Ceilândia. O filho do casal de dois anos presenciou o crime e a mulher chegou a pedir socorro antes de ser morta. O histórico do casal não era tranquilo. Eles teriam se separado e estavam em processo de reconciliação, mas as brigas começaram a ficar mais intensas, segundo a vizinhança. Os dois foram enterrados neste fim de semana.

Dez dias antes, em 6 de março, o vigilante Elson Martins da Silva, 39 anos, matou a tiros a esposa e servidora pública, Romilda Souza, 40. A execução ocorreu no apartamento da família, no terceiro andar do Bloco C, na SQS 406. Os filhos do casal, de 3 e 4 anos, estavam com a avó materna no mesmo apartamento, mas não presenciaram a cena.

No início do mês, Sandra Braga, 37 anos, foi espancada e deixada para morrer pelo homem que era seu companheiro há mais ou menos dois anos, na QI 11 do Guará. Antes de abandonar o local, Márcio do Nascimento Braga, 36, teria ateado fogo no corpo da mulher, que ainda estava viva. Cinco horas após o crime, ele foi preso em flagrante por ser a principal suspeita do feminicídio. Ele nega, mas a polícia não tem dúvidas, embora não saiba a motivação.

Saiba mais

Desde 2015, o homicídio contra mulheres por razões da condição de sexo feminino é tipificado como feminicídio. A Lei 13.104, que completou três anos neste mês, alterou o Código Penal para incluir esta como mais uma modalidade de homicídio qualificado.

O feminicídio acontece em dois casos: quando há violência doméstica e familiar, e quando existe menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Ainda não foram disponibilizados os dados em relação ao crime neste ano.

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