No cemitério dos indigentes, as flores secam mais rápido. A terra vermelha, pontilhada de sepulturas toscas, abriga os corpos dos renegados, sem família, nunca identificados. Em 2015, foram 138 pessoas enterradas nestas condições, de acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social (Sedhs), e tudo o que se sabe sobre elas é isso: estão mortas.
A pasta informou que a maioria dos sepultamentos desse tipo envolve moradores de rua, sendo 50 adultos e 88 crianças este ano. Em alguns casos, as lápides registram os nomes prováveis, já que um conhecido pode ter avisado ao Instituto Médico Legal (IML) sobre o apelido ou o modo como chamavam o falecido. Os caixões não são mais os de papelão utilizados há alguns anos. Agora, são de madeira e biodegradáveis.
A falta de dados não se estende apenas à identificação dos falecidos. Tanto a Sedhs quanto a Secretaria de Segurança Pública e Paz Social têm dificuldades em reunir dados sobre o assunto. Os indigentes se misturam aos reconhecidos de baixa renda e fazem parte do mesmo bolo de informações. Para os arquivos públicos, nunca existiram, mas ocupam espaço.
Desleixo
O funcionário de uma funerária, que preferiu não se identificar, criticou o modo como os enterros sociais são conduzidos, especialmente no caso dos indigentes. Quando abordado pela reportagem, dentro do cemitério na Asa Sul, ele havia acabado de ser contratado por uma família que, por pouco, não teve o ente querido sepultado como desconhecido.
“Descobriram um jazigo da família e acionaram meus serviços. Agora, eu vou limpar essa senhora e preparar para o velório”, explicou o funcionário.
A idosa, que teria falecido em um hospital e cujos familiares teriam parcas condições financeiras, ainda estaria ensanguentada e mal arrumada. “Colocaram só uma roupinha sobre o corpo e mais nada. Eu que vou fazer o trabalho de embalsamar e colocar os adornos. Tratam os indigentes de qualquer jeito”, reclama.
Áreas sociais
A Campo da Esperança Serviços Ltda., responsável pelos seis cemitérios do DF, informou que realiza de 80 a 100 sepultamentos por mês – de um total de 900 – em áreas sociais dos lotes administrados. A empresa disse não interferir nos processos e destinar 10% dos terrenos, conforme determinado em contrato, para este tipo de enterro.