Menu
Brasília

Mais de um terço das vítimas de acidentes fatais consumiu álcool ou drogas

Arquivo Geral

07/08/2018 8h23

Atualizada 08/08/2018 14h23

Foto: Myke Sena/Jornal de Brasília

Jéssica Antunes
[email protected]

Álcool e droga no sangue, perigo constante mesmo longe do volante. Mais de um terço das vítimas de acidentes fatais de trânsito neste ano havia ingerido bebidas alcoólicas ou feito uso de entorpecentes. Isso não significa que elas foram culpadas pelas colisões ou atropelamentos, mas indica um caminho perigoso que intensifica a vulnerabilidade daqueles que são os mais fracos nas vias do DF. A maioria delas era pedestre.

As informações são de um levantamento preliminar da Gerência de Estatísticas do Departamento de Trânsito (Detran- DF) com base nos dados do Instituto Médico Legal (IML). Em 39% dos laudos periciais de 171 vítimas havia indicativo de consumo de álcool ou outras drogas. Os mais velhos, entre 50 e 59 anos, são os que mais morreram após ingerir bebidas alcoólicas. Os adultos jovens, de 20 e 29 anos, são as principais vítimas de trânsito após uso de entorpecentes.

Os acidentes envolvem ciclistas, passageiros, motociclistas e condutores, mas são os pedestres formam a maioria, representando 48% de todos os óbitos após consumo de bebidas alcoólicas e 37% após uso de outras drogas. Na ponta do lápis, segundo o Detran, janeiro a julho deste ano, 66 transeuntes morreram em acidentes de trânsito, sendo que 28 (42,2%) haviam consumido álcool, drogas ou ambas as substâncias simultaneamente.

Divulgação

Efeito depressivo

Biomédica, especialista em dependência química e coordenadora do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), Erica Siu explica que o álcool é um depressor do sistema nervoso central. O efeito depende de diversos fatores, como idade, sexo, contexto, alimentação e até genética.

“É um equívoco pensar que o álcool deixa mais estimulado e alegre. Nas primeiras doses, de fato, a pessoa fica mais falante. Depois, tem uma redução de respostas aos estímulos. É preciso alertar para os efeitos. Se, para o motorista, a recomendação é de consumo zero para ter 100% dos reflexos, o pedestre precisa discernir a segurança de saber quando atravessar a rua”, pondera.

Há condições em que o álcool é contraindicado, como gestantes, lactantes, menores de 18 anos, quem vai conduzir veículos ou máquinas e quem já tem dependência. Para pessoas fora dessas condições, a OMS preconiza que não se consuma mais de duas doses por dia e que a pessoa não beba em dois dias na semana.

De acordo com Erica, são padrões comuns e mais arriscados mulheres que consomem quatro ou mais doses em uma mesma ocasião ou homens que tomam cinco ou mais. Com esses índices, a pessoa alcança alcoolemia que predispõe maior risco à saúde e de acidentes. “É preocupante e não é raro. O próprio Ministério da Saúde diz que 27% dos homens e 12% das mulheres têm esse tipo de comportamento”, alerta Erica.

Vulnerabilidade

“A gente vem aprimorando cada vez mais as estatísticas e os estudos, e buscando saber por que as pessoas se envolvem em acidentes. Cobramos muito do motorista, mas, desde 2015, trabalhamos essa questão além do volante”, afirma Silvain Fonseca, diretor do Detran. Ele lembra que, apesar disso, o condutor precisa ter consciência de que ele passa por formação, tem “armadura” e deve proteger o menor.

Fonseca conta que chama a atenção a quantidade de acidentes envolvendo o uso de álcool e outras drogas por motoristas, ciclistas e pedestres.

“Definitivamente tem sido um dos fatores de risco que mais têm elevado as mortes”.

Enquanto 145 motoristas são presos por embriaguez mensalmente, não há como aplicar sanções a pedestres e ciclistas. “Temos de trabalhar com informações, mostrar a fragilidade. Muitos são dependentes, perdem o senso crítico e passam a ser vulneráveis”, diz. Para ele, o álcool torna todos vítimas em potencial.

Saiba mais

» Relatório recente da Organização Mundial da Saúde mostra que o consumo estimado de álcool no Brasil em 2016 foi de 7,8 litros de álcool puro per capita. A quantidade supera a média internacional, de 6,4 litros por pessoa.

» O País está na 49ª posição do ranking entre os 193 avaliados. Apesar de alto, sugere uma redução no consumo de álcool pela população brasileira em relação a 2010, quando eram 8,7 litros.

» A Associação Médica Americana (The American Medical Association) considera como uma concentração alcoólica capaz de trazer prejuízos ao indivíduo 0,04 miligramas por litro de sangue (mg/l) de sangue. Apesar da tolerância zero com consumo de álcool, o Código de Trânsito Brasileiro considera crime a condução de veículo quando o índice de alcoolemia chega a 0,33 mg/l.

Redução

Em 2017, o resultado positivo para consumo de alguma substância psicoativa englobou 47% das 257 vítimas mortas no trânsito. Das 75 vítimas que consumiram bebida alcoólica, 29 eram pedestres, 20 condutores, 14 motociclistas, seis ciclistas e seis passageiros. Das 68 que indicaram consumo de drogas, 25 eram pedestres, 15 motociclistas, 11 condutores, dez passageiros e sete ciclistas.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado