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Brasília

“Suspensão do fornecimento de refeições prejudica a vida de quem recorre à saúde pública do DF”, diz Osnei

“A Secretaria de Saúde informa que, em atendimento à determinação do Governador Ibaneis Rocha, rescindirá o contrato com a empresa Sanoli”

Pedro Marra

22/01/2020 6h54

Na tarde de ontem, o Governo do Distrito Federal (GDF) anunciou a rescisão contratual com a Sanoli — empresa de alimentação hospitalar — devido ao “prejuízo à Saúde do DF”. É o que diz a nota da Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) sobre a crise que a empresa passa nos últimos três meses de greve dos funcionários sem receber salários e benefícios trabalhistas.

“A Secretaria de Saúde informa que, em atendimento à determinação do Governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha, rescindirá o contrato com a empresa Sanoli. A empresa vem descumprindo o contrato e trazendo prejuízo à Saúde do DF e, por isso, buscará, de forma legal, a rescisão”, diz o texto.

No fim da tarde de ontem, O secretário de Saúde, Osnei Okumoto, em despacho, justificou a rescisão contratual com a Sanoli alegando que “a suspensão do fornecimento de alimentação aos servidores e acompanhantes legais configura infração grave ao contrato vigente”. No documento, Okumoto diz que é evidente o dano causado pela irresponsabilidade da Sanoli por prejudicar diretamente a vida dos usuários da rede pública de saúde do DF.

Em entrevista ao Jornal de Brasília, Okumoto, afirmou que a empresa foi notificada da rescisão, mas continua atendendo. “A Sanoli terá o direito ao contraditório”, diz. Se precisar abrir um edital emergencial, Osnei adianta que a SES-DF tem como suprir a necessidade.

“Temos empresas contratadas que podem usar o percentual de aditivos. Há uma necessidade de continuarmos com atendimento”, acrescenta o secretário.

Okumoto explica o que causou a rescisão em meio à crise da Sanoli. “Desde novembro, a Sanoli solicitava os pagamentos. Estamos com o pagamento em dia, e tínhamos as notas das nossas unidades atendidas pela Sanoli. Quando chegava na Secretaria, a gente pagava 30 dias antes. Mesmo fazendo os pagamentos com antecedência, sempre recebíamos as ameaças de paralisação por parte da empresa. Notificamos a Sanoli na última sexta-feira para que retomasse as atividades normais para atender os pacientes, acompanhantes e funcionários de plantão”, explica.

Até a publicação desta matéria a Sanoli alegava não ter recebido nenhuma notificação do GDF a respeito. A assessoria de imprensa da empresa afirma que soube da rescisão pelo noticiário. Apesar disso, o serviço não será interrompido porque o contrato está em vigor. “A empresa não vai se manifestar em relação ao assunto, e até o momento, não foi notificada oficialmente”, informa.

Greves constantes

Os cerca de 2,5 mil funcionários deram início a uma greve nas últimas semanas por falta de pagamento. A empresa alega que não pagou os trabalhadores por não ter recebido cerca de R$ 42 milhões da Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) desde 2014, valor referente a uma atualização financeira dos valores da data-base dos funcionários.

Sobre a acusação, a secretaria de Saúde diz que as cobranças são indevidas até que a Justiça determine o pagamento. “Essa cobrança não pode ser paga pela pasta sem uma decisão judicial favorável à empresa”, finaliza o orgão.

No olho da rua e sem verbas rescisórias

A ex-copeira da Sanoli no Hospital de Base, Anne Caroline da Silva, 31 anos, não recebeu os benefícios após ser demitida pela empresa no dia 6 de dezembro do ano passado. Nos cinco anos de empresa, ela diz que sempre teve atrasos salariais. “A Sanoli me deve férias, FGTS, seguro-desemprego. E toda vez que ligo lá, ninguém sabe informar nada. Fui lá uma vez para pegar a carteira de trabalho, deram baixa no dia 4 de janeiro, e desde então, não tenho resposta”, relata Anne.

Moradora de Valparaíso, a ex-funcionária conta as dificuldades que tem passado enquanto desempregada. “Minha família está me ajudando a pagar prestação da minha casa, contas de água e luz atrasada. Fora outras coisas como: comida, taxa de condomínio, van escolar da minha filha, porque moramos longe do colégio”, explica.

A também ex-copeira da Sanoli no Hospital de Base, Thalita Cristina, 33 anos, passa pela mesma situação. Ela foi dispensada no dia 6 de dezembro de 2019 sem justa causa, e cumpriu aviso até o dia 28 do último mês sem precisar ir ao trabalho. “No dia 8 de janeiro, estava marcado para fazer o acerto no sindicato. Mas antes disso, me ligaram e desmarcaram. Até hoje eu aguardo retorno do RH”, protesta.

Moradora do Jardim Ingá – bairro no Entorno do DF – Thalita diz que foi pega de surpresa com a demissão. “A minha geladeira está vazia. É um sentimento de desespero, porque vejo o meu filho pedindo as coisas e não tenho”, lamenta.

Maria do Carmo de Souza, 35 anos, ligou três vezes para o RH da Sanoli ontem para exigir pagamento. Ela, que também era copeira do Base, foi demitida no dia 6 de dezembro. “Nos chamaram para cumprir o aviso em casa até o dia 28. No dia 6 de janeiro, era para voltarmos à empresa com o nosso exame demissional. Nesse dia, perguntaram para mim se eu queria deixar a carteira de trabalho com eles ou no sindicato. No dia seguinte, entraram em contato dizendo que deram baixa na nossa carteira de trabalho, mas não me pagaram”, denuncia.

A ex-funcionária denuncia ainda que a empresa deve a ela quatro meses de FGTS de um período anterior em que ela trabalhou na Sanoli, em 2016. “A gente entra em contato com a empresa e não temos resposta. Hoje (ontem) liguei três vezes, e dizem que diretores estão em reunião, e falam para a gente ‘ver daqui a pouco’”, descreve.

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