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Brasília

Mobilidade urbana: ônibus são mais que ruins. São péssimos.

Pesquisa mostra grande insatisfação dos usuários com o transporte público do Distrito Federal. Principal problema é a lotação dos veículos

Vítor Mendonça

17/11/2020 6h31

Para população, ônibus são péssimos no DF

Durante um ano, 2.960 pessoas responderam pesquisa sobre transporte

O brasiliense sofre com a lotação dos ônibus e está insatisfeito com a qualidade do transporte público do Distrito Federal. É o que aponta a última fase de pesquisa do projeto Como Anda Meu Ônibus, que divulgou ontem relatório a respeito da opinião dos usuários do transporte. No período de um ano de levantamento, 2.960 participantes responderam e sugeriram melhorias no questionário sobre o transporte coletivo rodoviário elaborado pelo Instituto de Fiscalização e Controle (IFC), e encomendado pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT).

Em todos os períodos de auditoria realizados – a cada bimestre desde agosto de 2019 – a lotação dos transportes foi o item mais crítico nos relatórios apresentados. Aproximadamente 67% avaliou as lotações dos ônibus como “péssima”. De acordo com o entendimento do IFC, conforme as pesquisas indicam, os resultados confirmam “a característica pendular do transporte público no DF”, isto é, o grande fluxo de pessoas das Regiões Administrativas periféricas para o centro do Plano Piloto no início do dia para ir trabalhar, e o contrário ao fim do expediente.

As maiores porcentagens de representação para a categoria “péssimo” foram Samambaia, com 14,88%, seguida de Ceilândia com 11,84 %, e Sobradinho I e II em terceiro, com 7,24%. Em quarto lugar está o Recanto das Emas, com 6,48% das avaliações. O entorno contribuiu com 4,45% desta mesma análise. Avaliaram a mesma categoria como “ruim” 18,21% das pessoas, seguido de 9,9% para avaliação “regular”, 4,43% como “bom”, e menos de 1% – 0,71% – como “ótimo”.

Ainda sobre a mesma característica, em análise das respostas justamente daqueles que declararam utilizar o transporte entre “5h às 8h” ou “17h às 20h”, além daqueles que os usam nas duas margens de horário – o que corresponde a 1198 questionários respondidos – a avaliação da lotação é ainda pior. Com esse aspecto, as avaliações “péssimas” correspondem a pouco mais de 73% das respostas. Em seguida, avaliam como “ruim” 16,28% dos participantes, como regular 7,76%, “bom” em 2,5%, e apenas 0,42% “como ótimo”.

Perigo

Com a pandemia do novo coronavírus, resultados negativos com relação à lotação dos transportes públicos do DF são preocupantes. De acordo com o infectologista Hemerson Luz, a disseminação é quase inevitável. “Com a quebra das distâncias de segurança, os ônibus lotados podem sim ser fortes pontos de disseminação – ainda mais se as pessoas não realizam a higienização das mãos -, assim como locais fechados sem circulação do ar”, afirmou o especialista.

Para evitar circunstâncias como essas, ele recomenda evitar os horários de maior pico ou escolher momentos menos cheios, se for possível. “Se também houver possibilidade de sair antes em alguma parada, caminhar um pouco mais dependendo da distância até o ponto desejado também ajuda”, disse.

Relatório foi enviado ao governo

“Temos que pensar que a transmissão pode acontecer por gotículas com máscaras mal posicionadas, mesmo sem saber. Higienizar as mãos assim que sair do transporte, com o álcool em gel ou com água e sabão e usar sempre a máscara são medidas importantes”, finalizou o infectologista.

De acordo com o MPDFT, o relatório completo, acompanhado de sugestões de melhorias, foi enviado ao Governo do DF para que soluções cabíveis às demandas do usuário fossem tomadas. A Secretaria de Transporte e Mobilidade do DF (Semob), no entanto, afirmou em nota ao Jornal de Brasília que “ainda não recebeu a referida pesquisa”. “Assim que receber irá analisar as recomendações do MPDFT e passará as informações solicitadas para o órgão”, afirmou a pasta.

Desafios à vista

Apesar da alegação da Semob, a promotora de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e Social, Lenna Daher, espera que todas as proposições sejam avaliadas com rigor e diligência pelas autoridades competentes, uma vez que o levantamento, segundo ela, indica quais atitudes precisam ser tomadas para trazer melhorias. “As soluções para dificuldades estruturais do sistema não são simples, mas o relatório apresenta medidas que, no curto e médio prazo, podem impactar de forma significativa na experiência dos usuários”, afirmou.

A coordenadora do IFC, Rebecca Teixeira afirmou que a participação pública tem papel relevante para as mudanças esperadas.

Saiba Mais

De acordo com o MPDFT, “as respostas obtidas demonstram uma percepção majoritariamente negativa sobre a maior parte dos aspectos avaliados. Das 22 questões sobre satisfação do usuário, mais da metade teve resultado negativo”.

Em segundo lugar com pior avaliação pelo usuário dos transportes públicos do DF está o preço das passagens. Cerca de 74% das respostas indicam as taxas como “ruim” e “péssima” Para aqueles que recebem até um salário mínimo, o índice cresce para 79,12% das respostas.

Nesta avaliação, os respondentes puderam relatar, em perguntas abertas à escrita, que o valor das tarifas cobradas para o transporte na cidade não é condizente com a qualidade do serviço oferecido.

Tal índice é representado nas avaliações com relação às falhas mecânicas dos ônibus. Cerca de 54% dos participantes afirmaram que já haviam presenciado alguma falha mecânica pelo menos uma vez no período de 60 dias anteriores ao preenchimento do questionário.

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