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Brasília

Servidores do grupo de risco se queixam das acomodações no Hran

Funcionários do aparelho denunciaram ao Jornal de Brasília que perderam as acomodações para trabalho e descanso depois da mudança na Superintendência da Região Central de Saúde

Olavo David Neto

10/02/2021 19h38

Atualizada 11/02/2021 0h56

De referência nacional no combate à covid-19 a pressão psicológica sobre colaboradores que compõem o famigerado grupo de risco na pandemia. Em pouco menos de um ano, o Hospital Regional da Asa Norte (Hran) viveu uma mudança drástica na estrutura interna. Funcionários do aparelho denunciaram ao Jornal de Brasília que perderam as acomodações para trabalho e descanso depois da mudança na Superintendência da Região Central de Saúde. Além disso, a troca na gestão também acarretou assédios morais para que idosos e pessoas com doenças crônicas abdiquem da condição para recompor o quadro da instituição.

Asmático, José* conversou com a reportagem e apontou falhas graves na relação profissional com o novo superintendente. “Depois que ele assumiu, houve Durante 11 meses nós ficamos num lugar destacado do hospital, sem contato com outras alas. Depois que mudou a Superintendência, começou uma perseguição aos servidores”, denuncia o enfermeiro. A chefia da Região Central de Saúde, cujo maior aparelho é o próprio Hran, é do dermatologista Pedro Costa Queiroz Zancanaro, que assumiu no final de janeiro.

A desocupação da sala ocorreu na última quinta-feira (4) e reacomodou os servidores em salas de aula localizadas no subsolo do hospital. Agora, segundo os relatos, os servidores do grupo de risco estão “num lugar insalubre, onde dividimos espaços com cadeiras e tivemos de readaptar tudo para fazer nosso trabalho”. A justificativa da alteração é o Centro de Referência Interdisciplinar em Síndrome de Down (Crisdown).

O núcleo atende 147 crianças diagnosticadas com a doença e estava funcionando no espaço no ambulatório e na parte de endocrinologia do Hran. Agora, as acomodações para funcionários mais suscetíveis à covid-19 geram insatisfação no quadro de servidores. “O banheiro é coletivo, o repouso é para homens e mulheres e, na realidade, o espaço não é nosso”, aponta José, explicando que, ao lado da sala de aula reservada para eles, é realizado o atendimento do serviço social para “pacientes que possivelmente estão com o coronavírus”.

Ele conta ainda que são 38 pessoas na escala de “seis por seis”, que dividem “um espaço mínimo”. Nas fotos encaminhadas ao JBr., é possível ver objetos pessoais enfileirados num estreito corredor, enquanto, pouco mais à frente, é realizado um atendimento. “Está muito difícil trabalhar, sem contar o assédio moral para com os servidores”, denuncia outra servidora. A prática, segundo as denúncias, parte da própria Superintendência.

“Começaram a fazer ameaças aos servidores dizendo que, se não abríssemos mão do grupo de risco, iriam nos redirecionar”, comenta José. A redistribuição se daria por meio da Subsecretaria de Gestão de Pessoas (Sugep).

“Muita cara de pau”

Contactada pela reportagem, a Secretaria de Saúde atestou a mudança de local, mas defende a atitude. “Os servidores da enfermagem mudaram de local (…) para permitir um melhor atendimento das crianças com síndrome de Down. Todos foram deslocados para uma área apropriada”, diz a nota. A pasta também classificou como “falsas, infundadas e irresponsáveis” as “supostas denúncias”, motivadas, segundo o comunicado enviado ao JBr., por “defesa de interesses corporativistas”. Segundo os gestores, “nenhuma reclamação de assédio moral chegou ao conhecimento da Superintendência justamento porque só existe como especulação”.

As respostas da SES geraram revolta em Olga*, auxiliar de enfermagem de 61 anos, hipertensa e que convive com artrite gotosa – a “gota”. “É muita cara de pau”, queixa-se. “O pessoal da Assistência Social passa por ?os, vão e voltam lá de cima [nas alas de atendimento a pessoas infectadas] com roupa suja dos pacientes”, explica a servidora.

Quanto à suposta ausência de reivindicações na mesa da Superintendência, ela é taxativa. “Não ocorre porque eles são novos lá; essa diretoria muda de 15 em 15 dias”, brinca a mulher. “Sempre teve reclamação, o tempo todo, de tudo, mas eles não estão nem aí para o servidor”, comenta. O atual superintendente completa hoje 13 dias à frente da Região Central de Saúde.

A servidora também lembra lembrando que as roupas dobradas pelo grupo de servidores na faixa de risco – alternativa ao teletrabalho negado à maioria – estão “velhas e rasgadas”. Sobre o assédio moral, Olga também mostra que as informações da SES não condizem com a realidade vivida pelos funcionários. De acordo com o relato, há pressões, sim, para o retorno de colaboradores às áreas de origem. Lotada originalmente no quarto andar, de caráter cirúrgico e tomado por pacientes diagnosticados com covid-19, a técnica de enfermagem recusa os pedidos dos superiores. “A minha chefe fica falando que é ‘só assinar um documento desistindo disso’. Eu não assino. Enquanto a secretaria não determinar, fico aqui do mesmo jeito”, garante.

A SES afirmou ainda que não tirou “ninguém do teletrabalho”. José, porém, atenta que a liberação para a prestação de serviços remota saiu antes da gestão de Pedro à frente do Hran. Uma junta de medicina do trabalho foi formada para analisar prontuários e receitas, mas “apenas alguns médicos foram liberados”. “Mesmo com isso, estão tentando intimidar os servidores nesse sentido. Vai ficar o mínimo de pessoas naquele lugar. Iam dar novas atribuições para diminuir a demanda”, queixa-se o enfermeiro, que foi redirecionado à “organização de EPIs e de roupas privativas ao setor”.

Na atual sala destinada a esses funcionários, as vestimentas azuis, típicas aos hospitais e ambientes de Saúde, são enfileiradas por cima das mesas e cadeiras de aula, sem qualquer tipo de proteção para mantê-las higienizadas. É possível ver pilhas de roupas nas imagens recebidas pelo JBr. O superintendente da Região Central de Saúde, Pedro Costa Queiroz Zancarano, foi contactado pela reportagem e confirmou a mudança, mas disse que só concederia entrevista mediante autorização da SES. Até o fechamento desta edição, a secretaria não liberou o gestor para conversa com o Jornal de Brasília. O espaço segue aberto para manifestações.

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