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Brasília

Por um nascer de sol mais bonito

Um ano depois da criação da região administrativa, Jornal de Brasília vai à cidade verificar de perto o que mudou na vida dos moradores

Vítor Mendonça

14/08/2020 6h26

De favela a cidade ensolarada

Há um ano, o Sol Nascente se tornava Região Administrativa. Comemoração será hoje, nas ruas

Vítor Mendonça
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Há um ano Sol Nascente se tornava a mais nova Região Administrativa do Distrito Federal. De lá para cá, a cidade recebeu maiores condições de oferecer estrutura e trabalhar questões sociais da região, que já foi considerada a maior favela horizontal da América Latina. A comemoração hoje será feita em uma carreata com os moradores e a administração, prevista para iniciar às 9h, partindo da Feira do Produtor Rural, em Ceilândia.

Os 130 mil habitantes do Sol Nascente estão divididos nos trechos 1, 2 e 3, sendo o último o de maior precariedade. Ali vive João Paulo Castro Santos, 33 anos. O baiano se mudou para o local pela boa oportunidade oferecida no lote, há oito anos. Ele explica que a luta pelos direitos sempre veio das mãos e braços da comunidade e que a transformação para RA ainda não beneficiou o local onde mora.

“Tem um pessoal do governo trazendo saneamento básico aqui para essa região, mas até agora só está lá em cima [em outra área mais distante de sua casa]. Estamos na expectativa agora, porque benefício mesmo só vinha na época de eleição”, disse.

Um dos maiores problemas em sua casa é o abastecimento de água, às vezes insuficiente. Além disso, ainda faltam asfalto e energia de qualidade. “Essa água que temos aqui, quem arrumou foi a população”, explicou. Mas o morador prefere olhar as coisas com otimismo. “A vida aqui é difícil, mas é muito boa. Já tivemos muita violência, agora é mais tranquilo. Sol Nascente é um lugar maravilhoso.”

Olhos atentos

O administrador Goudim Carneiro, que há 29 anos observa os movimentos e crescimentos da cidade não planejada, sabe que os avanços tidos durante este último ano são apenas o início do que a cidade precisa receber. Ele não nega as dificuldades passadas por quem vive na cidade, mas pondera ao dizer que “agora as pessoas têm a quem recorrer”.

“A população quer pagar seus impostos e os recursos estão chegando com equipamentos e suprimentos públicos, porque agora o Estado está aqui dentro”, afirmou. “Estamos criando cursos profissionalizantes, inauguramos a Escola JK, colocamos sistema de coleta de lixo de porta em porta, estamos construindo creches e Unidades Básicas de Saúde “, listou o administrador.

Cada trecho, segundo Goudim, necessita de um auxílio específico, o que dificulta a concentração de esforços em uma prioridade apenas. “O sonho da comunidade é pequeno se comparado a outras regiões como o Plano Piloto, mas aqui se trata de alimentação, emprego, saúde pública, iluminação, segurança. Tuso isso é fundamental para uma vida melhor aqui”, explica.

Estão previstas, segundo ele, seis novas creches e outras quatro escolas, que já possuem projeto definido, dependendo agora de aprovação da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF (Codhab). Também está prevista a criação da Avenida do Sol, que pretende ligar a rodovia DF 070 à via Elmo Serejo. Um novo nome para a cidade também é debatido com o poder público: “Cidade do Sol” se chamaria a RA, unificando Sol Nascente e Pôr do Sol.

Ainda segundo o administrador, uma das chaves para o desenvolvimento urbano da cidade, além do subsídio do poder público, está na juventude da cidade, pois, segundo ele, é necessário que os jovens estejam presentes nas discussões sobre “o mundo que ficarão por mais tempo”, com “participação política” e “palpites para os governantes” sobre o que precisa ser melhorado.

“Cada um tem uma parcela de responsabilidade. O projeto que tenho em mente é com os jovens. Ele é quem estará inserido no mercado. Minha esperança é trazer a juventude para a ação, fazer com que conheçam suas lutas e discutam políticas”, ressaltou.

De comunidade a cidade

Para a socióloga Olívia Assis, o reconhecimento do Sol Nascente como não favela ainda depende de fatores que levam um local a ser caracterizado como cidade. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os aglomerados subnormais – ou favelas – são aqueles com “padrão urbanístico irregular, carência de serviços públicos essenciais e localização em áreas com restrição à ocupação”.

“Cabe ao Estado transformar uma comunidade em uma cidade. Dar uma infraestrutura para que ela possa vir a ser reconhecida como uma. No Sol Nascente não há a infraestrutura do Estado, então nós temos uma comunidade que está à margem da estrutura social”, acredita a especialista.

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