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Brasília

Incêndio atinge acampamento no Recanto das Emas

Willian Matos

12/05/2019 10h33

incêndio

Foto: Beatriz Castilho/Jornal de Brasília

Beatriz Castilho
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Um incêndio atingiu uma área de aproximadamente 200 m² no acampamento Monjolo, na Quadra 406 do Recanto das Emas, na madrugada desse domingo, 12, deixando cerca de 30 família desabrigadas. O fogo destruiu todos os barracos montados no local. Os moradores afetados pelo incidente estão temporariamente abrigados na Administração da região.

O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) foi acionado por volta das 2h50. No local, a equipe levou duas horas para controlar as chamas. Uma pessoa foi levada ao hospital por inalação de fumaça.

No foco das chamas ficava o barraco da gari Maria Alcira, de 47 anos. No momento do incidente, ela foi acordada com gritos de aviso de moradores do local. “Do nada pessoas começaram a bater na minha porta falando ‘é fogo, corre!’. Eu saí correndo, abri a porta e me deparei com aquela montanha de fogo. É uma cena muito chocante”, relembra.

Maria Alcira relembra do incêndio: “é uma cena muito chocante”. Foto: Beatriz Castilho/Jornal de Brasília

Moradora do acampamento há 11 anos, Maria só conseguiu chamar as filhas e salvar os animais de estimação e a roupa do corpo. “Perdi todos os documentos, até o que falava do lote que nós fomos contempladas”, conta. Como não tem a quem recorrer, ela se hospeda na administração até que algo seja decidido.

“Tudo o que esperamos hoje em dia é a felicidade da nossa família. Eu não fui para aquele lugar em vão, fui com o objetivo de conseguir um lugar para morar. Quero colocar minha família em um endereço”, afirma.

A funcionária de serviços gerais Luzia do Socorro do Vale, 35 anos, mora com o marido e os dois filhos a cerca de 5 metros do local do incêndio, e, assim como Maria, foi acordada com os gritos. “Houve toda uma movimentação para tirar os bujões de gás para não piorar o incêndio. Nisso eu comecei a chorar e tentar acordar meu irmão e minha irmã, que moram aqui na quadra”.

Natural do Piauí, Luzia mora na capital federal há cinco anos. Mesmo não sendo afetada pelo estragos do fogo, ela afirma estar abalada com a situação. “Eu não fico tranquila, porque a gente aqui sempre passa sufoco. É esgoto na porta, inseto, eu mesma já fui mordida por um rato”, relata. “Você acha que eu moro aqui porque eu gosto? Não gosto não, mas é o lugar que eu tenho”. Luzia se preparava com vizinhas da quadra para fazer um almoço de Dia das Mães, mas, com o incidente, decidiu ficar em casa.

Famílias perderam tudo

A manicure Cristina da Silva, 24 anos, não estava em casa no momento do incidente. Grávida de 7 meses de um menino, a jovem dormiu na casa da sogra porque estava trabalhando até tarde no sábado. Avisada por vizinhos, ela chegou ao local apenas na manhã de domingo. “Só quando cheguei entendi que não tinha como salvar nada, foi um desespero total”, relembra.

Cristina está grávida de sete meses. Foto: Beatriz Castilho/Jornal de Brasília

No acampamento, Cristina morava sozinha, próximo à região mais atingida pelo fogo. Com a casa destruída, ela busca ajuda com a sogra ou o irmão, também moradores do Recanto. “Não estou me deixando abalar mais por conta da gestação, mas é, sim, uma coisa desesperadora”, afirma. “Não tem como você trabalhar tanto, lutar tanto e ver todas suas coisas incendiadas de um dia para o outro.”

Aos 62 anos, a diarista Maria Silva sentiu o desespero da perda mesmo sem ser afetada diretamente pelo fogo. “Hoje é Dia das Mães, e graças a Deus estamos com vida, porque o que importa é o amor no coração. Mas, apesar de eu não morar lá, minha filha mora, e ela é um pedaço de mim”, afirma.
“Lá na área verde, chamo assim porque não gosto de ‘invasão’, moravam cinco da minha família. Minha filha, Cristiane, e os quatros sobrinhos”, diz. “Embora seja uma ‘invasão’, são almas, são vidas. Agora todo mundo que está lá ficou só com a roupa do corpo. E agora, minha gente?”, pergunta Maria.

Administração pede doações

De acordo o administrador da região, Carlos Galvão Soares, a Administração Regional do Recanto das Emas serve como um abrigo temporário. “Estamos preparando o espaço para que eles possam passar a noite aqui, porque alguns têm família para procurar, mas muitos não têm”, conta.

Famílias estão alojadas na Administração do Recanto das Emas a espera de uma solução das autoridades. Foto: Beatriz Castilho/Jornal de Brasília

Para ele, o local hospedará moradores até que seja definida uma solução. “Vamos limpar os entulhos do local atingido, para que, se for o caso, eles voltem para lá”, afirma. Para auxiliar as vítimas, a administração pede doações de roupas e mantimentos.

Resquícios do incêndio que acometeu o alojamento. Foto: Beatriz Castilho/Jornal de Brasília

As doações devem ser entregues na sede da administração, na quadra 206/300 do Recanto das Emas.

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