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Brasília

Máfia dos Concursos: uma vaga no STJ custava R$ 83 mil

Arquivo Geral

19/12/2018 16h05

Delegado da Divisão de Repressão ao Crime Organizado (Draco), Adriano Valente. foto: kléber lima/jbr

Jéssica Antunes
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Candidatos pagaram R$ 83 mil para entrar no Superior Tribunal de Justiça (STJ), informou a Polícia Civil do Distrito Federal. Dez servidores são suspeitos de terem comprado vagas no certame realizado em 2015. Essa foi mais uma das provas com o dedo do grupo de Hélio Ortiz, líder da Máfia dos Concursos na capital. Novamente, os concurseiros teriam entregado os gabaritos em branco para um integrante da banca organizadora preencher corretamente. As investigações continuam.

Delegado da Divisão de Repressão ao Crime Organizado (Draco), Adriano Valente conta que uma das candidatas que tentava fraudar o concurso da Secretaria de Educação, alvo da 3ª fase da Operação Panoptes, informou que teriam oferecido a ela uma vaga no STJ. Denúncias anônimas também chegaram à corporação e ajudaram no início das apurações até chegar a três suspeitos, que não conseguiram passar na prova, confessaram a tentativa.

“A partir daí demos início concreto às investigações. Entramos em contato com o STJ e tivemos a informação de que havia sindicâncias internas abertas em relação a quatro dos nossos dez investigados exatamente por insuficiência técnica. Eles tinham aparente dificuldade no desempenho de funções básicas, inclusive no conhecimento de legislação cobrada na prova”, explica.

O Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe), responsável por organizar o concurso, também foi procurado. Como nas fases anteriores,  se prontificou a colaborar com as investigações. Mais uma vez, a origem interna da fraude seria Ricardo Silva Nascimento, funcionário demitido em outubro de 2017 após as primeiras denúncias serem comprovadas.

“Candidatos disseram que foram aliciados com a promessa de que o gabarito deles seria preenchido posteriormente com a resposta correta”, esclarece o delegado.

A polícia preferiu não divulgar nomes e cargos dos investigados, mas relatou que para uma vaga, o pagamento chegava a R$ 83 mil. “Foi o valor informado por um dos suspeitos e coincide com o de um documento de empréstimo localizado na casa de outro candidato nas buscas”, conta Adriano Valente. O montante teria sido cobrado pelos líderes da organização e dividido entre eles.

Em 13 mandados cumpridos nos endereços dos investigados, foram apreendidos celulares, computadores e documentos que serão periciados para dar continuidade às investigações. Não houve ação na sede do Tribunal porque, segundo a PCDF, não há indícios de participação da Corte nas fraudes. Apesar de ser órgão federal, a corporação distrital teve sinal verde da Polícia Federal para seguir as apurações vinculadas à Coordenação Especial de Combate a Corrupção, ao Crime Organizado, aos Crimes Contra a Administração Pública e aos Crimes Contra a Ordem Tributária (Cecor).

Como adiantou o Jornal de Brasília, os servidores suspeitos devem ser afastados dos cargos. Até o fim das investigações, o número de pessoas beneficiadas pela Máfia dos Concursos pode subir.

Foto: Divulgação

Clã Ortiz
Após as buscas, alguns suspeitos foram espontaneamente até a corporação prestar esclarecimentos. Uma das pessoas ouvidas nesta quarta-feira (19) confirmou a participação direta de Bruno Ortiz, que teria oferecido pessoalmente a participação no esquema. O clã Ortiz é investigado e apontado como responsável pela fraude de diversos certames na capital.

A atuação era variada. Os criminosos forneciam pontos eletrônicos, aparelhos celulares aos candidatos ou trocavam cartões-resposta durante a fraude. Os candidatos eram abordados em cursinhos ou na portaria de prédios. O esquema foi escancarado em agosto de 2017, quando a polícia prendeu os líderes ao descobrir que candidatos chegavam a pagar até R$ 200 mil para conseguir a aprovação.

Em nota, o STJ informou que, em maio de 2016, a equipe da Secretaria de Gestão de Pessoas identificou suspeitas de fraude no concurso de 2015 para o cargo de técnico administrativo. Na ocasião, 39.592 pessoas disputaram 15 vagas e 167 candidatos foram convocados até 21 de dezembro de 2017, quando o concurso perdeu a validade.

Desde 1999, seis certames foram realizados pelo Tribunal, sempre organizados pela mesma banca, o Cebraspe, que foi alvo em outras fases de operações deflagradas pela PCDF. Nos concursos de 2008, 2012 e 2015, mais de 1,2 mil candidatos foram aprovados.

O último foi aberto em janeiro deste ano para provimento de vagas e formação de cadastro de reserva em cargos de níveis médio e superior para analista e técnico judiciário. Os salários variam de R$ 6.708,53 a R$ 11.006,82. O resultado final e homologação foram publicados em julho deste ano, com validade até 2020.

Marcus Vinicius Figueiredo, advogado do Cebraspe, informou que a banca organizadora se colocou à disposição de todas as autoridades e instaurou os procedimentos administrativos competentes. “O funcionário, cedido, foi desligado automaticamente. Foi contratada uma auditoria especializada de contra-fraude para que não aconteça mais. A fraude não é causada pela banca. Infelizmente um funcionário se desviou da conduta padrão”, pontuou.

Foto: Raianne Cordeiro/Jornal de Brasília

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