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Brasília

Na Rússia já é tarde: álcool compõe café da manhã de brasilienses em dia de jogo

Arquivo Geral

22/06/2018 11h21

Cerveja virou café da manhã para muitos torcedores. Foto: João Stangherlin/Jornal de Brasília

Jéssica Antunes
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Antes mesmo de o árbitro dar início à segunda partida da seleção brasileira na Copa do Mundo da Rússia, brasilienses já se aglomeravam em bares da cidade. É desculpa para se reunir e até para tomar aquela cerveja gelada fora do horário convencional. É sexta, é futebol, é a expectativa pelo hexacampeonato da equipe canarinho. A estimativa do Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes (Sindhobar) é de faturamento de 5% a 10% maior durante o dia.

A mesa de café da manhã do Primeiro Bar, no Sudoeste, foi disputada até os primeiros 15 minutos de jogo. Àquela altura, os corações já haviam acelerado com uma falta batida perto da área adversária. Entre pães, tapiocas e bolos, petiscos como batata frita e pastel fizeram sucesso. As portas do estabelecimento abriram às oito. Para entrar, a torcida paga R$ 30 por pessoa para consumir livremente.

“Primeiro forrei o estômago com salada de fruta e tapioca, bem light, pra depois pedir cerveja”, brinca o bancário Bruno Ricardo, 35 anos. Ele saiu da Asa Norte para assistir a partida em um bar com amigos. Quando Gabriel Jesus fez o gol anulado pelo juiz, o brinde já acontecia na mesa. Ao lado de Reinaldo Mazzocato, 31, ele lembra que, em 2002, quando o mundial foi no Japão e Coreia, o espírito era o mesmo, ainda que as partidas acontecessem muito cedo.

Bruno Ricardo e Reinaldo Mazzocato. Foto: João Stangherlin/Jornal de Brasília

“É um misto de momento de lazer com emoção. Envolve uma paixão do brasileiro que é o futebol”, descreve. O grupo está confiante com a equipe comandada pelo técnico Tite. No dia 6 de julho, eles embarcam para a Rússia e esperam ver a seleção canarinho em campo.

Com toda a família, a dona de casa Juliene Fernandes, 31, preferiu esperar o jogo acabar para pensar em bebida alcoólica. Até lá, aproveitou o café da manhã fornecido pelo estabelecimento que resolveu assistir ao jogo com marido, mãe, filhos e genro. “A gente se reúne em todo jogo do Brasil. O último foi em casa, mas resolvemos fazer algo diferente desta vez”, conta. Sobre o hexa, ela é reticente: “tem que ser otimista, espero que venha, mas acho que não vai acontecer”.

Juliene Fernandes reuniu a família para torcer pelo Brasil. Foto: João Stangherlin/Jornal de Brasília

No Primeiro Bar, foram investidos quase R$ 200 mil em televisões, telões e mantimentos fora do tradicional para o ramo de bar. Wallace Santos, sócio-proprietário acredita que “copa é copa”, independente do desânimo da população. “Copa faz coisa que até deus duvida. Temos um cardápio legal, comida boa, três telões e várias televisões. Foi tudo bem preparado e nossa expectativa é boa, mas era uma incógnita”, diz. Se depender da animação dos brasilienses, o local vai lotar até o fim do campeonato. “Não surpreende o fato de beberem cerveja logo cedo. Álcool também nutre”, brinca.

Wallace Santos, sócio-proprietário acredita que “copa é copa”, independente do desânimo da população. Foto: João Stangherlin/Jornal de Brasília

Na Rússia já é tarde

Nem todos os estabelecimentos fizeram cardápio especial para os torcedores. Em outro bar, Fausto e Manoel, na quadra 101 do Sudoeste, petiscos e drinks começaram a sair às 6h. Afinal, na Rússia já era quase meio dia. Nas mesas, clientes tomavam de suco a uísque e cada lance era motivo para gritaria, expectativa e um pouco de reclamação.

Torcida no Fausto e Manoel, no Sudoeste. Foto: João Stangherlin/Jornal de Brasília

As amigas Val Bastos, 33, Regina Barros, 29, e Flávia Nascimento, 47, esbanjaram animação durante todo o jogo. Gritaram, brigaram, se frustraram com o pênalti anulado pelo árbitro de vídeo e brindaram. “Começamos a beber às 7h pra já chegarmos no segundo tempo felizes”, brinca a professora Val. Elas dizem que inventam motivo para se divertirem e, durante Copa do Mundo, é ainda mais fácil.

“Gostamos da competição, desse clima festivo. É mais um motivo para beber. Começamos ontem pra não ter a desculpa de ser cedo demais”, zomba a consultora de viagens Flávia, que ainda terá que encarar um dia de trabalho.

Val Bastos, Flávia Nascimento e Regina Barros (esquerda para a direita). Foto: João Stangherlin

Elas esperam que o Brasil continue na competição o máximo possível e, de preferência, se consagre como campeão. “Brasileiro sempre acredita e a esperança é a última que morre. A gente quer que ganhe pra continuar comemorando, bebendo e se divertindo, mas está sofrido”, diz a vendedora Regina.

O gol de Philippe Coutinho no fim do segundo tempo despertou ainda mais o espírito festivo dos brasilienses. Já nos acréscimos, a menos de quatro minutos do fim da partida, todos esperavam que a bola balançasse a rede do gol costa-riquenho pela segunda vez. A ampliação veio pelos pés de Neymar e o otimismo voltou a pairar em solo candango. Após a dramática derrota da rival Argentina, a vitória também foi motivo para zoação: “Messi, tchau tchau tchau. O argentino já está chorando, essa copa eu vou ganhar”, cantou a torcida no bar.

Entre a torcida e o trabalho

Difícil mesmo é trabalhar enquanto o jogo rola. Emerson de Lima Tavares, 42, teve que conciliar o atendimento aos clientes com a torcida. Garçom há 12 anos, ele conta que sempre atuou em dias de jogos e que não mede cornetadas aos jogadores, técnicos e arbitragem.

“Fico focado em tudo, mas não consigo deixar de gritar. A gente sofre demais”, fala. No bolão dos funcionários, ele apostou vitória brasileira por 2×1. “Cheguei às 6h para ajeitar tudo”, revela, com um sorriso no rosto. “Tem que ser feliz”, explica, momentos antes de pedir cartão amarelo para o bandeirinha que indicou impedimento em um lance importante.

Emerson de Lima Tavares teve que conciliar o atendimento aos clientes enquanto ‘fugia’ para assistir ao jogo. Foto: João Stangherlin/Jornal de Brasília

Os garis da empresa Sustentare ganharam uma folguinha no meio da partida para ver o jogo. “Vamos trazer o caneco!”, garante Luiz Demétrio, de 47 anos. “Graças a Deus a empresa liberou para ver o jogo na rua, mas agora vamos trabalhar com gosto de vitória”, comemorou.

Os garis da empresa Sustentare ganharam uma folguinha no meio da partida para ver o jogo. Foto: João Stangherlin/Jornal de Brasília

 

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