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Brasília

Irreverente, Jogo das Bichas renova as energias para 2018

Arquivo Geral

02/01/2018 6h00

Atualizada 03/01/2018 15h17

Foto: Rafaella Panceri

Rafaella Panceri
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A primeira manhã de 2018 foi sinônimo de futebol, roupas femininas, perucas e maquiagem para moradores do Setor O, em Ceilândia. Homens de todas as idades e regiões do Distrito Federal se encontraram no “quadradão”, área comercial da EQNO 10/11, vestidos de mulher, para participar da 25ª edição do tradicional e irreverente Jogo das Bichas. Cerca de 400 pessoas assistiram à partida de futebol.

O time dos casados ganhava por três gols a zero, contra o time dos solteiros. Porém, antes do final da competição, um dos jogadores passou mal e foi socorrido no Hospital Regional de Ceilândia (HRC).

Apesar do incidente, o clima da partida foi de Carnaval – período do ano em que homens com trajes femininos lotam blocos de rua. Para o servidor público Marcelino Bonfim, 56, esse é o diferencial do Jogo das Bichas: “Acontecer em uma data não óbvia”, salienta. Fantasiado de fada, ele conta que a comemoração ganhou jogadores e público com o passar dos anos. “No início, íamos de casa em casa chamar as pessoas. Depois o even02to ficou mais organizado e muita gente foi se envolvendo”, lembra.

Mesmo com os ganhos em organização, o evento deste ano ficou sem trio elétrico. O veículo era cedido por um dos participantes, que não sabiam o motivo do contratempo. O improviso, contudo, salvou a festa. Um dos jogadores estacionou o carro na quadra e comandou a trilha sonora do evento, com sucessos de Pabllo Vittar e da funkeira Ludmilla.

Foto: Rafaella Panceri

Casa cheia

Além do improviso, a generosidade é marca registrada da festa. Na casa de Vanda Bruno Lares, 63, os participantes têm à disposição um acervo completo para a montagem do figurino — estojos de maquiagem e roupas femininas de todos os estilos e tamanhos. A paixão pelo evento começou há dez anos, quando o marido participou pela primeira vez. Desde então, a dona de casa monta as fantasias de cerca de 20 homens, com itens próprios e cedidos pelas esposas. Horas antes do jogo, a residência vira camarim. “É um ponto de encontro. A bagunça é o de menos”, garante.

Grande confraternização

Amigo dos donos da casa que virou camarim, o músico Givaldo Pereira, 53 anos, se arrumava no local ontem. Ele estreou no Jogo das Bichas na edição deste ano, mas já se imaginava como jogador há três. “Minha mulher escolheu minha roupa, mas eu mesmo quem fiz a maquiagem aqui. O mais legal do evento é confraternizar no meio do povo. É uma festa muito bacana”, opina.

O estudante Thiago Hudson, 21 anos, participa desde 2015 e também se caracterizou no local. “Meu ano tem que começar com essa tradição. Nem dormi depois da virada, mas a gente dá um jeito”, relata. Vestido com roupas esportivas, ele revelou o nome da personagem que escolheu para exibir em campo: Bicha Marombeira. “Só esqueci de tirar a barba”, brinca.

Alegria do povo

As perucas coloridas tornaram o subgerente de posto de combustível Kenedes Felício Loyola Sampaio, 48 anos, famoso no Jogo das Bichas. “Tenho uma coleção variada. Loira, preta, ruiva, azul e até black power”, conta.

O número de perucas coincide com o número de participações: 24. Vestido de enfermeira, ele compartilha o que mais gosta no evento. “É ver a alegria do pessoal. Gente de várias regiões do DF vem brincar com a gente”.

Narrador das competições há dez anos, o radialista Vicente Kersul, 65, conhecido como Gavião Bueno, destaca a evolução da festa. “Foi ficando cada vez mais organizada”, atesta.

Sobre narrar um jogo sem regras, ele compartilha: “Você não narra. Você brinca junto. Os times se confundem, porque está todo mundo com roupas diferentes, então o jogo é para brincar mesmo”.

A marca registrada de Gavião Bueno é o grito de “entrou”, em vez do clássico “é gol”. A trilha sonora acompanha a descontração da festa. “É recheada de duplo sentido”, brinca Kersul.

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