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Brasília

Pessoas com deficiência devem redobrar higienização das mãos

Ler em braille e empurrar cadeiras de rodas virou mais uma enorme preocupação para cegos e cadeirantes

Redação Jornal de Brasília

08/04/2020 6h20

foto ; Marcelo Casal Jr. / Agência Brasil

Cláudio Py e Pedro Marra
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Se prevenir contra o novo coronavírus tem requisitado uma atenção maior para as pessoas com deficiência. Nessa hora, exagerar na higiene é muito bem-vindo. É o que afirma a secretária da Pessoa com Deficiência do DF, Rosinha Estrela, que analisa a necessidade do tato para os cegos.

“O cego tem a questão do reconhecimento através do tato. Então para reconhecer objetos como um garfo, ele precisa do toque das mãos. Isso deixa uma possibilidade de contato um pouco maior. Então ele tem que dar muita atenção à limpeza das mãos”, esclarece a secretária.

Para driblar os hábitos de tocar nas pessoas e objetos durante o dia a dia, Rosinha orienta os deficientes a usarem outra forma de contato. “Os cegos conseguem se comunicar com a voz. Então é tentar usar mais a comunicação verbal, evitar tocar nos objetos sempre que possível, o que claro que é difícil para eles. Também evitar ao máximo sair de casa, e ver com o empregador se é melhor ficar um período em casa”, pondera.

Sobre a presença de cegos no ambiente de trabalho, Rosinha sugere que ser feito de casa. “A gente tem feito isso pontualmente. Porque a maioria das pessoas servidoras ou prestadoras de serviço ou órgão de governo já foram dispensadas. As poucas pessoas que ainda estão trabalhando, são da parte administrativa do sistema de saúde, por exemplo, que está na linha de frente desse combate”, explica.

foto : Luis Macedo/Câmara dos Deputados

“A gente tem tentado pontualmente ver a possibilidade que essas pessoas sejam dispensadas ou colocadas em teletrabalho. Chegaram dois casos para a gente, e vamos argumentar para saber o que a Secretaria de Saúde pensa. A gente precisa ter cuidado para não generalizar e não colocar as pessoas com deficiência um público mais diferenciado do que já é. É um direito, mas não um privilégio”, declara a secretária.

Braille

Revisor técnico em braille da gráfica do Senado Federal, o deficiente visual José Ricardo Moura Moreira Lima, de 42 anos, é um exemplo de funcionário dispensado devido à pandemia. “Não podemos deixar de usar o tato, para ler, encostar nas pessoas. Sei que hoje está difícil, mas isso deixa a vida do deficiente visual mais difícil do que é. Não posso ter a noção do rosto da pessoa, se é liso ou tem alguma mancha. O deficiente visual é muito curioso, não basta ouvir. Tenho que saber quem é a pessoa. Isso deixa o deficiente constrangido. A vivência não mudou nada”, diz o rapaz

Morador de Ceilândia Norte, José faz parte do grupo de risco da covid-19, já que é diabético e cardiopata. Isolado em casa, ele conta que tem se higienizado e se informado pelo noticiário diariamente. “A minha mãe fica em cima de mim por causa das minhas enfermidades. Eu lavo as mãos com água e sabão, passo álcool em gel. Mas a minha vida está mais parada. Ouço televisão, fico conversando por telefone com os meus primos que moram em São Paulo e na Paraíba. E também vou no Google e ouço as notícias pelo leitor de tela do computador. Além de escutar as notícias no rádio e pela televisão”, afirma ele.

Cadeirantes

A secretária da Pessoa com Deficiência do DF, Rosinha Estrela, salienta que os cadeirantes precisam ter cuidado redobrado com a higiene para evitar a contaminação do novo coronavírus. “As pessoas com deficiência que utilizam cadeiras de rodas, muletas ou bengalas devem lembrar-se de higienizar, várias vezes ao dia e após deslocamento externo, com água e sabão, com álcool a 70% ou outro produto desinfetante, o aro propulsor da cadeira e os punhos da cadeira manual, os “joysticks” (controle) de suas cadeiras motorizadas, suas muletas e bengalas, assim como as mãos que são muito utilizadas durante a locomoção”, ressaltou.

Segundo Rosinha Estrela, novas recomendações para as pessoas com deficiência e para os cuidadores serão publicadas nas redes sociais oficiais da Secretaria da Pessoa com Deficiência do DF de forma interativa. “Comunicar em texto é muito bom e funciona bastante. No entanto, acho importante explicar a situação e ensinar como deve ser feito os cuidados às pessoas com deficiência de forma visual também, portanto, vamos investir em vídeos e em outros formatos diversificados”.

“Eu tenho medo de me contaminar”

“Tenho medo de ser contaminado pelo novo coronavírus porque faço parte do grupo de risco. Estou tentando manter a mente tranquila e seguir as recomendações da Secretaria de Saúde do Distrito Federal corretamente. O cuidado com a higiene aqui em casa aumentou bastante. Comecei a limpar o aro da cadeira de rodas duas vezes por dia. Sei que sou muito sortudo por conseguir fazer as atividades do dia-a-dia sozinho, o que deixa a minha vida menos complicada ao comparar com outros cadeirantes.” Esse é o desabafo do estudante de Jornalismo Diego Veiga, de 21 anos, que se tornou cadeirante aos 11 anos de idade devido à mielomeningocele.

A estudante de Direito Millena Silva de Moraes, de 21 anos, que sofreu paralisia cerebral ao nascer, conta que os cuidados de higiene foram redobrados em sua casa para evitar o contágio do novo coronavírus. “Eu e a minha mãe somos muitos próximas, porque eu preciso de cuidados especiais o tempo inteiro. Fico muito preocupada de algo acontecer com ela. Nem sei o que faria se ela fosse contaminada”, desabafou.

A mãe de Millena, Jocília da Silva Conceição, de 38 anos, diz que os cuidadores de pessoas com deficiência precisam receber mais informações sobre a pandemia. “Nós [cuidadores] estamos perdidos em relação ao novo coronavírus, o que é um grande problema. Precisamos receber mais orientações para agirmos corretamente. Fico apreensiva o tempo inteiro, porque se eu for contaminada, a Millena provavelmente também será”, pondera a mulher.

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