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Brasília

O desafio de ser professor na pandemia

Jorge Antônio Cardoso é um dos docentes que precisou se adaptar às mudanças bruscas no contexto educacional da covid-19

Vítor Mendonça

15/10/2020 9h00

Jorge Antônio Cardoso, professor idoso da rede pública no DF. Foto: Arquivo Pessoal/Material cedido ao JBr

“O processo para se adaptar às novas tecnologias foi extremamente difícil”, relatou o professor de História Geral e do Brasil do colégio Urso Branco, do Núcleo Bandeirante, Jorge Antônio Cardoso, de 62 anos. “O corpo docente não estava preparado para se adaptar de uma forma tão repentina essas mudanças na educação que a pandemia trouxe”, continuou o educador. Ele completou 29 anos de sala de aula no último dia 7 de outubro.

A comemoração do dia dos professores será feita do lado de dentro de casa neste ano. Os recados, antes colocados em papéis e envelopes com desenhos, virão em forma de áudio e texto pela tela do computador, com miniaturas de alunos que acenam para uma câmera. A pandemia do novo coronavírus trouxe para os responsáveis pela educação de muitos novos desafios de familiarização com a tecnologia e ainda o ônus de arcar, do próprio bolso, com as providências necessárias para a adaptação.

No caso do professor Jorge, um dos gastos pessoais que precisou fazer foi a compra de um computador para ministrar as aulas on-line. “Gastei cerca de R$ 2.800 e já utilizava minha internet própria. Estou trabalhando com meus próprios recursos no contato com o aluno. […] Eu ainda estou com muita dificuldade para acessar [a plataforma], mas conto com a ajuda de colegas que têm mais vivência e facilidade em lidar com a informática”, contou.

Quanto ao processo de aprendizado aos novos conhecimentos tecnológicos, o docente destaca que, apesar da dificuldade de entendimento, os estudantes para os quais leciona foram e têm sido pacientes e compreensivos. “Os alunos não [têm as mesmas dificuldades]; eles têm mais facilidade. Mas às vezes eles não têm o equipamento necessário e os pais não têm condições. Não é fácil”, afirmou.”, acrescentou.

“Sem sombra de dúvidas esse foi o período mais difícil como professor [dentro dos 29 anos de carreira]. Porque [além de precisar se adaptar às tecnologias] também precisamos lidar com o aspecto psicológico. Todo o temor da covid-19 e a insegurança de não ter uma vacina mostram que esse é um momento extremamente difícil”, reforçou o professor. Segundo ele, também sofrem psicologicamente os alunos, uma vez que diversos estudantes da escola perderam familiares para a doença.

“Tenho alunos que tiveram os pais contaminados e eles ficaram naquela situação de momento crítico. Se recuperaram, mas, até recuperarem, os estudantes já ficam abalados psicologicamente”, relatou.

“Será algo permanente”

De acordo com Jorge, apesar de receber muitas demandas de alunos que não possuem condições de assistir a todas as aulas por falta de internet ou mesmo de indisponibilidade de aparelho eletrônico – por vezes com apenas um dentro de casa, conforme relatou o professor -, esta é uma tendência tecnológica que não deverá acabar nos próximos anos.

“Observo que, mesmo voltando aos poucos à normalidade, o misto da aula remota com a presencial será permanente na educação. […] Esse é um processo que será irreversível, tanto na educação quanto em outras áreas do trabalho. A questão é que a mudança veio justamente de uma infelicidade: a pandemia mundial. A mudança seria melhor em um momento mais feliz. Infelizmente foi em um momento de crise na sociedade”, lamentou.

Sobre uma valorização da profissão, com melhorias de trabalho, ambiente escolar e salário, o professor admite ser otimista, mas acredita que uma reforma na forma de se pensar a Educação brasileira será necessária. “O tempo é quem vai dizer.”

“Verdadeiros heróis”

Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília

De acordo com o Secretário Executivo da Secretaria de Estado de Educação do DF (SEEDF), Fábio Sousa, os professores são, neste momento de pandemia, “verdadeiros heróis”. “Ninguém foi capacitado ou estava preparado para trabalhar em um período de pandemia, nem no DF nem no mundo, com educação mediada exclusivamente por tecnologia. Os professores estão se reinventando”, reforçou. “Isso só prova que ser professor é aprender constantemente. Estão de parabéns e estão dando um verdadeiro show.”

Ainda segundo o secretário executivo, “nada substitui o professor em sala de aula, por melhor que seja a tecnologia”. No entendimento do representante da pasta, o docente tem papel fundamental dentro da educação e com o aluno. “Ele age como um mediador do conhecimento, além de ser um espelho e um exemplo para os estudantes”, disse. Mas não são excluídas possibilidades de ensino híbrido.

“Não sabemos ainda como será o ano letivo em 2021. Esperamos, com certeza, que tenhamos um ano já com condições de retornar às atividades presenciais, mas, independente disso, o estudo para o ensino híbrido não é descartado de forma alguma”, afirmou Fábio. “Essa pode ser uma possibilidade para o ensino em tempo integral, com turnos presenciais na escola e outros mediados pela tecnologia”, completou.

Hoje as comemorações da data ficaram a cargo de cada Região Administrativa do DF para com os docentes das instituições de ensino público da capital. Haverá lives, dinâmicas pela tecnologia, entre outras homenagens de forma interativa. Em nota, a SEEDF afirmou também que “planejou uma programação on-line de atividades de valorização dos professores e servidores da rede pública de ensino em geral”, a serem realizadas entre os dias 26 e 30.

Na última terça-feira (13), o Sindicato dos Professores no DF (Sinpro-DF) organizou uma live musical nas redes sociais do órgão para homenagear os docentes das instituições de ensino da capital. Participaram da comemoração on-line Arnaldo Antunes e a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro (OSTNCS), além de outros artistas da capital.

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