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Brasília

Medicamento some das prateleiras das farmácias

Ivermectina passou a ser consumida mesmo sem eficácia comprovada

Vítor Mendonça

07/07/2020 6h59

Atualizada 03/03/2021 16h33

Foto: Agência Brasil

Interpretado como remédio eficaz para o aumento de imunidade e prevenção ao novo coronavírus, o medicamento Ivermectina passou a ser amplamente comprado no Distrito Federal, ao ponto de estar em falta no estoque de algumas farmácias. No Núcleo Bandeirante, por exemplo, de sete farmácias visitadas pela reportagem, apenas uma ainda tinha a droga.

“Temos apenas três unidades”, informou o atendente. “Tem muita gente atrás. Não sabemos quando vamos receber de novo e está assim em quase todas as farmácias do DF”, complementou.

A Ivermectina é uma droga utilizada no combate a parasitas e vermes no corpo humano, tanto internamente quanto externamente.  O medicamento também está muito associado ao tratamento de piolhos em crianças.

De acordo com a farmacêutica e Presidente do Conselho Regional de Farmácia do DF (CRF/DF), Gilcilene Chaer, é um risco à saúde usar o medicamento sem uma prescrição médica, mesmo a droga sendo conhecida e amplamente utilizada para fins de combate a organismos estranhos. A incerteza quanto à quantidade de comprimidos que devem ser tomados pode ameaçar a segurança de usuários.

“O Conselho tem uma linha de defender o que a ciência preconiza, que é uma medicina baseada em evidências. E para a covid-19 não temos ainda nenhum medicamento comprovado que seja eficiente para a profilaxia, isto é, para prevenção e tratamento”, afirmou a especialista.

A crença de que a Ivermectina é eficaz na prevenção ao novo coronavírus se deu por uma publicação oficial da Sociedade Internacional de Pesquisas Antivirais, feita em junho, que indicou impacto inibidor na reprodução do vírus da covid-19 pela droga em certa quantidade de células in vitro. No entanto, Chaer destaca que o procedimento foi realizado em circunstâncias calculadas dentro de um laboratório, e que não serve de parâmetro e comprovação quanto ao uso desregulado por seres humanos.

“A dose utilizada na pesquisa feita em laboratório é 100 vezes maior do que a dosagem utilizada no tratamento de verminoses. Então não recomendamos uso nem em profilaxia nem em tratamento, até porque o tratamento é uma prerrogativa de médicos”, continuou a presidente do CRF/DF. “As pessoas estão muito apavoradas e querem uma solução para doença. Então qualquer coisa que se veicule como em fase de testes, elas já correm para as farmácias para comprar.”

Efeitos colaterais

De acordo com a bula da Ivermectina, há uma tabela quanto a relação entre o peso de uma pessoa e a dose que deve tomar. Porém, como diz o documento, o uso do medicamento é contra indicado sem o conhecimento de um médico especializado. “Pode ser perigoso para a sua saúde”, destaca um dos trechos em negrito.

Ainda de acordo com a bula, alguns efeitos colaterais podem surgir, como diarreia, náusea, falta de disposição, dor abdominal, falta de apetite, constipação e vômitos. “Também podem ocorrer: tontura, sonolência, vertigem, tremor, coceira, lesão de pele até urticária, inchaço na face e periférico, diminuição da pressão arterial ao levantar-se, e aumento da frequência cardíaca”, complementa a bula.

Por hora, as medidas para a prevenção da covid-19, com base nos parâmetros estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), permanecem as mesmas: recomenda-se o uso de máscaras, o isolamento social, a higienização das mãos e objetos, e evitar aglomerações.

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