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Brasília

Músicos de rap no DF buscam alternativas durante pandemia

Muito conhecidas no Brasil inteiro, as batalhas de rap são famosas por reunirem talentos e admiradores do estilo musical

Agência UniCeub

21/09/2020 18h55

Foto: Arquivo pessoal

Arthur Ribeiro, Bernardo Guerra e Thiago Quint
Jornal de Brasília/Agência UniCEUB

João Vitor Brito Araújo, 21, músico de rap, também conhecido pelo nome artístico Oposto, é o organizador da “Batalha do Prn”, que ocorria na região administrativa do Paranoá, na Praça da 21. Impossibilitado de planejar o evento por questões de segurança devido ao receio de ser contaminado pelo novo coronavírus, e sem previsão de volta, o jovem teve a iniciativa de criar o projeto para dar visibilidade para os músicos do hip hop na região administrativa.

Tendo em vista esse cenário, João Vitor buscou outras opções de manter o público em contato com a música, e fez lives no Instagram entrevistando MCs e divulgando seus trabalhos, batalhas de rima no grupo de WhatsApp, e uma live com seu parceiro DJ Cordeal, onde tocou apenas projetos dos artistas “da quebrada”.

Apesar de utilizar o meio virtual para preencher o espaço do rap, Oposto acredita que o isolamento social pode frear o crescimento do estilo no DF. “Não está tendo show, e por isso não está tendo oportunidade de muitas pessoas que tinham que estar nesse corre do som e não estão conseguindo por causa disso, porque a música e o rap é exatamente isto: a rua, a interação com as pessoas, é você ir de quebrada em quebrada para conquistar seu nome”.

Ainda assim, João tem fé de que após a pandemia o cenário será positivo porque, segundo ele, as pessoas irão valorizar e passar a frequentar mais os movimentos de rua.

Tradição

O movimento do rap teve seu início no DF ao final da década de 1980 e início dos anos 1990, e teve como seus precursores DJ Jamaika, Gog, e pouco depois Viela 17 e Tribo da Periferia, o que pavimentou o caminho que atualmente conta com nomes de Hungria Hip-Hop, Froid, Menestrel e Sid.

Segundo pesquisa feita pela Associação Brasileira de Música e Artes (ABRAMUS), o gênero musical é o sexto mais ouvido no Brasil, atrás apenas dos tradicionais MPB, sertanejo, pop, funk e rock. Mesmo em ascensão nos ouvidos do público, o estilo enfrenta as dificuldades da pandemia.

Muito conhecidas no Brasil inteiro, as batalhas de rap são famosas por reunirem talentos e admiradores do estilo musical.

A exemplo de Oposto, outro participante das batalhas de MC’s candangas é o pernambucano Cesar Alexander, morador do DF há 6 anos, atualmente reside na Asa Norte, 21, vulgo Xande MC.

Estudante de Educação Física, ele conta que, desde pequeno, já possuía contato com o rap por conta da influência do irmão mais velho, que sempre escutou as músicas de Marcelo D2, Cabal e dos Racionais. Porém, Cesar revela que só foi se envolver com os duelos em 2014, quando assistiu pela internet e ficou encantado com a possibilidade de debater através de rimas.

De acordo com ele, as rodas de hip hop serviram, além de um meio para desenvolver seu vocabulário e conhecimento sobre a cultura, como válvula de escape para expressar emoções que tinha dentro de si.

Xande MC e Choice, nome conhecido pelos fãs do rap nacional (Foto: Arquivo Pessoal)

Xande é frequentador assíduo do Paredão do Rap, no Parque Vivencial do Lago Norte, onde chegou a rimar com os MC’s Sid (DF) e Choice (RJ), renomados no cenário nacional. Ele relata que tentou contornar a ausência dos duelos comparecendo a BDA (Batalha da Aldeia – SP) digital e a própria Batalha do Paredão, ambas realizadas via Discord, aplicativo de conversa online em grupo.

“Batalha não é zona”

Mesmo participando desses encontros virtuais, Cesar acredita que a pandemia influencia em tudo, e as disputas não escapam disso. Segundo ele, os eventos representam uma forma de divulgação do trabalho dos músicos.

Nesse sentido, o MC trata com cautela sobre a possibilidade de volta das atividades presenciais no rap.

“Por mais que grande parte da sociedade taxe as batalhas como uma ‘reunião de vagabundos’, o que a gente faz não é bagunça. A galera é bastante conscientizada. Na minha previsão, acredito que só volte no próximo ano. Tudo de forma regrada. Batalha não é zona, tudo será com distanciamento”, concluiu.

Xande MC e o MC Sid, nome famoso nas batalhas de rap da capital (Foto: Arquivo Pessoal)

Gustavo Nogueira Costa, 26, o Gustavo JK, está divulgando o seu mais novo trabalho, o “Love de Verão”. O rapper de Sobradinho teve contato com a música cedo, não à toa já aos 12 anos, escrevia as próprias composições. Segundo o cantor, a intenção com o projeto é fazer um som mais bem aceito pelo público, deixando de lado seu estilo inicial, que contava com canções mais no tom de ostentação.

Ele recorda que, inicialmente, ficou receoso com relação a ir ao estúdio para gravar as faixas, porém, com o tempo foi se adaptando ao panorama e conseguindo realizar as captações de voz e gravações de videoclipes. Nesse sentido, JK enxerga os pontos positivos do período de isolamento.

“Eu acredito que é uma oportunidade, temos que ver o ponto positivo em tudo, tentar enxergar os dois lados da moeda. A pandemia, por ela segurar mais as pessoas em casa, estando mais conectadas com o meio digital, aumenta a possibilidade delas escutarem o seu trampo”, comentou.

Gustavo JK vem aumentando seu sucesso (Foto: Maria Clara Nogueira)

Além da sua própria ascensão, Gustavo também vê o rap no DF em crescimento de popularidade. “Eu acredito que nós temos uma característica própria, que é diferente de outros estados. O rap de Brasília se destaca de uma forma distinta, o som, os elementos, os trampos aqui são diferenciados, é bem regional. Tem muito para crescer ainda, falta um pouco mais de incentivo para os artistas daqui, tem muita gente que está na correria de ter uma carreira sólida na música, e, querendo ou não, a oportunidade nem sempre é a mesma para todos”.

Ansioso para subir aos palcos novamente, o rapper também demonstrou confiança quanto ao futuro pós pandemia, que, de acordo com ele, terá as pessoas aproveitando mais os shows, eventos, e trabalhos nas ruas.

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