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Brasília

Primeiro dia teve ex-delegada e troca de farpas entre advogados

Primeiro depoimento no tribunal do júri foi de Mabel de Faria, ex-Corvida, durou mais de oito horas

Marcus Eduardo Pereira

24/09/2019 5h25

Olavo David Neto
[email protected]

Em mais de oito horas de depoimento no primeiro dia de julgamento de Adriana Villela, a delegada aposentada da Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida), Mabel de Faria, que assumiu a investigação após o afastamento de Martha Vargas – então delegada da 1ª Delegacia de Polícia, afastada por tortura e fraudes no processo -, chamou a arquiteta de autora do crime da 113 Sul. Mabel foi a primeira de 17 testemunhas de acusação arroladas no processo, que tem Adriana, filha de José Guilherme e Maria Villela, assassinados em 2009, como ré.

Mabel relatou como chegou ao comando da força-tarefa criada para investigar o caso, e também apontou as falhas das investigações iniciadas imediatamente após o crime. Os erros da primeira linha, conforme ela, começaram na perícia feita no local e no colhimento de provas. Segundo relatou a delegada aposentada, os peritos terminaram a primeira varredura com a ideia formada de um triplo homicídio seguido de roubo, e não um latrocínio. Esse procedimento, ainda segundo Mabel, não é comum nas investigações .

Com base nos depoimentos co lhidos pela própria delegada, Adriana se identificou como uma “mulher de projetos”. Além da mesada dos pais ela não tinha outra forma de sustento. O convívio entre pais e filha era tranquilo até que um pedido financeiro da parte de Adriana fosse rejeitado.

Relacionamento familiar

No depoimento de Adriana Villela a Mabel, a arquiteta alegou que o relacionamento com os pais era tranquilo. Porém, em laudo psiquiátrico pedido pela própria ré, foi constatado que “não havia ressonância afetiva com os pais”. Numa diligência ao escritório do casal citada pela depoente ontem, os agentes encontraram uma carta escrita por dona Maria. “Nos deixe em paz. Nós somos respeitados no nosso meio social e gastamos nosso dinheiro como bem entendermos”, teria dito, de acordo com a delegada, em 2006, à própria filha. “Procure tratamento.”

Três dias depois das comunicações serem apreendidas, o surgimento da vidente Rosa Maria Jacques indicada por Martha – a primeira delegada – mudou o curso das investigações. Para Mabel, Rosa coordenou as investigações, indicando acusados com base em supostas visões paranormais. Mabel também estabeleceu conexões entre a vidente, o marido dela, João Toquedo, e a delegada Martha.

Mulher no local do crime

A delegada aposentada da Corvida falou também ao júri sobre os depoimentos dos supostos cúmplices de Adriana. Atualmente preso como um dos executores do crime da 113 sul, Leonardo Campos Alves foi ouvido pelos agentes e disse que estava com Paulo Cardoso Santana, o Paulinho, no momento do crime. Em outro momento, ele revelou haver um mandante e trouxe Francisco Mairlon como participante do crime. A confirmação da presença de uma mulher no momento dos assassinatos veio através do depoimento de Paulinho, que identificou, segundo Mabel, “uma mulher dentro do apartamento depois das vítimas estarem amarradas”.

Conforme o relato do executor mencionado pela delegada, houve discussão da mulher com José Guilherme e, logo depois, veio a ordem para executar as vítimas. Também foram relatadas pela delegada aposentada os depoimentos de testemunhas que viram os executores num ponto de ônibus da 207 sul, quando se preparavam para o crime. Além disso, foi relatado que uma mulher passou algumas vezes num carro escuro e deu orientações aos acusados. Leonardo e Francisco Mairlon foram julgados e condenados em 2012, a 60 e 55 anos de prisão, respectivamente. Já Paulinho foi sentenciado a 62 anos e um mês de detenção.

“Que vantagem eu teria?”

Quando o magistrado abriu espaço para perguntas da promotoria, Mabel foi questionada acerca do que é alegado pela defesa de Adriana a seu respeito. “Não entendo a razão de ser apontada como a delegada que botou na cabeça que a Adriana é a mentora intelectual dos crimes”, desabafou a policial. “Qual vantagem eu teria com isso, de lidar com uma pessoa de alto poder aquisitivo?”.

Outro relato da delegada aposentada diz respeito às prisões de Leonardo, Paulo e Mairlon. Segundo ela, Leonardo foi detido em Montalvânia, norte de Minas Gerais, por agentes da 8ª Delegacia de Brasília. Conforme diz Mabel, laudos do Instituto Médico-Legal (IML) da cidade apontaram sintomas de tortura em Leonardo (como perfurações no tímpano e um dente quebrado por policiais).

A testemunha também lembrou que Leonardo foi ameaçado pelos agentes da PCDF.

Saiba Mais

Fora do tribunal, Maurício Miranda, procurador do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), e Antônio de Almeida Castro, o Kakay, advogado de Adriana Villela discutiram via imprensa sobre as falas da depoente. Segundo o representante, o MPDFT não tem dúvidas de quem era o mandante do caso.

“Quem recebe a notícia do desaparecimento dos pais e entra em contato com banco? Não tinha interesse na vida, mas tinha motivação para o crime que os vitimou”, declarou o procurador.

Kakay rebateu considerando “absurdas” as considerações dos assistentes da acusação. Além de criticar a investigação da Polícia Civil, que “demorou um ano para interrogar o Leonardo”, o advogado mostrou tranquilidade com o transcorrer da audiência.

“Nós traremos testemunhas que vão provar que ela não esteve na cena do crime, que ela não teve qualquer envolvimento”, garantiu o criminalista. “Já houve sofrimento demais com a morte dos pais e as duas prisões que ela passou”, finalizou Kakay.

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