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Brasília

Obras esportivas no DF acumulam atrasos e cancelamento

Arquivo Geral

01/11/2016 9h00

Atualizada 17/11/2016 23h19

Reforma do Estádio do Cave está parada (Foto: Josemar Gonçalves/JBr)

Andrei Helber
Especial para o Jornal de Brasília

Quase dois anos no poder, o atual Governo do Distrito Federal demonstra ter herdado dificuldades da antiga gestão para concluir obras programadas, inicialmente, para atender eventos esportivos internacionais. É o caso da reforma do Estádio Antonio Otoni Filho, mais conhecido como “Estádio do Cave (Centro Administrativo Vivencial e Esporte)”, localizado na QE 23 do Guará II. A obra deveria ter sido iniciada ainda em 2012 para ficar pronta no ano seguinte e receber sessões de treino de seleções que disputariam a Copa das Confederações, o que não aconteceu. Desde então, a operação encareceu, acumulou novos prazos e, posteriormente, mais atrasos.

Como a reforma da arena não foi concluída em 2013, o trabalho teve de ser prorrogado para o Mundial de 2014. Embora o tempo tenha sido estendido, a obra, novamente, não saiu do papel. Coube ao GDF alterar a data de entrega para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016), já que Brasília foi escolhida para receber dez partidas de futebol da competição, incluindo, da seleção brasileira.

No entanto, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) e a Secretaria do Esporte, Turismo e Lazer do DF iniciaram a obra somente em 16 de abril deste ano – menos de três meses para o começo da Olimpíada. No fim das contas, apenas o gramado do Estádio do Cave foi trocado e, por isso, não apresentou condições adequadas de uso. Pequena parte do muro que cercava a arena foi removida e dá lugar, até o momento, a vigas de sustentação. Nada além disso.

Desde que o projeto de reforma foi lançado, o orçamento da obra aumentou cerca de 222%: de R$ 2,2 milhões saltou para R$ 7,1 milhões. Desse total, pelo menos R$ 6 milhões são custeados pelo Governo Federal. Já o restante da verba fica a cargo do GDF.

Em nota, a Novacap explica que o valor estipulado inicialmente era insuficiente para transformar o Cave em um complexo esportivo. Além de trocar o gramado, o projeto prevê melhorias na arquibancada, a construção de novos vestiários (os antigos foram demolidos) de 2,2 mil m², duas bilheterias, uma tribuna de honra, além de implementar uma pista de atletismo. Porém, se não bastasse a obra demorar a sair, quem trabalha nas imediações afirma que a reforma está parada há cerca de dois meses.

Ao lado da arena do Cave existe o campo do Pinheirinho. O gramado é público e utilizado pela Escola de Futebol do Guará, antigo Guaraense. O presidente e também técnico da entidade, Carlos Roberto Morales, conta que o estádio está interditado há mais ou menos um ano.

“A obra só começou mesmo quase na metade deste ano. Na maioria das vezes, o campo recebia jogos oficias de vários clubes do DF. Nós (da escolinha), usávamos o campo de vez em quando. Mas nosso escritório ficava dentro do estádio e os garotos aproveitavam os vestiários para colocar o uniforme. Hoje, muitos trocam de roupa na rua mesmo”, explica.

As atividades administrativas da instituição, que já tem 27 anos de história, foram remanejadas para outros espaços públicos daquela área. O escritório da escola, por exemplo, foi transferido, segundo Beto (como é popularmente conhecido), para o Ginásio do Cave, a poucos metros de distância do estádio.

Tudo parado

O JBr. visitou o campo e não encontrou máquinas operando, muito menos trabalhadores. Tapumes que isolam a área estão danificados, o que facilita a entrada de qualquer pessoa. A última data dada pelo GDF para a conclusão das obras era 14 de outubro. Descumprida, mais uma vez.

Para o atacante da equipe de juniores da Escola de Futebol do Guará, Gabriel Freitas, de 17 anos, ver a arena do Cave parada é um desperdício. “É sacanagem o que está acontecendo. A gente aqui jogando nesse campo cheio de buracos (Pinheirinho), sendo que podíamos estar em outro bem melhor”, reclama o jovem.

As obras para reformar o Autódromo Nelson Piquet foram paralisadas em 12 de janeiro de 2015. Os indícios de sobrepreço na licitação de valor superior a R$ 35 milhões, além de cobranças em duplicidade e outras irregularidades motivaram o cancelamento das atividades no local.

As intervenções no autódromo começaram em novembro de 2014. Com a paralisação das obras, no entanto, não é possível cravar uma data para o retorno das competições no local.

O impasse financeiro continua sendo o principal motivo para o abandono do local.

Mané (ainda) incompleto

Pode até soar como brincadeira, mas a reforma do Estádio Mané Garrincha – o mais caro do Mundial de 2014– não conseguiu cumprir integralmente o projeto original. Apesar de a obra ter tido seu custo calculado pelo Tribunal de Contas da União em R$ 1,6 bilhão, mais que o dobro do orçamento inicial (R$ 745 milhões), o serviço abortou a ideia de instalação de placas fotovoltaicas sobre a cobertura da arena, como havia sido prometido. O paisagismo do estádio também ficou apenas na maquete.

Um convênio firmado entre a Agência de Desenvolvimento do DF (Terracap), Companhia Energética de Brasília (CEB) e Novacap previa a instalação de tecnologia para captação e geração de energia solar para suprir parte do consumo de energia elétrica do estádio. Tal estrutura sustentável daria ao estádio o direito de receber o prestigiado certificado de construção ecologicamente correta (Certificação Leed Platinum).

O acordo entre as companhias, porém, teve de ser suspenso por tempo indeterminado por vários motivos, entre os principais, está o valor que teria de ser gasto.

De acordo com a Terracap, seria necessário investir cerca de R$ 15 milhões apenas nas instalações das placas. Mas para o sistema funcionar realmente, o governo teria de executar outras obras no estádio, o que o levaria a desembolsar mais RS R$ 343 milhões, algo inviável para o atual momento financeiro. O projeto sofreu também “impedimentos técnicos e legais”, que não foram revelados pelo governo.

Desejo frustrado

Em nota, a Terracap destaca que estuda a possibilidade de transferir a administração do Mané Garrincha à iniciativa privada. O órgão avalia realizar, no futuro, chamamento público de Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI). Este desejo é antigo, mas ainda não avançou.

No ano passado, a arena registrou prejuízo de R$ 6,5 milhões. O estádio mais caro da Copa do Mundo no Brasil faturou R$ 1.984.261 no período com a realização de 14 partidas oficiais e 60 eventos culturais e corporativos. Em contrapartida, gastou R$ 8.520.137.

Reforma do Mané Garrincha não recebeu instalação de placas solares conforme havia sido prometido (Foto: André Borges/ Agência Brasília)

Reforma do Mané Garrincha não recebeu instalação de placas solares conforme havia sido prometido (Foto: André Borges/ Agência Brasília)

Um legado olímpico a cumprir

O Governo Federal pretende lançar dois Centros de Iniciação ao Esporte (CIE’s) no DF. As obras fazem parte da Rede Nacional de Treinamento e servem para reforçar o discurso de que o legado dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos beneficiará o país inteiro.

A promessa é de que 249 CIE’s serão construídas em todas as unidades da Federação a um custo de mais de R$ 900 milhões. O projeto prevê ginásios públicos, bem equipados e estruturados, destinados à crianças e jovens que desejam ingressar no esporte.

No DF, os Centros de Iniciação serão erguidos, segundo o Ministério do Esporte, na quadra 1 de Sobradinho II; e outro na Área Comercial 115 de Santa Maria. As regiões devem ser contempladas com unidades de modelo II, que ocupam terreno de até 3.500 m².

A Secretaria de Esportes diz que o empreendimento vai custar mais de R$ 4,6 milhões, dos quais R$ 3.242.681,10 voltados à unidade e R$ 1.410.553,08 para obras externas.

Em Santa Maria a obra está prevista para ser construída perto de uma área de proteção ambiental, onde existe uma manancial monitorada pela Caesb.

A Secretaria de Esportes informou que “aguarda a finalização dos projetos pela Novacap e pela Segeth (Secretaria de Gestão do Território e Habitação (Segeth), além do cumprimento das exigências da Caixa Econômica Federal para autorização da licitação.”

Terreno desocupado em Santa Maria está programado para receber obra olímpica (Fotos: Andrei Helber e Divulgação/Rio2016)

Terreno desocupado em Santa Maria está programado para receber obra olímpica (Fotos: Andrei Helber e Divulgação/Rio2016)

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