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Brasília

Tatuador tinha planos de matar

Ex-namorada que denunciou José Messias revela que, por medo da polícia, homem iria assassinar sua atual companheira. Tortura durou 18 dias em Ceilândia

Redação Jornal de Brasília

13/01/2020 6h20

José Messias Alves

“Estou com essa demônia aqui”

Ex-namorada revela que José Messias ia matar a vítima na última sexta-feira, dia em que foi preso

Pedro Marra e  Willian Matos
[email protected]

Dois vídeos disponibilizados à 15ª Delegacia de Polícia (DP), de Ceilândia Centro, revelam detalhes assustadores do tatuador José Messias Alves, 37 anos, que torturou a namorada durante 18 dias, em Ceilândia, desde o dia 24 de dezembro até a última sexta-feira. Em coletiva de imprensa, o delegado da unidade, Gutemberg Santos Morais, relata que nas gravações, ele bate nela com uma faca, e diz “olha o que eu faço com ela” e “feliz Ano Novo”. “Ele ainda mostrou o sangue no chão e disse ‘estou com essa demônia aqui’”, detalha.

Segundo o delegado, a ex-namorada do agressor fez a denúncia contra ele em Cidade Ocidental (GO), onde mora. “Ela recebeu alguns vídeos por parte do agressor, e se compadeceu com a situação da vítima. Nas mensagens em que ela nos apresentou, mostra ela falando ‘não se faz isso com a mulher, você está sendo covarde’. O agressor solicitou a ajuda da ex-namorada, a quem ele considerava amiga. José mandou mensagem para ela dizendo ‘se puder me ajudar, vem para Brasília’. Ela viu como uma oportunidade de vir para denunciá-lo e apresentar a situação para a polícia”, conta Gutemberg.

O tatuador teve a prisão convertida de temporária para preventiva na manhã de ontem, durante audiência de custódia no Tribunal de Justiça do DF (TJDFT). O juiz substituto do Núcleo de Custódia, Felipe Figueiredo de Carvalho, considerou o histórico criminal do réu para sentenciar o crime. O homem está preso e deve ser indiciado pelos crimes de tortura, ameaça e cárcere privado, cuja pena pode chegar a 16 anos de prisão.

Em depoimento, José Messias disse à polícia que as lesões da vítima seriam decorrente de uma briga entre a ex e a atual companheira. “Ele entrou na delegacia gritando e dizendo que não teria feito nada com ela. Foram mais de duas horas de oitiva policial com os envolvidos no caso”, diz Gutemberg.

Espanto

Em entrevista ao Jornal de Brasília, a ex-namorada do tatuador contou que a intenção dele era matar a vítima na sexta-feira, mesmo dia em que acabou preso. “Ele falava nos áudios que me enviava que ia matar ela porque a polícia estava atrás dele”, revelou a jovem. “Ele postava no status do whatsapp dele chamando ela de vadia.”
A ex-namorada revelou que reagiu com espanto aos vídeos enviados a ela por José Messias. “A gente não pode aceitar uma covardia dessa. Eu sabia que não ia acabar bem. Eu não ia ver acontecer um fato desse e acobertar”, contou ela que foi a responsável por denunciar o tatuador.

Sem comer e beber

Vítima acumula hematomas por todo o corpo. Foto: Reprodução

A vítima relatou à polícia que o namorado a agredia diariamente no cárcere privado. “Inclusive, ela relata que ficou dois dias sem comer e beber (25 e 31 de dezembro). Ela nos disse que ele a torturava com qualquer tipo de instrumento que tinha na residência, desde cadeira, copo, pedaço de pau, ferro, tudo que ele via pela frente”, informa o delegado da 15ª DP.

O tatuador já tinha passagens pela polícia por homicídio, sequestro e roubo. José Messias cumpriu nove anos de prisão e, há dois, estava em liberdade.

Gutemberg alega que a investigação está longe de se esgotar. “Essa semana será muito importante porque iremos procurar mais informações e envolvidos”, diz.

Vítima viveu dias e noites de terror

Desde o dia 24 de dezembro de 2019, José Messias mantinha a namorada em cativeiro na casa onde moravam, na Ceilândia. A vítima, muitas vezes nua, amarrada e amordaçada, era agredida diariamente com socos, chutes, facas e barras de ferro, por 18 dias seguidos. José Messias fazia ameaças e dizia que se algum vizinho escutasse qualquer barulho, ele arrancaria a cabeça da mulher e jogaria pela varanda.

No dia 31 de dezembro (ou no dia 30 — a vítima não soube afirmar com certeza por conta dos traumas vividos), a mulher teve de voltar ao trabalho. O homem, então, permitiu que ela voltasse para que ninguém sentisse a ausência, mas ameaçou: se alguém ficasse sabendo das agressões, ele a mataria. Neste dia, o agressor ainda rondou o local de trabalho da vítima para impedir que ela tentasse uma fuga ou algo semelhante.

Por conta da presença de policiais próximos à casa, o homem decidiu levar a vítima para a casa da irmã, localizada na QNP 26, também em Ceilândia. Segundo a mulher agredida, a irmã do agressor disse a ela que enquanto eles estivessem ali, ela estaria livre das barbáries. Não estava.

Encurralado, ele ordenou que as duas deveriam mentir aos militares sobre as marcas de agressão. A orientação era falar que a vítima havia apanhado em uma festa, e por isso os hematomas. A mulher agredida, amedrontada, começou a inventar os fatos. Neste momento, a ex-namorada do agressor, que estava com a vítima no momento da conversa com os policiais, decidiu incentivar a vítima a contar tudo que aconteceu.

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