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Brasília

Morte por gripe coloca a capital em alerta

Arquivo Geral

12/04/2018 7h00

“Estamos completamente perdidos”, reclama Sinval Lima dos Santos com o filho nos braços/Foto:João Stangherlin

Jéssica Antunes e Rafaella Panceri
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A primeira morte causada pelo vírus Influenza A H1N1 neste ano no DF é de um homem de 54 anos. Ele havia sido diagnosticado com síndrome respiratória aguda grave e faleceu no Hospital Regional de Ceilândia, no fim de março. Além deste, foram registrados mais dois casos de Influenza A H1N1, sem mortes, e um de metapneumovírus, com um óbito, em 2018. A campanha de vacinação começa no próximo dia 23.

Sobre a morte por H1N1, o subsecretário de Vigilância à Saúde, Marcus Vinicius Quito, ressalta que o homem era portador de doença sanguínea hematológica, o que contribuiu para o óbito.

O outro caso de morte, desta vez por metapneumovírus, é de uma criança portadora de uma síndrome congênita e do vírus, simultaneamente. O metapneumovírus é o segundo com maior incidência de registros. Os outros dois casos H1N1 evoluíram para cura. O primeiro deles foi de um bebê de 15 meses, que ficou internado no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib). O segundo foi de outro bebê, de um ano, nascido fora do Distrito Federal, mas que ficou internado no Hospital de Base.

O subsecretário de Vigilância à Saúde, Marcus Vinicius Quito, afirma que a secretaria pretende vacinar, neste ano, 703 mil pessoas pertencentes aos grupos de risco: com 60 anos ou mais, gestantes, mães até 45 dias após o parto, crianças de seis meses a menores de cinco anos, portadores de doenças crônicas não transmissíveis, trabalhadores da saúde, população indígena e detentos. A dose é única. Apenas bebês que tomarem a vacina aos seis meses precisarão de reforço.

A diretora de Vigilância Epidemiológica, Maria Beatriz Rui, garante que a vacina é segura. “As pessoas podem desenvolver um quadro viral, uma resposta imunológica à vacinação, e adquirir outros vírus respiratórios. A vacina protege contra as formas graves”, explica.

Segundo a Saúde, a maior ocorrência de gripe pelo vírus Influenza nesta época do ano, quando está mais frio, é esperada. Os casos graves podem ser evitados com a vacinação. “Em 2017, quando não houve circulação do Influenza no DF, a população não se preocupou com a vacina. Agora, é importante essa mobilização”, alerta Quito. Para o subsecretário, a volta do vírus se deve a um conjunto de fatores — ambientais, populacionais, características individuais e oportunidades encontradas pelo Influenza para penetrar em locais onde as pessoas não estão imunizadas.

InfoJBr./Baggi

Prevenção

Professora de Biomedicina do UniCeub, Maria Creuza Ferreira explica que a Influenza pode ser perigosa quando não há cobertura vacinal. A medicação da Secretaria de Saúde protege contra três tipos: H1N1, H3N2 e Influenza B. Para a especialista, é importante que as pessoas façam o que está ao alcance: a prevenção. “É manter as mãos limpas, evitar locais com aglomerações e tomar vacinas”, explica. De acordo com ela, a vacinação é negligenciada por medo, falta de informação e até preguiça. Ela alerta que automedicação não resolve: “Só retira o sintoma”.

São mais de 200 tipos no País

Mais de 200 vírus da gripe circulam pelo território brasileiro e, no Distrito Federal, o H1N1 está presente em cerca de metade dos diagnósticos. É ele o responsável pelas maiores complicações nos grupos de risco, mas nem todos os infectados desenvolvem síndromes respiratórias agudas graves, que podem levar à morte. Em 2016, o DF viveu um surto da gripe H1N1, quando 17 pessoas morreram entre mais de 130 diagnósticos realizados. Naquele ano houve mais de 640 mil vacinados. Em 2017, nenhum morador do DF teve a doença e 700 mil doses foram aplicadas.

“O H1N1 é o tipo mais comum, mas há cepas não-agressivas e agressivas, que têm um percentual baixo em relação ao todo”, explica o clínico Luciano Lourenço, médico intensivista e chefe da Emergência do Hospital Santa Lúcia.

É o quadro clínico que difere as gripes e suas intensidades. “Geralmente, infecções não complicadas têm quadro gripal comum, com dor na garganta, coriza, dores nas articulações, nos músculos. O alerta tem que ser levantado quando o sintomas forem mais severos que as outras experiências ou com complicações do padrão respiratório”, diz o especialista. A falta de ar é um sinal que diferencia de gripes comuns.

Outros tipos de vírus circulam por aí, como o H3N2, que tomou força neste ano no hemisfério norte. “Independentemente do vírus, é preciso ficar alerta aos sinais de infecção que, nessa época do ano, se intensifica. Não há indícios de que devemos ter preocupação maior do que o normal. Não estamos em uma situação de surto”, garante o médico.

Mayara, Francinaldo e os filhos estão com sintomas da gripe. Avô das crianças teve diagnóstico confirmado de H1N1/Foto: João Stangherlin

Perigo por todo lado

A sinfonia de fungados e tosses dá o tom nos pronto-socorros do DF após o início da queda das temperaturas. A maioria busca alívio para gripe infantil e melhora para os pequenos que, muitas vezes, sequer entendem o que acontece. Nos braços da mãe, um menino com um ano de vida se remexe, chora e convive com o nariz escorrendo. No chão, o mais velho, de seis anos, tosse e tem coriza. Em casa, todos apresentam sintomas da doença há quase uma semana, sendo mais grave aos avós – tendo o patriarca diagnóstico de H1N1.

“É mais preocupante com os pequenos. A gente não sabe o que estão sentindo e pode ser algo grave”, diz a mãe, Mayara Soares, dona de casa de 22 anos. Na manhã de ontem, a família saiu de Brazlândia em busca de atendimento médico. Eles passaram pelo hospital da cidade, foram ao Regional de Ceilândia, mas só conseguiram ser recebidos em Taguatinga, que tinha emergência lotada, após três horas de espera.

O pai, Francinaldo Gomes, agropecuário de 23 anos, conta a falta de profissionais nas unidades básicas de saúde provoca incerteza e indignação. “Mandam de hospital para posto, que também não adianta. Eu mesmo não venho atrás de atendimento porque sei que vai ser viagem perdida. Prefiro tomar um remédio e ver se melhora. Mas não dá para fazer o mesmo com as crianças”, lamenta.

Falta de atendimento

Os pacientes acusam dificuldades no acesso à atenção básica e no tratamento dos médicos da família. “Só resta rezar. Não tem o que fazer”, lamenta a secretária Fernanda Fernandes, de 34 anos. Em casa, ela, o marido e dois filhos têm sintomas de gripe e após quatro dias de coriza, tosse e febre alta, ela levou Bernardo, de dois anos e três meses, à emergência do Hospital Regional da Asa Norte (Hran).

“Primeiro fomos ao posto de saúde no Lago Oeste, mas o médico da família disse que era gripe e que não podia fazer nada, só esperar. Ele nem viu direito a criança e não pediu exame”, relata. A febre forte é o que mais a preocupa e, na creche do pequeno, a maioria das crianças apresenta doença respiratória.

Fernanda Fernandes /Foto: João Stangherlin

 

“A gente fica com medo por não saber o que é. Chega aos postos e dá de cara com nada. Nos hospitais, faltam médicos. Estamos completamente perdidos”, reclama o eletricista Sinval dos Santos, 40 anos. O filho, Samuel, completou dois anos de vida com febre alta. “Não quis arriscar medicação porque é criança. A gente, que é adulto, toma qualquer coisa mesmo”, confessa.

Segundo a Saúde, médicos estão orientados a identificar o sintoma diferencial da doença e, tanto nos postos quanto em hospitais, seria possível fazer o controle da dispersão do vírus com medicação.

Saiba Mais

Segundo o Ministério da Saúde, o País registrou 228 casos de Influenza e 28 óbitos em 2018. Do total, 57 casos e dez óbitos foram por H3N2. Em relação ao vírus H1N1, foram registrados 84 casos e 8 óbitos.

Ainda foram registrados 50 casos e 6 óbitos foram por Influenza B. Outros 37 casos e quatro óbitos foram provocados por Influenza A sem subtipo definido. Em 2017, foram registrados 2.691 casos e 498 óbitos por influenza.

Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar, os planos de saúde não estão obrigados a oferecer e cobrir a vacina contra a gripe. Em clínicas particulares, o Jornal de Brasília encontrou vacina trivalente por custos entre R$ 100 e R$ 150.

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