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Brasília

Incêndio em garagem do Grupo Amaral expõe risco antigo à vizinhança

Moradores expõem perigos no depósito e afirmam que tragédia poderia acontecer a qualquer momento. Causa do incêndio ainda é desconhecida.

Arquivo Geral

16/01/2019 7h00

Ônibus do Grupo Amaral pegam fogo na garagem, no Itapoã. Fotos: Raianne Cordeiro/Jornal de Brasilia

Brenda Abreu
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Inodora e silenciosa. Essa foi a forma do incêndio que tomou conta da garagem do extinto Grupo Amaral, no Itapoã, que consumiu 15 ônibus na noite dessa segunda-feira (14). Atrás desse depósito de veículos sem uso há residências que, por pouco, não foram tomadas pelas chamas. Os moradores alertam que as duas propriedades são muito próximas e, por isso, precisam de atenção. A equipe dos bombeiros conseguiu conter o fogo antes que o pior acontecesse.

A origem do incêndio ainda é desconhecida. A perícia do Corpo de Bombeiros afirma que todas as informações, como forma de propagação e focos, estão sendo coletadas para se fazer um laudo. Não se sabe também se o incêndio foi intencional ou acidental, segundo a Polícia Civil do DF.

O depósito está ali há 20 anos e fica ao lado do condomínio Minas Gerais. As chamas foram avistadas por um morador do local que, em seguida, avisou a todos os seus 48 vizinhos sobre o incêndio. “Estava assistindo televisão na hora que fiquei sabendo do fogo. Saí de casa e fiquei acompanhando a atuação dos bombeiros”, conta o serralheiro Luiz Márcio Costa, 36 anos, que reside há 19 anos no condomínio. Todos os que moram ali são ex-funcionários do Grupo Amaral.

Luiz Marcio Costa, morador de uma das casas, relata que só viu quando o fogo já estava alto. Fotos: Raianne Cordeiro/Jornal de Brasilia

O incêndio não foi uma surpresa para a auxiliar administrativa Aldeny Fiúza Cardoso, 52 anos. “Esse depósito não é seguro. A gente sabia que essa tragédia poderia acontecer a qualquer hora”, dispara. Ela também presenciou o incêndio que ocorreu em 2016, mas, daquela vez, a tragédia não ocorreu tão próximo de sua residência. “Eu talvez tenha sido a mais prejudicada. O quarto dos meus filhos fica colado nesse depósito”, conta Aldeny, que agradece a Deus que nada tenha acontecido com as famílias.

Segundo os moradores, a garagem abandonado pode trazer problemas de saúde, principalmente em épocas de chuva. “A gente sofre demais com a dengue. Ali é foco de mosquito”, conta o serralheiro Luiz. Por conta de não ter utilidade, o depósito atrai moradores de rua, que podem passar facilmente por uma fresta no portão. “Ficamos sem saber o que fazer nessas situações”, desabafa.

As residências foram construídas para os funcionários à época do Grupo Amaral, que controlava as empresas de ônibus Viva Brasília e Rápido Brasília. Quando o grupo faliu, os moradores não perderam suas casas porque muitos residem ali desde a construção, há 20 anos.

Policia Civil fez perícia para saber causa do incêndio em ônibus do Grupo Amaral. Ex-funcionários moram em terreno ao lado. Foto: Raianne Cordeiro/Jornal de Brasilia

Apesar disso, um dos vários problemas que a comunidade enfrenta é a falta de escritura. Os moradores buscam a regularização desde a intervenção do GDF, em 2013, no Grupo Amaral. Segundo o advogado da comunidade, Carlos Magno, a questão jurídica da propriedade é bastante complexa. “Fizemos um pedido de regularização na Terracap, na Segeth e na Codhab, e já houve manifestação desses órgãos alegando que a área é passiva de ser regularizada”, argumenta.

As empresas do grupo deixaram de operar no transporte público do Distrito Federal em 2013. No mesmo ano, o governo interveio e assumiu a operação dos veículos, devido ao descumprimento de acordos firmados com o serviço público de transporte urbano. Entre as irregularidades, estariam deslocando ônibus mais novos para outras cidades deixando os mais antigos em circulação no DF. Na época, o governo justificou a ação alegando que a empresa estaria prejudicando mais de cem mil usuários.

Coleta de lixo, luz e água são algumas das necessidades da comunidade. Os moradores reclamam de descaso da parte do governo, e pedem qualidade de vida. “O poço artesiano é que nos abastece com água, e a luz vem de uma garagem. Nós mesmos que tivemos que nos organizar”, conta o advogado Carlos.

Versão oficial

Procurada para esclarecer sobre a propriedade do terreno, a Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap) informou que essa área é objeto de uma ação judicial em que se pede a reintegração de posse ao patrimônio da Terracap e a retirada dos ônibus lá estacionados.

A respeito do risco de proliferação de doenças, a Administração Regional do Itapoã contrariou, de certa forma, a resposta da Terracap. O órgão alegou que se trata de uma propriedade particular, e por isso vai notificar o proprietário para as devidas providências. “Após a notificação, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) irá realizar o serviço de limpeza e roçagem da área, para evitar que cause mais prejuízos à comunidade com a proliferação de insetos, e também que o local represente perigo à segurança da população. A Novacap informa ainda que o proprietário do imóvel terá que arcar com os custos dos serviços realizados”, detalhou o governo, via e-mail.

O Jornal de Brasília não conseguiu contato com representantes do Grupo Amaral para que informassem qual era o destino previsto inicialmente para os veículos, já que estavam largados na garagem sem qualquer manutenção aparente. Também não se sabe o que será feito ali após o incidente.

 

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