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Brasília

Peruano que morou na rua se dedica a fazer o bem

Fredy Ayvar criou a Amigos Voluntários SOS, no Paranoá, com um amigo

Pedro Marra

04/08/2020 6h42

Atualizada 06/08/2020 13h56

Com o sonho de ver a final da Copa América de 2019 entre Brasil e Peru, no Maracanã, em 7 de julho do ano passado, o peruano Fredy Ayvar, 34 anos, antigo chefe de hotelaria em Machu Picchu, juntou R$ 1 mil e decidiu se aventurar por terras brasileiras. Na véspera da partida, ele chegou de ônibus no aeroporto de Rio Branco-AC para comprar as passagens aéreas, mas quando foi conferir o pacote de dinheiro que guardou na mochila, viu que foi roubado, pois o valor não estava mais lá. Mesmo assim, ele ainda tentou chegar à final do torneio, mas acabou descobrindo outra missão no Brasil: ajudar pessoas em situação de rua.

Após chegar em Brasília de carona em carona e por viagens de ônibus, Fredy parou na Rodoviária do Plano Piloto no meio do caminho. “Quando eu cheguei, as pessoas diziam para eu ficar aqui porque o Rio de Janeiro era perigoso demais. Acabei ficando na rua com R$ 120, então usei esse dinheiro para comer e arrumar um emprego. Dormia muito tempo na rodoviária e no metrô da estação Shopping. Fui ao Centro POP da Asa Sul, em que me cadastrei e deixei minha mala por lá”, afirma o peruano.

No Centro Pop, ele guardava a mala. Mas foi no Instituto de Inclusão Social de São Sebastião que o ajudaram ainda mais. Lá, ele conseguiu a primeira bicicleta para o serviço de entregador. “Eu trabalhava muito a pé no começo, e a assistente social disse que um cara queria falar comigo, o Barba, um líder comunitário. Ele escutou a minha história e decidiu me ajudar. Aí me deu a bicicleta, por meio de uma amiga, a Carol. Eu gosto de ser grato com quem me ajudou. Aí usei por muito tempo, mas vendi há poucos dias e comprei outra mais resistente. Mas aquela me ajudou muito”, diz.

Chegou o momento em que o rapaz não tinha mais dinheiro no bolso, mas conseguiu um trabalho que lhe garantiu uma renda: entregador de aplicativo. “Eu enviava currículo em todos os lugares. Aí teve um dia que perguntei a um cara que estava fazendo entregas com bicicleta como eu podia trabalhar daquela forma. Aí fui para a empresa e um amigo me ajudou no cadastro. No fim de agosto, comecei a trabalhar para um aplicativo, o que ainda faço, mas agora estou focado em me voluntariar. Quando você faz essa ação, é uma felicidade própria. Gosto muito porque fico muito feliz em poder ajudar o próximo, mesmo sem ter muito dinheiro”, confessa o peruano, que atualmente mora de aluguel em uma kitinete na Asa Norte.

Líder comunitário

Sempre de máscara na rua, Fredy diz que faz serviços voluntários desde o início da pandemia no DF, liderando quatro projetos sociais além do Amigos Voluntários SOS (Corações em Ação, Por Amor Resgatando Sonhos, Bazar Solidário do Peruano e Rede de empreendedorismo social do DF), e ainda não foi diagnosticado com o novo coronavírus. “Conheci uma ONG que faz um trabalho no Setor Comercial Sul. Foi quando um líder ficou doente e eu assumi a organização no Plano Piloto. Eu praticamente morava lá administrando as doações. Aí em maio, uma amiga me perguntou se eu não queria entregar no Paranoá. Chegando lá, encontrei muitas pessoas em situação de rua, então decidi ajudar também. Aí criei o Amigos Voluntários SOS, no Paranoá, com alguns amigos da região, porque vi muitas pessoas em situação de rua lá, mas poucos projetos sociais. Graças a Deus ainda não peguei a covid-19”, recorda.

Fredy começa a trabalhar como entregador de aplicativo às 9h e volta meia-noite para casa. Mas não pretende deixar os estudos e o crescimento profissional de lado. “Ano passado, quando acabei o curso de administração, me dei conta que tenho facilidade para estudar. Tanto que atualmente tenho aulas de francês e português. E agora faço também um curso de técnico em computação no Senac. Sempre vou arrumar algumas conquistas no currículo para o meu crescimento profissional”, informa.

O peruano reconhece o acolhimento dos brasileiros, principalmente dos brasilienses. “O país foi muito grato e me acolheu. Aí pensei por que não posso ajudar o próximo? E eles podem ter certeza que têm um amigo que nunca vai abandoná-los”, emociona-se Fredy.

Luta pela causa social

O assistente social recebeu forte apoio do Instituto Migrações e Direitos Humanos ( IMDH) em sua chegada. Por lá, recebeu ajuda e conselhos para regularizar a documentação no Brasil.

Fredy conta também que ainda não mede esforços para unir a comunidade para ajudar pessoas em situação de rua.

“Foi e segue sendo dura a luta por rolar o projeto Amigos Voluntários SOS. No começo, pedimos ajuda da administração do Paranoá. Enviamos um oficio para, semanas depois, falarem que não tinham recursos econômicos para ajudar ao próximo. Além disso, fomos pedir ajuda dos comércios, com pouca resposta, precisamos de voluntários e doadores”, explica.

Fã de grandes jogadores de futebol brasileiros como Ronaldinho e o Pelé, ele diz que mudou um pouco o foco. “Arranjei outros sonhos. Ainda quero conhecer esses caras, mas o meu sonho agora é retirar essas pessoas da rua. Já passei pela situação de rua, mas graças a Deus, nunca usei drogas. Mas sei o que passam porque já presenciei o sofrimento deles”, finaliza.

Serviço
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