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Psicanálise da vida cotidiana
Psicanálise da vida cotidiana

“Não foste para Pasárgada”

Somos simplesmente homens experientes que no século passado tivemos a felicidade de ter uma educação de cunho humanístico e uma visão política da nação

Carlos de Almeida Vieira

27/02/2020 18h16

Atualizada 03/04/2020 15h58

Num belo livro de Carlos Drummond, “Uma forma de saudade-páginas de diário”, encontramos um poema do itabirano dedicado a Manoel Bandeira que diz: “Não foste embora pra Pasárgada/ Não era teu destino./ Não te habituarias lá./ Em seu território próprio, intransferível/ nem rei nem amigo do rei,/ és puramente aquele lúcido/ e dolorido homem experiente/ que subjugou seu desespero/ a poder de renúncia, vigília e ritmo”.

Nós brasileiros, somos simplesmente homens experientes (alguns) que no século passado tivemos a felicidade de ter uma educação de cunho humanístico e uma visão política da nossa Nação. Anos se passaram, governos impostos e eleitos prometeram Pasárgada e nós acreditamos, principalmente os brasileiros com déficit na Educação esperando sempre um Messias, travestido de político e com promessas salvadoras. Após o período ditatorial vieram democratas(?) até hoje, imbuídos num egocentrismo desvairado, beneficiando os parceiros da “liberal democracia?”.

Pasárgada não chegou mesmo. O que resta é um país deficitário em Educação, Saúde, Distribuição de Renda, principalmente Educação, um pilar básico, obrigatório, para que a população tenha condições de desenvolver Cultura e senso crítico na escolha de seus candidatos. Que pensamentos devemos ter, “homens experientes” de agora para frente, nessa segunda década do ano 2000?

Lembro-me das palavras de F. Nietzsche em seu livro Assim falava Zaratustra: “O presente e o passado desta terra… aah, meus amigos! Eis, nada conheço demais insuportável: e eu não poderia viver, se não fosse um visionário do que deve vir. Um vidente, um desejante, um criador, um futuro e uma ponte para o futuro – e também, até certo ponto, um aleijado no meio dessa ponte: – tudo isso é Zaratustra. E vós também vos interrogastes muitas vezes: ‘Para nós, quem é Zaratustra? Como o poderemos chamar?’ E à minha semelhança, destes as vossas perguntas como resposta”.

Zaratustra não se faz pelas respostas, mas pelas perguntas! Que país queremos, hoje? Será que nosso futuro está baseado principalmente na economia de mercado, na evangelização fundamentalista e em governos que governam por medidas provisórias e decretos de leis? Necessitamos retomar uma educação humanizada, condições de saúde e atendimento público, cultura e aprimoramento das nossas Universidades para pesquisas científicas. Caso contrário, nadaremos em mares já navegados e sabemos que esses mares nos levam ao fundo do oceano.

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