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Brasília

Queda do viaduto: avisos foram ignorados pelo GDF

Arquivo Geral

07/02/2018 7h36

Foto: Hugo Barreto/Cedoc

João Paulo Mariano
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A queda do viaduto da DF-002 não ocorreu por falta de aviso. Pelo menos, é o que indicam o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Distrito Federal (Crea/DF), o Tribunal de Contas (TCDF) e o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF). As instituições enviaram vários documentos ao GDF, deixando claro que havia necessidade de manutenção urgente, e que novos desabamentos podem ocorrer.

Em 2011, o Crea-DF enviou para o governo do petista Agnelo Queiroz propostas para melhorias estruturais em diversos locais. Uma delas era o viaduto da Galeria dos Estados, que ruiu na manhã de ontem. O documento citava, à época, que a Novacap possuía levantamento de algumas obras e até mesmo possibilidade para licitar a recuperação dos viadutos localizados próximos à rodoviária. “A condição patológica do viaduto sobre a Galeria dos Estados também já foi levantada e será projeto de providências imediatas”, informa o documento.

Em julho de 2012, foi a vez de o TCDF divulgar relatório sobre a conservação e manutenção de bens públicos. As estruturas de pontos importantes da Capital foram avaliadas, como as pontes Honestino Guimarães (Costa e Silva), das Garças, do Bragheto e viadutos dos Eixos L e W. Três pontos da DF-002 também foram citados, um deles o viaduto que despencou. O documento falava que o local “necessita de reparos e manutenção urgentes”.

Em nota, o TCDF informou que a única informação que recebeu foi em agosto de 2015 da Procuradoria-Geral do DF, afirmando que haveria a criação, via decreto, de um Comitê Gestor para a elaboração do Plano de Manutenção e Conservação do Patrimônio. Porém, “não houve, por parte do GDF, informação posterior sobre as atividades do Comitê, nem foi enviado ao Tribunal o mencionado Plano”.

Nesse mesmo período do relatório do TCDF, o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF) alertou o governo sobre os problemas e falou sobre propostas de mudanças.
“Não houve omissão por parte do corpo técnico do Distrito Federal e das entidades ligadas à engenharia em relação à condição de alerta e das providências necessárias para a eliminação de patologias e reforços estruturais”, assegura o presidente do Sinduscon-DF, Luiz Carlos Botelho.

Crea/DF defende demolição

Para o Crea/DF não há outro jeito: a demolição do restante do viaduto que desabou é o melhor remédio. Para a presidente do Conselho, Fátima Có, o escoramento do que sobrou pode trazer mais perigo quem precisa utilizar o espaço. Além disso, a entidade assegura a necessidade de inspeção na região do viaduto e que o escoramento seria ainda mais perigoso.

“Este viaduto já estava relacionado como uma emergência. (A queda) Foi por falta de manutenção e de reparo necessário”, afirma Fátima, que lembra que alguns pilares que sustentam a parte que está de pé estão danificados.

Para o Crea, os alertas foram feitos e infelizmente nada foi feito a tempo. Teria faltado “vontade política” pois a parte técnica foi cumprida. A entidade garante que há perigo de desmoronamento de outras estruturas viárias, pois grande parte dos viadutos e pontes do DF foram construídos há mais de 50 anos e passam pelos mesmos processos de deterioração.

Já o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/DF), Daniel Mangabeira, entende que ainda não é possível apontar que a demolição da estrutura que ficou em pé seja a melhor escolha, pois só o relatório de vistoria daria a certeza do que ocorreu e o que seria mais prudente a se fazer. Porém, acredita que a causa principal da queda seria a falta de manutenção.

“A cultura brasileira não é de manutenção, nem prevenção, tanto em locais privados, quanto em edificações públicas. Trata-se como um gasto insignificante”, lamenta.

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