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Brasília

Máscaras: em mais de 3 meses, apenas 119 pessoas foram multadas

Apesar de flagrantes de pessoas sem máscara nas ruas, só 76 mil foram notificadas pelo DF Legal

Pedro Marra

18/08/2020 6h31

Após 140 dias da publicação do decreto que torna obrigatório o uso de máscaras nas áreas públicasdo Distrito Federal, apenas 119 multas foram expedidas pelo Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal) contra quem não estava usando o acessório de segurança contra a contaminação pelo novo coronavírus. Uma média de 0,85 multas expedidas.

Por meio de nota, a Secretaria de Ordem Urbanística (DF Legal) informa que foram autuados cerca de 120 estabelecimentos (bares e eventos), sendo aplicadas 27 multas e 42 interdições. “Foram abordadas 76.452 pessoas pelo não uso ou uso de forma indevida de máscaras”, explica a assessoria de imprensa do órgão.

Segundo a pasta, essa “força-tarefa (que incluem a Polícia Militar do Distrito federal, a Secretaria de Mobilidade, a Vigilância Sanitária, o Corpo de Bombeiros Militares do DF, dentre outros) vem atuando em todo o DF, porém, são eleitas três cidades por dia”, acrescenta. Paralelamente, a DF Legal diz que atua com auditores em outras 15 cidades, além da reigão central de Brasília, e com mais 10 equipes diuturnamente nos locais de maior aglomeração como: centros das cidades, Rodoviária do Plano Piloto, dentre outros.

Ainda segundo a Secretaria, “não há previsão de punição por aglomeração, a menos que as pessoas estejam sem máscaras ou que o evento seja pago”, comunica.

Ao JBr, o subsecretário de Atividades econômicas, Francinaldo Oliveira, afirmou que “é importante dizer que a DF Legal não é a única a realizar essa fiscalização, mas apenas uma. A fiscalização também é responsabilidade da Vigilância Sanitária, Polícia Militar, Bombeiros, Semob, entre outros. Em relação a quantidade de frentes, esse é o efetivo que temos para trabalhar. Desde 1993 não temos concurso e nesse período muitos dos nossos servidores entraram para o grupo de risco, outros adoeceram e até contraíram a Covid-19”, declara a pasta em nota.

Cidadão acima da lei

Na visão da professora do Departamento de Sociologia da UnB, Cristiane Coelho, essas atitudes ainda ocorrem porque “A gente tem que pensar o que que mudou no mundo. Em dezembro e janeiro, as notícias informavam os casos em Wuhan (primeiro epicentro mundial), e parecia que era um problema na China. Foi atingindo a Europa, e os casos trágicos e televisionados das mortes na Itália, e depois atingindo o mundo como um todo. A pandemia não começou no Brasil, mas hoje os Estados Unidos está em primeiro lugar em termos de infectados no mundo, e o Brasil em segundo. A gente vê que isso vai muito além do tamanho desses países. É uma falta de gestão de medidas políticas coerentes para combater a pandemia, que era algo evidentemente noticiado e que se sabia que chegaria no Brasil”, analisa ela, que é especializada em sociologia urbana.

A socióloga explica o comportamento das pessoas que desobedecem as orientações médicas com base em alguns tipos de características.

“Temos os cidadãos que se consideram acima da lei, os que acreditam estar acima da pandemia e que acham que são invencíveis, e que a eles nada os atinge. Essas questões são políticas, sociais e históricas.

A gente vê que isso começa com um mal exemplo do presidente Bolsonaro, quando ele diz que todo mundo vai morrer um dia, que é só uma gripezinha, e ele com o histórico de atleta não seria atingido, mas que sempre teve descaso em relação ao novo coronavírus.

Isso passa uma falsa mensagem. Por um lado, passa que há uma possível impunidade e que as pessoas são inatingíveis, e no caso de serem atingidas, já teria uma solução fácil, que seria a cloroquina, o que não se tem nada garantido”, comenta.

Cristiane acredita que faltam medidas centralizadas no combate à pandemia.

“Acabou que cada governador agiu de um jeito e não houve uma decisão centralizada, com medidas nacionais coerentes e que levasse a sério a pandemia.

Mesmo no caso do DF, uma das primeiras regiões do país a ter medidas de isolamento social, isso nem sempre foi igualmente respeitado em todas as RAs. Sempre foram aplicações diferentes da mesma lei. Mesmo assim, a flexibilização do comércio veio trazer um aumento dos casos.

Tinha muito a ideia antes da pandemia, de que atingiria mais os idosos. Há também uma falta de tratamentos completamente garantidos para combater a doença. E temos uma falta de capacidade do nosso sistema de saúde para atender a essa população.”

Saiba Mais

Outro ponto citado pela socióloga é a maior reprodução da desigualdade social neste momento. “Além de um caráter de saúde pública, tem uma dimensão social e econômica muito forte. Houve uma mudança drástica em nosso estilo de vida. Dois pilares centrais da organização da nossa vida em sociedade, que são o trabalho e a educação, ficaram diretamente afetados com o trabalho e estudo em casa”, explica a socióloga.

“Isso afetou todo o cotidiano das pessoas, e invés de resolverem a questão, parece que se cansaram.

Algumas pessoas até que estavam respeitando o isolamento social, entraram em um negacionismo. Há um peso cada vez mais religioso, principalmente dos evangélicos no Brasil, de forma a achar que algumas coisas podem ser resolvidas de forma divina, enquanto temos avanços no plano científico”, afirma.

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