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Brasília

Quilombolas: “Lutar pelos nossos direitos é uma vontade antiga”

Vilmar Kalunga se elegeu 1º prefeito quilombola da cidade de Cavalcante (GO), região com maior comunidade de quilombos do Brasil

Redação Jornal de Brasília

20/11/2020 5h54

Cezar Camilo
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Vilmar Kalunga (PSB) entrou na política em 2016. Apostou na candidatura para vice-prefeito de Cavalcante, região norte de Goiás, a pouco mais de 300km de Brasília. Perdeu para um adversário autodeclarado “pardo”, o ex-prefeito Josemar Saraiva Freire (PSDB). Vilmar ainda não se sentia representado, bem como sentia falta da representação política de sua gente. “Município com 80% da população quilombola não ter um político da comunidade?”, questionou ele. Optou por tentar novamente concorrer à prefeitura. Agora, na liderança de sua chapa.

Foi nessa segunda tentativa, nas eleições municipais deste ano, que o representante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) sagrou-se vitorioso no pleito. É o 1º prefeito quilombola em uma região que concentra mais de 10 mil descendentes de quilombos, a maior comunidade no Brasil.

“Sempre participei da política social, dentro da comunidade, foi minha faculdade. Mas a vontade de lutar pelos nossos direitos é mais antiga”, disse Vilmar Kalunga (PSB) em entrevista ao Jornal de Brasília.

As eleições de 2020 registraram o número inédito no Brasil de mais candidatos autodeclarados como não-brancos do que brancos. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os negros representam 49,9% dos candidatos das eleições deste ano – 215 mil candidatos pardos e aproximadamente 57 mil autodeclarados pretos. Os candidatos brancos somam 47,8%. Ressalta-se que pretos e pardos são considerados negros, segundo classificação utilizada pelo IBGE.

Foi a primeira vez, desde que o tribunal passou a coletar informações de raça, em 2014, que a representatividade se assemelha aos registros de raça e cor dos índices nacionais. São 56,10% da população brasileira que se declarou negra segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE) realizada em 2019.

“Agente foi sempre esquecido. É uma dificuldade danada, sempre é negado nosso direito. Somos procurados na hora que querem o voto. Depois de ser votado, ninguém dá confiança pra gente”, disse Vilmar Kalunga sobre a sua experiência nas eleições que participou.

A história de Vilmar destoa do restante do entorno do Distrito Federal. Foram muitos candidatos autodeclarados negros e poucos efetivamente eleitos nas disputas para o legislativo. Em Formosa, município mais populoso no contorno do DF, foram 23 candidatos negros. Destes, somente um pleiteou a prefeitura da cidade. Natanael Caetano do Nascimento, conhecido como SD Caetano, do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Caetano ficou em último lugar, o ganhador foi o Gustavo Marques (PODE) com 37% dos votos.

Em Planaltina (GO), o Avante computou o maior número de candidatos negros no TSE. Foram 22 autodeclarados pretos ou pardos na disputa a uma vaga na Câmara Municipal. Outra cidade com um único candidato autodeclarado negro, cor preta, à prefeitura da cidade. Ele ficou em último lugar nas pesquisas: Bernardo Xavier (PSOL) ficou com 0.39% dos votos. O ganhador foi o Delegado Cristiomario (PSL) com 33,24% da contagem total.

A participação da população negra nas duas cidades do entorno continua próxima do limite mínimo estabelecido pela lei (30%), além de negros e pardos prevalecerem no pleito a vereador municipal. Porém, há uma perspectiva de mudança para os novos políticos. Vilmar Kalunga, prefeito eleito da cidade de Cavalcante (GO) confia no diálogo e na cooperação mútua sem qualquer distinção. “Eu sei da responsabilidade que é muito grande. O objetivo é unir o povo”, ressalta o representante quilombola.

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