Raphaella Sconetto
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A Polícia Civil do DF detalhou, na tarde desta quinta-feira (15), o ritual de tortura praticado por uma quadrilha de traficantes para cobrar dívidas de usuários de drogas. O grupo, que agia principalmente na região de Planaltina, é suspeito de manter ao menos cinco pessoas em cárcere privado, torturar, matar e até estuprar usuários. As dívidas, segundo o delegado responsável pelo caso, Edson Medina, não passavam de R$ 400.
Nesta manhã, a corporação deflagrou a segunda fase da ‘Operação Cruciatus’, que resultou na prisão de dois integrantes da quadrilha e na apreensão de um adolescente. César da Silva Vasconcelos, 20, usava uma tornozeleira eletrônica por conta de um furto e Marco Antônio Moura, 18 anos, era funcionário de uma locadora de veículos próximo ao Aeroporto de Brasília. Em junho deste ano, época em que ocorreu a primeira fase da operação, outros três suspeitos foram preso. O líder da quadrilha, Márcio Rogério de Sousa Pinto, porém, continua foragido.
Os sete traficantes vendiam crack, maconha e cocaína aos usuários de drogas que moravam, principalmente, na Vila Nossa Senhora de Fátima, a três quilômetros do centro da região administrativa. Caso não pagassem, os suspeitos cobravam os devedores da própria maneira. “Levavam a vítima para a chácara, onde a agrediam com socos e chutes. Em seguida, jogavam a pessoa dentro de uma cisterna de dois metros de profundidade. Com o usuário dentro, os traficantes jogavam pedaços de pau, água e lama por cima”, descreve Medina.
A 16ª Delegacia de Polícia, em Planaltina, tomou conhecimento das torturas a partir de um crime envolvendo Elton Nunes Nascimento, de 33 anos, em junho deste ano, quando ocorreu a primeira fase da Cruciatus. Os criminosos, no entanto, não pararam.
Com o avanço das investigações, outras quatro vítimas apareceram. Joaquim Gomes da Silva, de 37 anos, devia R$ 380 em drogas aos traficantes. “Ele foi brutalmente torturado e teve seus pertences roubados em casa. Tudo isso para pagar a dívida”, destacou o delegado.
Um outro usuário, conhecido como ‘Doutor’, também chamou a atenção da corporação. Ele tentou quitar as dívidas, mas, mesmo assim, foi torturado. “A vítima foi até a chácara, onde ficou mantido em cárcere privado por algumas horas. O homem teve que entregar as chaves da própria casa para que os bandidos fossem até lá para pegar o que quisessem, sob o argumento de que iriam quitar as dívidas”, indica Medina.
O quarto caso foi de um casal, que não foi identificado. O homem é usuário de drogas e foi com a esposa resolver as pendências com os criminosos. “A mulher ficou detida com os traficantes. Foi torturada e estuprada por eles porque o marido estava devendo”, levanta o delegado. “Todas as dívidas eram pequenas, de R$ 200 a R$ 400. As decorrências do tráfico são os crimes bárbaros que eles cometiam”, completa o delegado.
Relembre a primeira fase
O morador de rua Elton Nunes Nascimento, de 33 anos, devia e ainda roubou uma bicicleta do grupo criminoso. Ele foi morto após a tortura. Elton apanhou, foi posto em uma cisterna, apedrejado e asfixiado durante cerca de quatro horas. Tudo aconteceu em um barraco, localizado em uma invasão da Quadra 9 da Vila. Os traficantes ainda amarraram uma corda no pescoço do homem e o conduziram a um riacho próximo. Após ser afogado, ainda deram um mata-leão nele.
As técnicas de tortura e de cárcere privado foram utilizadas com pelo menos outras duas vítimas, no mesmo dia, que sobreviveram. Todos tinham dívidas com o grupo de traficantes.
Foragido
A Polícia Civil pede ajuda para localizar Marco Rogério de Sousa Pinto, conhecido como Titi. Ele é morador de Águas Claras, mas segundo o delegado Edson Medina frequenta Planaltina diariamente por conta do tráfico de drogas. Para denunciar, ligue para 197.