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Brasília

‘Sem vergonha’ na melhor idade

Idosos procuram cada vez mais sexo e novos relacionamentos nesta fase acima dos 60 anos

Marcus Eduardo Pereira

06/09/2019 6h12

“Sexualidade na fase idosa”- Vera Lígia de Miranda (personagem) Fotos: arquivo pessoal

Pedro Marra
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Separada há dois anos, a mineira de Belo Horizonte Vera Lígia de Miranda, 61 anos, mora em Brasília há 21 anos, tem dois filhos com o ex-marido, com quem ainda vive junto na mesma casa. Adora viajar, sair com os amigos, ir a shows. E ter relações amorosas.

A aposentada é o retrato da realidade global quando falamos de expectativa de vida na terceira idade. Nos últimos anos, ser idoso não simboliza o estereótipo de uma vida pouco ativa. Segundo levantamento de 2016 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), daqui a 11 anos a população brasileira terá mais idosos (maiores de 60 anos) do que crianças (de 10 anos ou menos).

A ideia de que está longe de ser velha é comum para Vera, que utiliza aplicativos de encontro amoroso. “Gosto de cultivar relacionamentos legais, de sair para dar risadas. Por isso, tenho procurado pessoas que possam me agregar valor, mas nada que me prenda. Depois de me separar, acho que nunca vivi uma liberdade com tanta responsabilidade e tão feliz. Falo para mim todos os dias que sou bonita, cheirosa e gostosa”, alegra-se.

A população madura do Brasil (acima dos 60 anos) busca 19% mais encontros online que as de outros nove países pesquisados. Informação de dados de 2018 do Google Global Senior Survey (Pesquisa Sênior Global do Google, em inglês).

Informações deste ano do próprio Google indicam que as buscas por “disfunção erétil” e termos relacionados, como “viagra” ou “viagra genérico”, são cinco vezes maiores do que as buscas por “diabetes” e “colesterol” somadas.

Quando a terapeuta sexual Luísa Miranda recebe pacientes idosos para uma consulta, o diálogo costuma envolver estereótipos do envelhecimento.

Foto: Reprodução/Instagram

As pessoas ainda não entendem que o tempo muda a forma como a sexualidade delas acontece. Ainda tem homem, por exemplo, com a ideia de que só por estarem solteiros depois de um casamento terão uma ereção maravilhosa. O segredo é levar o assunto de uma forma cotidiana e leve, pois é uma questão de saúde pública”, afirma.

A sexóloga Tâmara Dias trabalha com produtos eróticos para chás de lingerie há três anos. Ela conta a reação que teve das únicas clientes desta faixa etária.

Até hoje, tive contato com duas idosas, e percebo que elas sempre ouvem com muito cuidado o que eu vou falar para não se sentirem chocadas. Tem até alguns vibradores que fixam na mão, para idosos que têm dificuldade de agilidade“, exemplifica.

Produtos eróticos

Há um ano como atendente numa sex shop do Conic, Walquíria Meireles, 24 anos, diz que 30% dos clientes da loja são idosos.

Entre os produtos mais comprados estão: vibradores, anel peniano, géis para sexo oral e lubrificantes.

Acredito que o intuito deles é inovar na relação sexual ou para se satisfazerem sozinhos mesmo. São cerca de 15 idosos que costumam ir à loja. Vamos abrir a terceira unidade da loja em Taguatinga, e esses clientes (acima dos 60 anos) têm forte influência nisso“, relata.

Devido a uma separação aos 43 anos, o jornalista Airton Gontow, hoje com 57, teve dificuldades para ter novos relacionamentos por dois anos. Ouviu de amigos o quão difícil era achar uma relação amorosa. Daí, veio a ideia de criar um site voltado para o público maduro: o Coroa Metade.

As pessoas têm direito de exercer a sua sexualidade. Quando vemos fotos de alguém hoje com 60 anos é totalmente diferente de uma pessoa da mesma idade há 30 anos atrás“, analisa.

Em pesquisa de junho deste ano, o site contabilizou que 61% do público do DF é de mulheres e 39% de homens.

Viúva há 13 anos, Pâmela Medeiros (nome fictício), 63, é uma das usuárias do site. Para ela, o sexo não é um tabu nessa altura da vida. “Acho saudável ter o sexo como uma coisa importante na terceira idade. Mas o sexo não é tudo para mim. Com o tempo, o companheirismo se torna mais importante, mesmo que o sexo torne o relacionamento melhor”, opina.

Kid Bengala se orgulha

Reprodução de TV

Clóvis Basílio dos Santos pode parecer um nome comum, mas poucas pessoas sabem que este é o nome do famoso ator pornô Kid Bengala. Nascido em Santos (SP), ele está com 64 anos, e se orgulha de ser o único ator idoso na indústria pornográfica brasileira, na qual atua desde 1990, já tendo feito mais de 100 filmes.

Nas ruas, ele diz que só recebe elogios e admiração dos fãs. “Ouço muitos brincarem comigo falando ‘Kid Bengala, eu quero chegar na sua idade assim, com essa saúde, vitalidade e disposição’. Eu só dou risada”, lembra.

O ator já foi projetista de ferramentas numa metalúrgica por 15 anos. Mas retornou à indústria pornográfica em 2015 para atuar pela produtora Brasileirinhas.

Ele conta que faz uma alimentação saudável, sem frituras e com comidas naturais. Acorda cedo todo dia para ir à academia, e ainda pratica fisioterapia uma hora por semana.

O ator deixa uma dica final para os idosos que têm dificuldade com a própria sexualidade.

Agradeço a Deus pela boa genética que ele me deu. Durma oito horas por noite, faça sexo todo dia, ou, se não, cinco vezes por semana. Acorde cedo, se alimente bem, faça exercícios, e o principal: fuja dos vícios como cigarro, bebidas alcoólicas e drogas. Aí, é só alegria“, revela o ator brasileiro.

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