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Brasília

Sanoli não garante pagamento em dia

Empresa de alimento condiciona pagamento de salário no proximo mês à quitação de uma suposta dívida
de R$ 42 milhões da Secretaria
de Saúde

Pedro Marra

21/01/2020 5h00

Atualizada 20/01/2020 23h38

Após duas semanas de atraso no salário de dezembro dos funcionários, a Sanoli – empresa de alimentação hospitalar – regularizou 100% da folha de pagamento por volta de 14h de ontem. Segundo a assessoria de imprensa da companhia, “os recursos utilizados não são os atrasados da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), mas de outros contratos da empresa”, diz.

Por outro lado, caso a SES-DF não efetue os pagamentos, a Sanoli afirma que “não terá caixa para pagar fornecedores, nem a folha de fevereiro”, alerta. A empresa adianta que os refeitórios estão voltando e os serviços devem ser normalizados.

Vale lembrar que a Sanoli, com aproximadamente 2,5 mil funcionários, alega não pagar os trabalhadores por não ter recebido cerca de R$ 42 milhões da Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) desde 2014, valor referente a uma atualização financeira dos valores da data-base dos funcionários.

A Secretaria reitera que não há atraso nos pagamentos à Sanoli. “A pasta informa que a nota fiscal referente aos serviços prestados pela empresa em dezembro foi entregue no dia 2 de janeiro e, de acordo com o contrato, o prazo para a Secretaria efetuar o pagamento é de 30 dias após a apresentação da nota. A reivindicação da empresa é de reajustes nos serviços prestados em 2014, em que os pagamentos eram realizados por verba indenizatória. A Secretaria já fez várias tratativas com representantes da Sanoli. Essa cobrança não pode ser paga pela pasta sem uma decisão judicial favorável à empresa”, explica o órgão.

Mesmo com o cenário de incerteza, a Secretaria de Saúde do DF comunica que “os serviços prestados não podem ser interrompidos por esse motivo, uma vez que não há descumprimento de qualquer cláusula contratual por parte da SES. Portanto, os diretores administrativos das Superintendências Regionais de Saúde foram orientados a notificar a empresa pelo não cumprimento do contrato. A pasta também está tomando outras providências jurídicas”, diz, sem maiores detalhes.

A pasta também informa que ontem as refeições foram servidas para pacientes e acompanhantes e os refeitórios foram abertos para servidores nos hospitais onde a Sanoli presta serviço.

Empresa diz que não demitiu grevistas

A assessoria da Sanoli argumenta que ninguém foi demitido por conta das mobilizações. “Se alguém foi demitido, foi por outros motivos. Como ocorre em qualquer outra empresa”, afirma a companhia.

Mas não é o que alega Agenilton Francisco, de 29 anos. Demitido em 31 de dezembro, o ex-auxiliar de confeitaria do Hospital Regional do Gama (HRG) ficou por três anos e cinco meses na empresa, que não explicou o motivo da dispensa. “Eles me chamaram e disseram que a empresa estava me desligando. Mas tenho certeza que foi devido à greve. Eles falam uma data prevista para o pagamento sair, e nada de cair na nossa conta”, relata.

Agenilton tem tido prejuízos desde que não recebe do antigo trabalho. “Paguei faturas atrasadas de cartão de crédito e de aluguel da minha casa. E fui dispensado na hora de pagar o boleto do último mês. Os atrasos começaram há quatro meses, quando a gente fazia greve direto nos hospitais. A Sanoli argumenta que o motivo é a dívida com o GDF, inclusive uma dívida que tem desde 2014”, diz o ex-funcionário da empresa.

As unidades atentidas pela Sanoli no DF são: Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), Hospital Regional do Gama (HRG), Hospital Regional da Ceilândia (HRC), Hospital Regional de Samambaia (Hrsam) Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) e Hospital Regional do Guará (HRGu). A empresa também presta serviço nas Unidades de Pronto Antedimento (UPAs) do Gama, Ceilândia e Samambaia.

Sindicato denuncia ao MPDFT

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Refeições Coletivas de Brasília e de Goiás (Sinterc-DF/GO), João Moisés, encabeça a defesa dos funcionários na situação. “Estive em reunião com a secretaria na sexta, e hoje (ontem) com a Sanoli. Eles pagaram às 14h o salário de dezembro. Na secretaria, a gente teve uma boa reunião, dizendo que o GDF está propenso a pagar, mas não deram data para a gente. Nos outros quatro meses de greve, o problema era por não pagamento de 13º, FGTS, aquelas coisas que já foram noticiadas. O pagamento deste mês era para ser feito até o quinto dia útil”, conta o presidente do Sinterc-DF/GO.

João protocolou ontem uma denúncia no Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) contra a Sanoli para ajudar a terminar esse impasse. “A gente fica num fogo cruzado porque não podemos deixar uma baderna no hospital, porque aí acabamos prejudicando alguém. São famílias que têm filhos, mãe, pai, e temos que ajudar a manter a ordem. Tem muito trabalhador no direito de se revoltar. É uma situação que tem que acabar. A denúncia é para os trabalhadores receberam em dia daqui para frente”, protesta.

Deputado se manifesta

Após receber ligações de funcionários para ajudar a resolver a situação, o deputado Chico Vigilante (PT) diz que tem recebido ligações de funcionários para ajudar a resolver a situação. Ele afirmou que irá atrás do GDF para acabar com esse problema na rede pública de saúde.

“Já conversei com o secretário de Fazenda do DF, André Clemente, e vou discutir isso nos debates da Câmara Legislativa. Também vou conversar com o governador Ibaneis Rocha (MDB) para que ele acabe com isso. Estou exigindo do governo do DF que obrige a Sanoli a pagar os salários ou rescinda o contrato com a empresa. Estão sequestrando os trabalhadores para exigir o pagamento do GDF”, critica Vigilante.

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