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Brasília

Por medo, motoristas abandonam plataformas

Casos de assassinatos e roubos desses profissionais resgata debate sobre a falta de segurança da profissão

Redação Jornal de Brasília

19/01/2021 7h07

Mayra Dias
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Medo. Esse é o sentimento de quem trabalha como motorista de aplicativo em Brasília. Devido aos últimos casos de assaltos e assassinatos desses trabalhadores na capital, muitos motoristas estão optando por abandonar as plataformas e buscar uma fonte de renda mais segura. “A sensação é de medo, impotência e vontade de desistir. Trabalho com aplicativo desde 2016 e estou muito assustado”, afirma Manoel Scooby, líder do movimento dos motoristas de aplicativo no DF.

De acordo com o representante da classe, no ano de 2020 foram registrados 8 assassinatos e aconteceram, em média, cerca de dois assaltos por dia aos motoristas de aplicativos, sem contar os que são notificados muitos dias depois. Tal cenário, e levando em consideração os últimos acontecimentos, trouxeram à Scooby vontade de desistir da profissão. “Luto por melhorias e pela valorização e respeito dos motoristas de aplicativos, mas, a cada dia que passa, fica mais difícil. Tenho muita vontade de desistir desse trabalho pois está muito perigoso. É complicado” relata Manoel.

Um dos trabalhadores que já tomou essa decisão foi Hugo Rodrigues, de 39 anos. Após 6 meses trabalhando como motorista de aplicativo, ele resolveu abandonar a função. “Desisti há mais ou menos 8 meses, e foi por conta dos riscos. Estão acontecendo muitos assaltos com mortes, e, na grande maioria, não se subtrai nada da vítima. Matam por matar e isso me assustou”, conta o ex-funcionário de uma empresa do ramo. Hugo conta que, durante o período que exerceu a função, passou por situações que lhe incomodaram muito, e destaca uma, em especial, que aconteceu no Sol Nascente. Ele revela ter parado o veículo, por segurança, um pouco mais a frente do ponto marcado e que, após ver que o carro não estava em frente ao portão, a passageira voltou para dentro de casa e saiu acompanhada de um rapaz. “O rapaz era estranho e eu achei suspeito. Percebi o movimento e fui embora. Em seguida, a moça que chamou a viagem me mandou mensagem me xingando e dizendo para eu cancelar logo a corrida”, descreve.

Foram situações como a narrada por Hugo, que fez Joanderson Borges, de 30 anos, também largar o serviço. O motorista que, depois três anos trabalhando como funcionário de um aplicativo, tomou a decisão logo após o ocorrido com o colega Geraldo Iris, encontrado morto no porta-malas do seu veículo. Segundo Joanderson, o acontecimento mais traumatizante foi quando aceitou a viagem de dois rapazes na rodoviária do Gama, com destino à “Faixa de Gaza”, em Santa Maria Sul. “Achei que seria uma viagem tranquila mas, no final, eles disseram que iriam me assaltar e não fizeram isso porque, durante a corrida, eu conversei com eles como se fôssemos colegas. Um dos ladrões chegou a mostrar a arma para mim”, relembra o ex motorista.

O que pedem os motoristas

Para Manoel Scooby, tanto o governo quanto as empresas de aplicativos deveriam colocar em prática ações que preservem a vida desses profissionais. “O que precisa ser feito pelo governo é o aumento das blitz, e que os motoristas de aplicativo sejam abordados nesses eventos. Muitas vezes o passageiro ali atrás pode ser um bandido fazendo o motorista de refém”, argumenta o líder do Movimento. Scooby chama atenção também à necessidade de se consolidar uma parceria entre a Secretaria de Segurança do DF e as plataformas.

Movimento quer novos recursos

Para os aplicativos, o pedido é de um monitoramento mais rigoroso dos passageiros, assim como ocorre com os motoristas. “Pedimos rastreamento, monitoramento, botão do pânico, reconhecimento facial dos passageiros e a obrigatoriedade de foto no perfil deles”, pondera. Segundo Manoel, o reconhecimento facial é a estratégia mais importante a ser adotada. “Por mais que obrigue o uso do cartão de crédito, qualquer pessoa pode chamar uma corrida para outra. Se houvesse o registro de uma foto da pessoa, nenhum bandido iria querer aparecer”, completou.

Devido a falta desse monitoramento minucioso de quem utiliza as plataformas, Hugo Rodrigues diz ter tomado suas próprias precauções durante o período que trabalhou como motorista. Ele relembra que, sempre que suspeitava ou notava algo errado, cancelava a viagem, mas que tal atitude lhe rendia prejuízo no trabalho. “Nesse ponto, as empresas tinham que ter maior atenção. Muitas vezes cancelamos viagens e somos penalizados, pois o aplicativo demora para entregar mais viagens para gente quando acontecem esses cancelamentos”, destaca. Hugo ressalta ainda que, tal resposta vinda da plataforma é algo que influencia nos casos de roubos e assassinatos. “É por causa dessas penalidades que vários motoristas preferem correr os riscos e se deslocar para o atendimento”, afirma.

99

Em resposta ao Jornal de Brasília, a 99, umas das principais empresas desse ramo na capital, conta ter investido R$ 35 milhões em sistemas preventivos, ferramentas de proteção e atendimento imediato.

De acordo com a plataforma, tal atitude resultou em uma diminuição de 22.5% das ocorrências graves registradas na plataforma por milhão de corridas, no ano passado. “O combate à violência é um desafio do Brasil e a 99 trabalha para tornar o ambiente para os motoristas de aplicativo mais seguro”, afirmou em nota.

Saiba Mais

Para os aplicativos, o pedido é de um monitoramento mais rigoroso dos passageiros, assim como ocorre com os motoristas. “Pedimos rastreamento, monitoramento, botão do pânico, reconhecimento facial dos passageiros e a obrigatoriedade de foto no perfil deles”, pondera. Segundo Manoel, o reconhecimento facial é a estratégia mais importante a ser adotada. “Por mais que obrigue o uso do cartão de crédito, qualquer pessoa pode chamar uma corrida para outra. Se houvesse o registro de uma foto da pessoa, nenhum bandido iria querer aparecer”, completou.

Devido a falta desse monitoramento minucioso de quem utiliza as plataformas, Hugo Rodrigues diz ter tomado suas próprias precauções durante o período que trabalhou como motorista. Ele relembra que, sempre que suspeitava ou notava algo errado, cancelava a viagem, mas que tal atitude lhe rendia prejuízo no trabalho. “Nesse ponto, as empresas tinham que ter maior atenção. Muitas vezes cancelamos viagens e somos penalizados, pois o aplicativo demora para entregar mais viagens para gente quando acontecem esses cancelamentos”, destaca. Hugo ressalta ainda que, tal resposta vinda da plataforma é algo que influencia nos casos de roubos e assassinatos. “É por causa dessas penalidades que vários motoristas preferem correr os riscos e se deslocar para o atendimento”, afirma.

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