Menu
Brasília

Suicídio: cresce o número de mortes de crianças e adolescentes

Arquivo Geral

21/06/2018 8h07

Foto: Kléber Lima/Jornal de Brasília

Rafaella Panceri
[email protected]

Crianças e adolescentes foram os que mais cometeram suicídio nos últimos anos. No Brasil, as mortes na faixa etária de 10 a 14 anos cresceram 65%. Entre o público com idade entre 15 e 19 anos, o aumento foi de 45%. Os dados são de 2015, cedidos pelo Ministério da Saúde à Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, e acendem sinal de alerta entre as famílias e a comunidade escolar. Ontem, o JBr. mostrou que houve 800 tentativas de suicídio no DF somente neste ano.

Na adolescência, os indivíduos experimentam uma fase de vulnerabilidade. “Em relação ao bullying e a pressões sociais. As redes sociais motivam aumento de ansiedade e até de depressão, seja por comentários maldosos ou boatos, que viralizam”, contextualiza o psiquiatra Mario Louzã, membro do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise (SBP-SP).

As redes também podem afetar a autoestima nos detalhes. “Como quando um jovem percebe que publicações de colegas têm muito mais curtidas do que as dele”, exemplifica. Para a doutora em psicologia pela UnB Beatriz Montenegro, a fase é de conflito de identidade e transformação do corpo, o que pode colocar a saúde emocional em risco. “A relação entre faixa etária e patologias não é direta”, destaca, e afirma que os pais devem manter um canal de comunicação aberto, para que os filhos possam recorrer quando necessário.

Jornal de Brasília

Superação da angústia

Aos 16 anos, uma mulher de 23 anos tentou se suicidar. Hoje, ela é professora de idiomas e relembra o episódio. Após tomar uma porção de comprimidos, ela ficou desacordada e acordou vomitando. “Hoje me arrependo. A vida é sobre tentativa e erro. Você não precisa se fechar para o mundo se algo der errado. É só abrir os olhos e você encontra pessoas com quem se relacionar”, aconselha.

A solidão, aliada a problemas familiares, fez a depressão piorar. “Ao mudar de sala no segundo ano, fiquei sem amigos. Comecei a me fechar, sofrer bullying. Enquanto isso, meu avô estava com câncer e eu não tinha contato com meu pai. “Até o fato de ir à escola me gerava ansiedade. Na cabeça de alguém instável emocionalmente, tudo é uma pressão. Eu não queria lidar com a escola, fazer escolhas ou resolver problemas. Estava desmotivada”, desabafa.

A professora diz que o tratamento com remédios antidepressivos piorou o estado emocional. “Cada remédio funciona de um jeito em cada pessoa. Antes de começar a tomá-los, sentia uma tristeza profunda. Depois que comecei, não sentia nada. É como se tivessem virado uma chave em mim. Não sentia sono, fome. Era como se eu estivesse parada, vendo as coisas acontecerem no mundo”, lembra.

Ela se considera curada da depressão. “Depois de tentar e errar muito, tenho uma carreira, um relacionamento saudável e bons amigos. Nessas horas, o importante é ter alguém que diga: ‘calma, vamos sair dessa juntos’”, finaliza.

Prevenção nas escolas públicas

A rede pública de ensino do DF começou a abordar o suicídio na grade curricular em 2017, após casos de morte entre adolescentes no País serem relacionados ao jogo Baleia Azul. Disputado pelas redes sociais, o game propõe desafios aos adolescentes — como automutilação e suicídio.

A diretora de serviços e projetos especiais de ensino da Secretaria de Educação, Jackeline Domingues de Aguiar, explica que o assunto gerou políticas públicas. No ano passado, a pasta lançou um vídeo, disponível no YouTube, para tratar o tema. “Reconhecemos a vulnerabilidade dos sujeitos e consideramos que falar sobre isso é importante, mas de maneira didática”, afirma.

O tema era recorrente nas escolas da rede e impactou a comunidade. “Isso é abordado ainda hoje em textos, murais e rodas de conversa”, garante a diretora.

Para a secretaria, o professor tem papel primordial para evitar mortes. “Deve estar atento ao comportamento. Caso verifique uma mudança brusca, que o aluno está mais retraído ou agressivo, deve acionar a família ou assistentes sociais”, explica.

Saiba mais

No Centro de Ensino Fundamental 10 de Ceilândia, o projeto Gentileza trabalha a saúde emocional dos estudantes desde o início do ano letivo de 2018.

Em um evento realizado na semana passada, os estudantes escreveram em pedaços de papel coisas que os incomodam em casa e na escola. Em seguida, colaram em um mural. “Queria mais atenção” foi uma das mensagens mais marcantes, segundo a diretora, Flávia Hamid.

O projeto terá um evento por mês até o fim do ano. Para a Secretaria de Educação, a iniciativa favorece que alunos e professores saibam como estão emocionalmente. “Para que possam se ajudar uns aos outros”, informou, em nota.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado