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Brasília

Miopia aumenta durante a pandemia

Médico diz que uso prolongado de computadores, tablets e celulares acelera o distúrbio visual

Vítor Mendonça

19/10/2020 6h01

Casos de pacientes com miopia aumentaram durante a pandemia do novo coronavírus. É o que afirma o médico oftalmologista Hilton Medeiros. A vista cansada, dificuldade para enxergar, dores nos olhos e de cabeça podem ser indícios do mau funcionamento da visão e são estes os relatos recebidos pelo profissional em seu consultório diariamente.

“Nós vamos sair dessa pandemia com muitos pacientes ‘miopizados’ em função do home office e uso excessivo de computadores, tablets e celulares. Era algo que via apenas uma vez por semana, e agora estou vendo todo dia”, relatou. “Com certeza não é apenas comigo, mas em todo o mundo, provavelmente”, opinou.

As causas para os sintomas indicados podem ocorrer por uma série de fatores, mas dentre eles estão a visão muito próxima do celular e o tempo excessivo em frente ao computador. Nesta pandemia do novo coronavírus, as jornadas encarando telas aumentaram para muitas pessoas. Este esforço feito pelos olhos ao receber os estímulos dos aparelhos eletrônicos pode gerar traumas e levar ao problema da miopia de forma definitiva.

A miopia acontece quando o olho se torna “maior do que um olho normal”, segundo Hilton. É quando a formação das imagens acontece antes da “última parede” do olho, a retina. “Esta é a miopia tradicional. Porém, há um outro mecanismo que induz à miopia, que é o aumento do abaulamento, isto é, do poder de convergência do cristalino [espécie de segunda camada do olho que funciona como uma lente, responsável pela refração das imagens de perto].”

“É como uma mola que, se eu a manter sempre comprimida, quando é solta, não volta ao mesmo valor que ela distendia antes, ou seja, o movimento elástico dela diminui. Foi dada uma energia para que ela sempre ficasse um pouco comprimida. É diminuído, portanto, o poder de elasticidade do cristalino. Quando o paciente passa horas e horas com a visão sendo forçada para perto, ele está comprimindo o cristalino durante muito tempo”, explicou o oftalmologista.

Procura por lentes aumenta

Segundo o comerciante Ademar Carneiro, 35 anos, um dos proprietários da Óticas Martins, no Gama e Núcleo Bandeirante, a procura por novas lentes de contato praticamente dobrou. Enquanto antes da pandemia a demanda girava em torno de 50 a 80 clientes por semana, atualmente o atendimento é de 100 a 120 pessoas no mesmo período. A maior parte dos serviços passou a ser feita para clientes jovens adultos.

“O público de jovens até 35 anos cresceu cerca de 200% na quantidade de novos clientes […] Temos um público muito forte na terceira idade, mas durante esse período de pandemia a faixa etária dos idosos diminuiu em pelo menos 50%”, afirmou Ademar. Ele alega que a razão para esta diminuição pode ser por este último grupo estar incluso naqueles de risco.

A grande maioria dos pedidos recebidos são para encomendas de lentes próprias para miopia, conforme disse o comerciante. De acordo com Ademar, o mercado não estava favorável entre os meses de março e maio, mesmo com a reabertura em 15 de abril. “Voltou a melhorar mesmo em junho. Acho que o pessoal estava com receio de sair antes também, e muitos podem ter relacionado a covid para outras áreas da saúde, e aí decidiram fazer os exames de vista, acredita Ademar.

Pausas e uso de lubrificantes oculares ajudam

De acordo com Hilton, há algumas maneiras de evitar que a miopia ocorra – ou que se agrave em casos de pessoas já diagnosticadas com a disfunção ocular. O uso de colírios lubrificantes, por exemplo, ajuda a aliviar a visão, mas o método mais eficaz exige o cuidado para pausas durante a jornada de trabalho ou estudos.

“É preciso que, pelo menos a cada hora em que se estiver trabalhando em frente ao computador ou estudando pelo celular, a pessoa procure relaxar por no mínimo cinco minutos olhando através de uma janela para o mais longe que puder, seja uma árvore no fim da rua ou outros pontos. Usar a visão para longe ajuda a relaxar a musculatura interna do olho”, recomendou Hilton.

Independe de idade o problema, segundo o médico, e a atenção deve ser dada aos menores, que, cada vez mais, interagem com o mundo virtual. “O jovem quer colocar o celular bem pertinho por questões até de privacidade, mas tem de manter o celular o mais afastado possível”, reafirmou. Sobre as estudos on-line, ele recomenda às escolas que estabeleçam os intervalos de descanso ocular dos alunos entre uma aula e outra.

Metade dos brasileiros

De acordo com relatório publicado em 2015 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a miopia ao redor do planeta, a América do Sul é um dos continentes que menos registra casos da disfunção. Os primeiros lugares são ocupados por países do leste da Ásia, onde a influência tecnológica é mais evidente. Na China, Japão, Coreia do Sul e Singapura, por exemplo, o problema ocular atingia mais de 50% da população local há cinco anos.

Neste ano, no Brasil, a estimativa era que a miopia atingisse a marca dos 50% da população. Em 2050, mundialmente, a OMS avalia que, em todos os países, o número de míopes passe a ser superior a 57% se os índices crescerem nas mesmas projeções que as avaliadas até a pesquisa. O estudo reforça a fala de Hilton quanto ao tempo gasto observando e gastando tempo em áreas externas, que pode minimizar a problemática.

 

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