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Brasília

Mesmo com pandemia e restrições, ambulantes continuam trabalhando para sobreviver

“Só estamos aqui para não passar fome”, afirmou comerciante, de 57 anos, que trabalha no Setor Comercial Sul e optou pelo anonimato

Redação Jornal de Brasília

10/06/2020 18h39

Ambulantes na Rodoviária do Plano Piloto. Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília

Catarina Lima e Vítor Mendonça
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Mesmo em meio à pandemia do novo coronavírus e à proibição de atividade pelo Decreto nº 40.817, de 22 de maio, a rotina de comerciantes ambulantes na Rodoviária do Plano Piloto não mudou. A movimentação dos informais provoca aglomerações e dificultam a passagem de circulantes. Melhor para quem vende, que por vezes consegue a atenção de motoristas e cobradores dos ônibus e outros passageiros no local. As vendas costumam acontecer em menos de um minuto.

“Olha o rapa!”, avisa um sujeito no térreo da plataforma. Em 30 segundos, toda a aglomeração gerada pelos vendedores informais, que ali vendem roupas e acessórios, se dissipa. Quatro fiscais acompanhados de três policiais militares fazem a ronda e verificam as imediações, mas não apreendem nenhuma mercadoria. Todos se esconderam, mas logo voltarão.

Confira a diferença entre antes e depois da fiscalização do DF Legal:

Antes e depois Rodoviária do Plano Piloto com a chegada do DF Legal. Fotos: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília

“Vai fazer o quê?”

Um dos ambulantes do local é E. V., 38 anos, que há uma década trabalha com a venda informal em Brasília. Na Rodoviária, está há 2 anos. “Para a gente vir trabalhar na boa está complicado, porque está proibido por lei. E por conta dessa pandemia, as vendas caíram um pouco. Nos arriscamos porque precisamos manter as despesas de casa e da família”, afirmou. “O medo [do coronavírus] faz com que você desista. É preciso se cuidar com álcool em gel e lavando as mãos”, disse, apontando para o frasco com a substância.

De acordo com o ambulante que vende meias, as correrias para escaparem da fiscalização ocorrem ao menos dez vezes todos os dias. “A gente perde a conta e corre de um lado para o outro. E às vezes conseguem apreender nossa mercadoria, como fizeram com a minha em um desses dias”, contou. “Eu sei que é ilegal, mas vai fazer o quê? […] Lá em casa sou só eu para ajudar na família.”

Questionada sobre as fiscalizações das infrações, a Secretaria DF Legal afirmou que “no tocante à Rodoviária de Brasília, o órgão, em conjunto com a Polícia Militar, emprega diariamente duas equipes para fiscalização das plataformas inferiores e superiores, bem como do calçadão entre o Conic e o Corpo de Bombeiros”, separados em dois turnos.

Policiais militares e ambulantes parecem conviver em harmonia na Rodoviária sem a presença do DF Legal. Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília

Setor Comercial Sul

No Setor Comercial Sul, outro ponto conhecido e frequentado por vendedores informais, a rotina também não sofreu grandes alterações. O comércio ambulante localizado ao longo das primeiras quadras ímpares da Asa Sul permanece a todo vapor, apesar do menor movimento da clientela no local. Ainda que um dos pontos de vendas seja ao lado de um dos postos da Polícia Militar do DF, a convivência entre os oficiais de segurança pública e os mercadores é pacífica.

Conforme a reportagem apurou, no local, muitos ainda circulam sem máscaras ou as mantêm na região do queixo. Desta forma, o item é ineficaz na proteção contra a contaminação do novo coronavírus. São vendidos roupas, acessórios de inverno, sapatos, itens para celular, mochilas e bandeiras. No entanto, o produto mais vendido, para uma das comerciantes ali, de 53 anos, que não quis se identificar, é a máscara.

“Nessa época de junho, o que a gente mais vendia aqui era roupa de frio, mas principalmente material de festa junina”, comentou. “Agora o que mais sai são as máscaras, surpreendentemente. Vende à rodo. Fora isso, nem o frio está ajudando”, continuou. De acordo com a ambulante, as rondas feitas pelo DF Legal são raras.

Comércio de ambulantes no Setor Comercial Sul. Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília

“É para não passar fome”

A situação de alguns comerciantes procurados pelo Jornal de Brasília é delicada, que os leva a estar ali, mesmo temendo a contaminação da covid-19. “Só estamos aqui para não passar fome”, afirmou outra comerciante, de 57 anos, que também optou pelo anonimato. Das poucas vezes em que a ronda fiscal aconteceu, retiraram os produtos, mas sempre voltam.

“Medo de pegar o vírus nós temos, mas vamos fazer o quê?”, disse a vendedora informal, cujo discurso repete o relatado na Rodoviária. “O auxílio emergencial não é suficiente para água, luz, aluguel, o alimento. Temos que vir para suprir as necessidades. Eu e minha filha de 13 anos, que está em casa, vivemos disso aqui.” A comerciante mora no Jardim Céu Azul, em Valparaíso de Goiás e faz o deslocamento de cerca de 40 km para a atividade ilegal nesta pandemia.

Com relação à fiscalização no Setor Comercial Sul, a Secretaria DF Legal não respondeu aos questionamentos feitos pela reportagem.

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