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Brasília

Polícias do DF escancaram embate agudo

Arquivo Geral

28/11/2018 7h00

Foto: Breno Esaki/Cedoc/Jornal de Brasília

João Paulo Mariano
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A relação entre as polícias Civil e Militar promete ser um desafio para o próximo governo. Embates recentes – dois apenas nesta semana – expuseram o mal- estar entre as duas corporações.  A situação mais recente ocorreu nas primeiras horas dessa terça-feira (27). Com um mandado em mãos, policiais civis do Departamento de Operações Especiais (DOE) e da 20ª DP (Gama) arrombaram a porta e o portão de uma casa no Gama atrás de traficantes de drogas. Apesar do endereço indicado no mandado judicial, o alvo do documento não morava lá. Era a casa errada. Ali, na verdade, vive um policial militar – há mais de uma década. Porém, até que a ação fosse suspensa, a esposa, os filhos e a nora do PM já estavam desesperados.

Poucas horas depois, a Polícia Militar emitiu um comunicado rechaçando a ação da corporação parceira. Na nota, é dito que a Polícia Civil “invadiu” a residência com um “mandado com endereço errado”. Além disso, foi colocado que o militar ficou “humilhado e envergonhado” e que os familiares estariam abalados com o ocorrido.

Além dessa fato, a Polícia Militar emitiu outra nota reclamando da prisão em flagrante de três policiais militares durante a 3ª fase da operação Torre de Babel, ocorrida nessa segunda-feira. As ações buscam desarticular organização acusada de tráfico de drogas, furtos e desvios de mercadorias.

Nesta ação, a Polícia Civil, junto à Corregedoria da PMDF, cumpriria cinco mandados de busca e apreensão contra cinco militares por suspeita de cárcere privado e concussão – quando um servidor público tenta tirar vantagens para si. Segundo a PCDF, os crimes teriam sido cometidos contra um dos integrantes da organização criminosa durante o transporte de drogas.

Na residência de três policiais foram encontradas quatro armas de fogo consideradas ilegais, porções de crack e balança de precisão, além de munições calibre 556, utilizadas em armamento pesado. Ontem, a Justiça decidiu manter os policiais presos preventivamente.

A Polícia Militar se manifestou em defesa dos detidos. Segundo o comunicado, os envolvidos integram equipes que se destacam por realizar prisões e grandes apreensões de drogas e armas. Os servidores também seriam reconhecidos pela comunidade e referência na corporação. “A Polícia Militar acredita na inocência de seus policiais e acompanhará as investigações, colaborando com o Ministério Público”, complementa.

As portas da casa de militar foram arrombadas.

Rusgas

Em grupos de redes sociais e páginas de policiais, as situações não repercutiram bem. O porta-voz da Polícia Militar, major Michello Bueno, diz que as notas buscam mostrar que a PM trabalha bastante e que é preciso esclarecer os casos. Para ele, não existe preocupação em relação a rusgas. “A gente olha para como o nosso trabalho é feito. Não nos preocupamos com desgastes porque são pequenos. A preocupação é com coisas maiores, como a população”, afirma.

Já o diretor da Divisão de Comunicação da PCDF (Divicom), Lúcio Valente, afirma que não há o que dizer em relação às notas emitidas pela corporação parceira, mas que a Corregedoria da PCDF está averiguando as duas situações.

As complicações são históricas

Os estranhamentos entre as duas corporações não vêm de agora. Nos últimos anos, já houve discussão sobre paridade salarial e sobre os registros de ocorrências. A Polícia Civil considerava que o último fator era uma forma de a PMDF fazer o trabalho exclusivo deles.

Em julho deste ano, o delegado Fernando César Costa, da Coordenação Combate a Corrupção, ao Crime Organizado, aos Crimes Contra a Administração Pública e aos Crimes Contra a Ordem Tributária (Cecor), acusou interferências em cenas de crime. “Não raras vezes temos vários vestígios destruídos por outras instituições que atuam no local e isso impacta a investigação”, afirmou.

Ele exemplificou uma tentativa de explosão a um caixa eletrônico na Administração do Riacho Fundo II, quando a PM destruiu um explosivo abandonado. O delegado também apontou irregularidades em 2015, quando houve uma série de ataques. Para ele, os artefatos seriam essenciais para a apuração.

Desafio

O especialista em segurança pública Nelson Gonçalves lembra que as diferenças existem em todo o Brasil, uma vez que a legislação não delimita perfeitamente o dever de cada um. Porém, para Gonçalves, o maior cuidado deve ser o trabalho à população.

Sobre o mandado cumprido em casa errada no Gama, o especialista considera que isso pode trazer apreensão em torno de todas as demais investigações, já que nesse caso foi um policial militar, mas poderia ter sido qualquer pessoa.

“É um desafio para quem vem como foi para quem passou”, afirma, sobre os próximos comandantes. Para ele, existe a possibilidade de as coisas piorarem. E cita a intenção do governador eleito, Ibaneis Rocha, de acabar com a Casa Militar para formar o Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Quem ficará à frente da nova pasta é o ex-diretor Polícia Civil e deputado federal, Laerte Bessa. “Isso não caiu bem. Ibaneis terá de se articular para não ter dor de cabeça”.

Saiba Mais

O policial militar que teve a casa arrombada pela PM preferiu não dar entrevista por estar constrangido com a situação. Mas o supervisor do Comando Regional Sul, tenente Márcio Gomes, responsável pela batalhão do Gama, falou com o JBr.. Ele afirma que todos da casa ficaram muito assustados.

“O policial denunciou o caso à Corregedoria da Polícia Civil e, certamente, vai pedir o ressarcimento do dano material e moral”, salienta. Além dos estragos físicos, os dois cães que o sargento tutela fugiram, sendo achados à tarde.

Em relação a essa situação, o diretor da Divicom, delegado Lúcio Valente, assegura que não houve nenhum tipo de arbitrariedade e considera que o caso foi uma fatalidade.

Além disso, ele faz questão de acrescentar que as prisões são cumpridas sem olhar a profissão dos suspeitos, tanto que um policial civil foi detido em uma ação da Delegacia do Meio Ambiente (Dema) nas últimas semanas.

 

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