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Brasília

Mobilidade: ciclistas se unem por mais segurança nas ruas

ONG Rodas da Paz organiza ato em protesto pelas mortes no trânsito do DF. O objetivo é chamar atenção para as políticas de trânsito

Vítor Mendonça

04/11/2020 6h46

No início da tarde de amanhã, a praça em frente ao Palácio do Buriti receberá manifestação organizada pela Organização Rodas da Paz em protesto pela morte de ciclistas no trânsito do Distrito Federal. O encontro está marcado para 13h e deve receber cerca de 200 pessoas em bicicletas ou à pé. O objetivo é chamar atenção para as políticas de trânsito e oferecer propostas para melhorar as tratativas do assunto no âmbito governamental.

O coordenador-geral da organização não-governamental, Raphael Dornelles, deverá entregar um manifesto a fim de deixar claras as necessidades para a segurança dos ciclistas da capital federal. Estão contabilizados sete acidentes fatais envolvendo ciclistas no DF até setembro deste ano — índice consideravelmente menor que os registrados em 2018 e 2019, com 19 e 22 casos, respectivamente. Os dados são do Departamento de Trânsito (Detran/DF).

Desde o início da série histórica, iniciada em 2000, foram 797 ciclistas mortos no trânsito da capital. Os maiores índices estão concentrados nos nove primeiros anos. A partir de 2016, as estatísticas não ultrapassam os 22 acidentes fatais — registro contabilizado no último ano. Entre 2018 e 2019, a maioria dos casos ocorreu em colisão com outro veículo. Apenas três casos nos dois anos excluem ações que não as dos próprios ciclistas — mortos por queda.

Maior periculosidade

De acordo com o professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB), Paulo César Marques da Silva, especialista em mobilidade sustentável, segurança no trânsito e acessibilidade, a menor quantidade de casos fatais não pode ser diretamente ligada aos períodos de pouca movimentação na cidade durante o início da proliferação do novo coronavírus no DF. A baixa circulação pode ter evitado maiores acidentes, mas pode também ter aumentado a periculosidade nas vias.

“É difícil comparar 2020 com qualquer ano, por conta da pandemia. Durante boa parte do ano, a redução na circulação de pessoas foi bastante significativa — e ainda agora não há uma normalidade, por mais que haja um maior relaxamento. Por outro lado, os acidentes que ainda ocorrem podem ser mais graves: as colisões podem ser mais fortes e intensas pelo uso de velocidades mais altas nas vias menos movimentadas. Mas é difícil fazer comparações”, explicou.

Especialista defende relação harmoniosa

Sobre as políticas para ciclistas e pedestres no DF, o professor Paulo César Marques da Silva considera que “precisa melhorar muito pensando no que a cidade é”. “Temos uma configuração do sistema viário que é hostil ao ciclista. As vias são relativamente largas em comparação com outras regiões do país e a relação entre veículos motorizados e bicicletas, ou mesmo pedestres, não são harmoniosas. Quem está de carro tende a considerar os espaços como exclusivos e empurram para fora outras formas de locomoção. Precisamos ter espaço de convivência, compartilhando o espaço. O direito é o mesmo.”

De acordo com ele, a política de priorização que deu certo foi a criação de ciclovias, que, ainda que com defeitos e críticas relevantes, têm uma malha extensa no DF. “Considero uma vitória”, contou. “Mas é uma política de segregação, não de convivência. Isso foi o que faltou ser tratado. O DF está devendo essa atitude. Não é só respeitar os limites e as regras, mas se trata de uma sensibilização para a promoção da cidadania e a preservação da vida”, finalizou.

Na ação planejada pela Organização Rodas da Paz, também está marcada uma pequena carreata em direção à quadra 2 do Cruzeiro para a colocação de uma “ghost bike” — bicicleta fantasma — no local onde o ciclista Cláudio Mariano de Souza, de 69 anos, fora atropelado em fevereiro de 2017 por uma motorista que estaria dirigindo acima da velocidade da via. Em fevereiro deste ano a Justiça absolveu a acusada. Na interpretação do magistrado da 6ª Vara Criminal de Brasília, juiz Nelson Ferreira, a mulher não teria culpa do acidente.

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