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Brasília

Projeto busca a superação da violência

Ideia surgiu a partir da observação
do comportamento das mulheres em situação de violência em audiências

Larissa Galli Malatrasi

19/06/2020 7h47

Ideia surgiu a partir da observação do comportamento das mulheres em situação de violência em audiências

Com o objetivo de despertar o protagonismo da mulher na prevenção e no combate à violência conjugal — aquela ocorrida entre parceiros dentro das relações de afeto —, e conscientizá-las sobre a importância da participação ativa delas no processo de superação do ciclo vicioso da violência, a juíza titular da Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher do Paranoá, Ana Luíza Morato, idealizou o projeto Empenhe-se, em parceria com a pesquisadora Claudia Mota.

Ana Luíza contou que a ideia da criação do projeto surgiu a partir da observação do comportamento da mulher em situação de violência em mais de 2 mil audiências realizadas no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher do Paranoá. Segundo a juíza, a experiência de quatro anos de atuação na área a fez concluir que falta autonomia da mulher em relação à sua própria segurança e seu papel nas relações.

“Observou-se que a mulher, por falta de informação adequada, não percebe a necessidade de desenvolver um processo emocional de superação da relação abusiva; e associam a solução do trauma da experiência da violência apenas ao processo judicial, iniciado na delegacia. Mas é preciso ir além. Por isso o nosso objetivo é preparar as mulheres para o momento pós-denúncia; muitas ficam perdidas e não sabem como se comportar”, explicou a juíza.

Dentro desse contexto, Ana Luíza destacou que é preciso analisar o conflito conjugal como um todo e como cada um contribui para o conflito, além de posicionar a mulher como sujeito ativo e operante da relação, fazendo-a perceber a importância da própria palavra. “A atuação feminina não se limita ao registro da ocorrência (que é sim muito importante), mas exige também comprometimento emocional e judicial nas demais fases do processo e reconhecimento da sua responsabilidade pela qualidade da relação afetiva”, frisou.

É verdade que no âmbito social, as mulheres tiveram muitas conquistas nos últimos anos, mas, segundo a juíza Ana Luíza, a vida íntima permanece igual. “Jovens de 20 anos e mulheres de 80 anos relatam as mesmas histórias de violência.”

Maria da Penha inspirou a iniciativa

O Empenhe-se busca a emancipação e conscientização das mulheres frente à violência de gênero na relação conjugal. “Queremos orientar as mulheres, estar disponíveis sempre necessário, mas não podemos agir por elas. Por isso incentivamos que as mulheres se encorajem em nome da autonomia e se comprometam com a própria segurança, com o autocuidado e autoproteção”, acrescentou Ana Luíza.

O nome do projeto é uma homenagem à brasileira Maria da Penha Fernandes, um dos maiores símbolos de luta feminina e enfrentamento à violência doméstica no país. A intenção é relembrar e recuperar a coragem da mulher que lutou por quase 20 anos contra a violência praticada pelo marido e acabou dando nome à lei que ampara as mulheres que passam por situações semelhantes. “Maria da Penha rejeitou a imagem da vítima incapacitada e demonstrou ser uma mulher determinada na condução de sua vivência, não permitindo que as nefastas experiências de seu passado determinassem a sorte de seu destino”, ressaltou a juíza.

Por enquanto, por causa do distanciamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus, o projeto está focado em fazer publicações reflexivas nas redes sociais (@empenhese no instagram e facebook).

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