Mesmo com a oferta gratuita em postos de saúde no Distrito Federal, a cobertura da vacina contra a poliomielite (popularmente conhecida como paralisia infantil) em crianças de até cinco anos em Brasília caiu dos 89% entre janeiro e abril 2019 para 67,3% no mesmo período de 2020. Uma nova campanha organizada pela Secretaria de Saúde tenta, até o dia 30, alcançar um maior índice de imunização contra a doença no DF, sendo 95% a taxa de cobertura ideal.
A queda na adesão à vacina contra a poliomielite, segundo o secretário-adjunto de assistência à saúde no Distrito Federal Petrus Sanchez, não é um fenômeno tão recente. “Nos últimos anos houve uma adesão mais baixa, em 2015, 2017 e 2019. Esse ano, infelizmente a adesão foi mais baixa ainda, a ponto de agora, com o controle da pandemia do covid-19, estarmos fazendo esse chamamento para que possamos ampliar essa adesão e chegar aos 95%”.
A Secretaria de Saúde acredita que o covid-19 tenha sido o principal responsável pela queda de 22 pontos percentuais na cobertura da vacina no DF. “Este ano tem sido atípico e a pandemia pelo novo coronavírus pode ter sido o motivo da baixa procura. É importante frisar que todas as medidas de segurança estão sendo tomadas nas unidades básicas de saúde, como sinalização para o distanciamento social, disponibilização de álcool em gel e orientação quanto ao uso da máscara”, declara a assessoria de comunicação da secretaria.
Possibilidade de novo surto
A poliomielite foi erradicada no Distrito Federal em 1987, e em 1989 foi registrado o último caso da doença no Brasil. No mundo, ela ainda é detectada em dois países: o Afeganistão e o Paquistão. Mas a médica alergista Valéria Botan alerta que, se não forem mantidas as políticas de prevenção, a doença pode voltar, dando como exemplo o retorno do sarampo ao Brasil.
Em 2016, a sarampo havia sido erradicada do Brasil. Mas o mesmo não aconteceu com os países vizinhos. “Na Venezuela, a sarampo não foi erradicada e a vacina sequer chegou a ser obrigatória. Em 2018, houve uma imigração muito grande de venezuelanos para o norte do Brasil, e muitos deles trouxeram o vírus do sarampo para dentro do Brasil, e a doença se alastrou de novo. Tanto que o governo precisou fazer várias campanhas de vacinação tanto para crianças quanto para adultos para tentar bloquear a propagação do vírus”, conta a médica.
Sequelas graves
Um dos principais problemas relacionados à poliomielite são as consequências a longo prazo deixadas nas pessoas que sofrem da doença. “Os sintomas iniciais são os sintomas comuns de qualquer infecção viral: dor de cabeça, dor nos olhos, febre, dor no corpo. Mas com o passar do tempo, o vírus atinge a musculatura do corpo. O paciente começa a desenvolver fraqueza muscular e tremores até atingir a total paralisia. (…) Mas um dos principais problemas acontece quando o vírus atinge o sistema nervoso central. Nesse ponto, a pessoa pode desenvolver paralisia total de um membro inferior, sem expectativa de retorno”, explica Valéria.
A transmissão da poliomielite pode ocorrer por via aérea, mas a principal forma é por meio de contato do hospedeiro com as fezes da pessoa contaminada, risco constante em locais onde há falta de saneamento básico ou más condições de higiene.