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Brasília

Racismo, temos que falar

Data chama a atenção para o preconceito, que ainda é grande no País

Marcus Eduardo Pereira

20/11/2019 8h00

Rosa personagem Consciência Negra foto : Vitor Mendonca data : 19/11/19

Camilla Germano
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Há 634 anos nascia um dos maiores líderes e defensores do movimento negro no Brasil. No entanto, mais de 324 anos depois da morte de Zumbi dos Palmares, a luta da população negra continua diária. O racismo estrutural – conjunto de práticas, hábitos, situações e falas embutido em nossos costumes e que promove, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial – ainda se mantém notícia, mesmo em 2019.

Hoje, dia 20 de novembro, é celebrado o dia da Consciência Negra ou também dia de Zumbi dos Palmares – como lembrança de todo o percurso da história afrodescendente e indígena no Brasil, mas também como ressalto à todo o caminho que ainda resta em prol da igualdade racial.

Para sociólogo e professor da Universidade de Brasília (UnB), Nelson Fernando Inocêncio da Silva, o racismo existe no Brasil por uma série de fatores e que é um tabu na sociedade. “O Brasil é um país que sempre praticou o racismo e que também sempre negou praticá-lo”, pontua.

Essa é uma realidade vivida pela estudante Rosa Moran 23 anos.“Em um país onde as pessoas acreditam que o racismo não existe e que o racismo reverso pode acontecer sim, temos que falar sobre o racismo. Em um país em que a maior parte da população é negra, precisamos falar sobre a consciência negra, sim”, explica.

O empresário, Michael Anselmo Ferreira de 27 anos acredita que a cultura do racismo foi herdada. “Pela história podemos ver a supervalorização do branco e o desprezo do negro. Quebrar uma cultura é difícil, pois na maioria das vezes a gente nem percebe que está replicando. Por isso precisamos parar, pensar e analisar as nossas ações, principalmente no que diz respeito ao próximo”, diz.

Ao discutir sobre o dia 20 e sobre a importância dada à cultura afrodescendente e a população negra do país no apenas na data comemorativa, o ativista do movimento negro Mateus Santana, 27, acredita que existe uma invisibilidade da população negra.

“São 12 meses no ano e em 11 dele nós somos invisíveis, totalmente invisíveis e somente em novembro a gente recebe várias demandas para dar palestras, dar entrevistas, para ‘salvar professor’, não é nem pela nossa capacidade intelectual para ir, comparecer em eventos e isso acontece só em um mês”, explica.

Ana Caroline Cardoso tem 25 anos e é influenciadora digital. Ela também acredita na invisibilidade negra nos outros dias do ano. “Nós, negros, falamos muito que só somos lembrados nesse dia, em que as pessoas falam ‘nós somos todos iguais, independente de cor e raça’. Eu acho que somos esquecidos nos outros dias. Para mim, falar da importância deste dia é bem delicado, está mais para banalizado, porque as pessoas se tornam afro convenientes, só aplaudem e falam em momentos necessários e no dia a dia não se lembram da conscientização”, relata.

Injúria diminui

A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) informou que houve redução de 5,8% nos registros de injúria racial em todo o DF, comparando os primeiros dez meses de 2019 com o mesmo período de 2018. Ao todo, foram registradas 360 ocorrências no primeiro e 382 no segundo período analisado. Os casos de racismo, no entanto, se igualaram entre os dez primeiros meses de 2019 e 2018, cinco casos reportados por todo o DF.

Dados anteriores do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) apontam que entre 2016 a 2018, 94,96% dos casos de injúria racial e racismo resultaram em responsabilização com sanções ao ofensor. Só em 2018, o MPDFT ajuizou 95 denúncias ligadas ao tema, um aumento 72,72% em relação a 2017, que fechou com 55 denúncias.

TJDFT elege primeira mulher negra

Na noite ontem, o Pleno do TJDFT, em sessão extraordinária, elegeu de forma unânime a juíza de direito substituta de 2º grau Maria Ivatônia Barbosa dos Santos para ocupar o cargo de desembargadora do Tribunal. A magistrada, será a primeira desembargadora negra do Tribunal.

Para o Jornal de Brasília, ela explica que essa é uma vitória para ela e para todas as mulheres negras. “Essa conquista é maior do que somente abrir portas para outras mulheres negras ocuparem esses lugares, é importante mostrar que é possível. Mostrando que é possível para uma se torna possível para todas”, diz.

Na véspera do dia da Consciência Negra, a nova desembargadora comentou também sobre a importância do dia em paralelo à eleição e o conceito de meritocracia. “Costumo lembrar que não se pode exigir que os negros encontrem seu lugar, passem por tormentos de heróis para chegar ao sucesso. É muito perigosa a ideia de que somente com muito sofrimento e esforço as pessoas conseguiram chegar a esses lugares, parece muito injusto”, diz.

Além disso, ela explica que como é de uma cidade pequena, não tinha consciência sobre o preconceito racial, porque ele é muito sutil e não é declarado. Ela conta que só percebeu a diferença quando mudou para uma cidade maior e isso diz muito sobre a vida do negro nas cidades grandes.

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