Larissa Galli
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Foi-se o tempo em que grafitti era coisa apenas de homem. Hoje, a arte que estampa os muros dos grandes centros urbanos também é feita por mulheres e carrega em si o feminismo e a luta por igualdade e empoderamento – além, é claro, da particular expressão de mulheres que usam a sua arte como ferramenta de libertação pessoal e transformação e ocupação do espaço urbano.
No Distrito Federal, não é diferente. Se você já prestou atenção nos muros de Brasília ou das regiões administrativas, já deve ter percebido as meninas oníricas da brasiliense Camilla Siren – conhecida na street art apenas como Siren – ou os passarinhos e as mulheres permeadas de natureza da paraense Michelle Cunha – ou MiC -, por exemplo. Em entrevista ao Jornal de Brasília, MiC – hoje radicada em Brasília – conta como faz sua parte para fortalecer o grafitti como um rolê também extremamente feminista.
Oficinas
Em 2012, pensando em incentivar outras meninas a se empoderrarem e se expressarem por meio do street art, Michelle, 46, decidiu iniciar um projeto de oficinas apenas para mulheres.
“Tomei a iniciativa porque fiquei muito aborrecida quando soube de um festival de grafitti em Belém em que não havia nenhuma mulher participando”, conta. “Percebi que quase não havia mulheres nos grupos de grafitti. Sempre que eu saía para grafitar, era acompanhada por homens. Então, era uma forma de aumentar minhas companhias femininas e de não precisar de nenhum homem para fazer a nossa arte”, explica Michelle. “Quando vê uma mulher fazendo uma coisa que você não tem coragem de fazer, você se sente representada”, acrescenta.
De lá para cá, Michelle – que hoje vive de sua arte – já realizou oito oficinas, alcançando diretamente cerca de 120 mulheres. A primeira oficina foi realizada em Belém, no estado natal da artista, e de forma gratuita, para atingir um grande número de meninas. Michelle conta que, entre as 14 participantes, sete se juntaram e formaram um coletivo chamado Freeda’s Crew, que existe até hoje e ainda faz manifestações artísticas pela cidade.
Às brasilienses, Michelle avisa: a sua próxima oficina para mulheres vai acontecer nos dias 31 de agosto e 1º de setembro, sábado e domingo, no Espaço Cultural Dance+ (SHCGN 707). Mais informações pelo telefone 3879-7524.
“Grafitti não tem escola”
Michelle desenha, pinta e ilustra desde os 18 anos. Depois, ao conhecer o movimento do grafitti em Brasília, decidiu se dedicar. “Grafitti não tem escola; a forma de aprender é estar em contato com outros artistas; aprendi tudo na rua”, revela. E foram as ruas que deram visibilidade a seu trabalho.
“O grafitti é empoderador porque me trouxe uma projeção muito maior do que eu teria em uma galeria, por exemplo”, explica. “A oportunidade de fazer um trabalho público, para qualquer pessoa que passa na rua poder ver, traz mais visibilidade, porque alcança um público ilimitado”, completa.
Galeria a céu aberto
Amanhã, Michelle e outras seis grafiteiras do Distrito Federal – Carli Ramos, Fê8, Juba, Key Amorim, Marina Martinelli e Rayssa Miah – estarão no Parque da Cidade Sarah Kubitschek para começar a transformar o lugar em uma grande galeria de arte a céu aberto.
“Nós já nos conhecemos; fizemos vários mutirões juntas para restaurar áreas públicas”, conta Michelle. “Cada uma de nós tem o seu repertório, estilo e personagem, mas conversamos para construir um trabalho de forma coletiva, sem que percamos nossa personalidade”, completa.
As artistas vão colorir as paredes da sede da administração a partir de 10h; o público poderá acompanhar o trabalho durante todo o dia. Às 16h, acontece o lançamento do projeto Parque da Cidade: Galeria a Céu Aberto. O evento acontece a convite da administração do parque, com o objetivo de valorizar a arte, promover a cultura, celebrar a diversidade e construir conexões comunitárias.
Michelle está em sintonia com esse movimento: para ela, o graffiti é antes de tudo um instrumento de inclusão e emancipação. “Eu vim da periferia e sei o quanto é importante promover o acesso das pessoas à arte”, pontua.
