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Brasília

O padrão de violência de um serial killer

Relatos colhidos pelo JBr. mostram modus operandi do assassino, o que levou a filha de Genir a ter certeza de que o crime contra sua mãe se repetira com Letícia Curado

Marcus Eduardo Pereira

29/08/2019 6h32

Surgem cada vez mais vítimas

Após a prisão de Marinésio dos Santos Olinto, novos casos de morte e violência vêm à tona

João Pedro Rinehart, Larissa Galli e Vanessa Lippelt
[email protected]

“A gente se sente aliviado de terem encontrado o assassino, mas também triste por ter acontecido o assassinato da Letícia para descobrir quem matou minha mãe”, lamenta Jaiane de Sousa Ferraz, de 22 anos, filha de Genir Pereira de Sousa, 47, assassinada por Marinésio dos Santos Olinto. A moça é estudante e mora em Ceilândia com o marido e o filho. O irmão Leonardo, de 29 anos, vivia com a mãe em uma casa em Planaltina. Genir também era mãe de Jeann Vinícius de Sousa, de 21 anos, que faleceu em acidente de moto no Piauí.

Batalhadora, alegre, sorridente, forte, extrovertida e trabalhadora. É assim que Jaiane se recorda de sua mãe. “Era minha amiga e parceira. Estava sempre presente, amava brincar com meu filho. Era uma mãe, vó, tia e irmã muito maravilhosa”, relata.

 

“Gosto de lembrar dela sorrindo e gargalhando o tempo todo. Sinto falta todos os dias das mensagens de bom dia e dos fins de semana que passávamos juntas”, completa.

Jaiane conta que, quando os membros da família souberam do desaparecimento de Letícia, tiveram certeza que os crimes estavam relacionados.

“Foi na mesma região, praticamente no mesmo horário e nas mesmas circunstâncias. Não tínhamos dúvida de que os crimes estavam ligados”, diz.

Segundo Jaiane, Genir tinha costume de pegar transporte pirata devido à demora e ineficiência do transporte público na região de Planaltina e Paranoá. “É muito comum o transporte pirata naquela região. Muita gente usa, porque os ônibus demoram a passar e quem trabalha o dia inteiro quer chegar em casa logo. Mas minha mãe sempre avisava para onde ia e onde estava”, diz. “Por isso a gente sabia que tinha algo errado.”

A família de Genir está revoltada com a alegação de Marinésio de que a vítima teria aceito ter relações sexuais com ele. “Minha mãe tinha pavor dessas coisas; ela jamais concordaria em fazer isso com um homem que não conhece. Estamos revoltados porque esse homem está rebaixando minha mãe”, ressalta Jaiane.

Desaparecida desde 2018

Gisuânia Pereira dos Santos Silva, mais conhecida como Gisvania, 34 anos, desapareceu em 6 de outubro de 2018. A mulher foi vista pela última vez caminhando às margens da BR-020 nas proximidade Rajadinha I, em Planaltina. A situação desperta o interesse da PCDF pelas semelhanças com os desaparecimentos de Letícia Curado e Genir Pereira de Sousa.

A última notícia que se tem de Gisvania é uma filmagem da loja de conveniência de um posto de gasolina. Por volta das 4h de um sábado, a mulher pode ser vista aparentemente discutindo com um homem, em um veículo. De acordo com a PCDF, o homem foi investigado e foi descartada a possibilidade de envolvimento com o desaparecimento.

Gisvania teria sido vista por uma viajante e um homem que mora na região. O morador contou à família que a viu em um carro sendo agredida, aparentemente.

Amiga há anos da família, Géssica de Sena, 25 anos, disse que o homem viu Gisvania em um carro, pedindo para que a pessoa não fizesse nada com ela e dizendo que tinha uma filha. Segundo as características, o agressor tinha cabelos compridos. A descrição assemelha-se ao físico de Marinésio.

A irmã de Gisvania, Gislene Pereira dos Santos Silva, 36 anos, conta que a polícia não procurou a família. “Procurei a delegacia de Planaltina”, conta, sobre quando viu a repercussão do assassinato de Letícia na mídia. A mulher afirmou que a família está à espera do retorno da Divisão de Repressão a Sequestros (DRS). “Agora estão ouvindo ele (Marinésio). Eu espero que se esclareça alguma coisa.”

Além do homem no carro, o ex-marido de Gisvania também foi considerado suspeito. No dia anterior, ela estava em audiência sobre uma agressão que sofreu do ex-cônjuge – mas a polícia investigou ambos os casos e descartou qualquer relação com o desaparecimento.

No sábado, dia 6 de outubro, pela manhã, a mãe de Gisvania estranhou a falta de contato da filha. Com o passar do tempo, a apreensão aumentou. A família, então, começou a divulgar fotos dela, pedindo para, caso alguém a visse, entrar em contato. Géssica conta então que a irmã de Gisvania “recebeu uma ligação de uma moça que estava viajando para Minas Gerais, informando que tinha visto Gisvania em um posto de gasolina na BR-020”. Foi nesse momento que a família conseguiu acesso às imagens do posto.

O homem que estava no carro no vídeo colaborou com a investigação. Ele disse que a mulher “seguiu a pé pela BR”. Géssica conta que o homem “disse que não à conhecia e que só estava aguardando o posto abrir para abastecer o carro.”

Sobrevivente relata terror e depressão

No dia 25 de setembro de 2017, a vida como E.C.G., 42, a conhecia, acabou no banco de um carro vermelho onde foi agredida, estuprada e ameaçada de morte por Marinésio dos Santos Olinto. “A marca que ele me deixou não vai se apagar nunca“, murmura a mulher. A violência durou pouco mais de uma hora.

Naquela segunda-feira, E.C.G. estava na parada de ônibus, às 5h30, aguardando o transporte para seguir para o trabalho, no Hospital Brasília. Um homem parou o carro, desceu, foi até ela e, com uma faca, deu o ultimato: “Ou entra no carro ou você morre“, disse o assassino confesso de Letícia Sousa Curado e Genir Pereira de Sousa, preso na última segunda-feira (26).

A mulher conta que, ao entrar no carro, o agressor pediu a ela que ficasse calma, que não a machucaria. “Ele disse que já tinha me visto, que queria conversar, porque tinha gostado de mim“, relembra.

O comportamento amistoso do homem mudou quando ele virou o carro em direção a um pinheiral. O cozinheiro teria dito, então, que E.C.G. teria de escolher entre morrer ou deixá-lo fazer o que queria com ela. “Eu deixei“, admite, de forma quase inaudível.

Após consumar o estupro, sentenciou:

“Vou te matar, porque você olhou bem para o meu rosto. Ninguém que me viu, como você viu, viveu para contar a história”.

Mas E.C.G conseguiu escapar após um descuido de Marinésio. “Nesse momento, eu dei uma joelhada nele e saí correndo pela estrada.”
Em 2017, a mulher entrou em depressão e tentou o suicídio duas vezes.

“Eu vivo numa prisão desde então; enquanto eu ficava presa, ele continuava atacando”, diz.

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