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Brasília

Hran: pacientes enfrentam o drama da espera por leitos

Arquivo Geral

16/01/2018 7h00

Reprodução/Arquivo Pessoal

Rafaella Panceri
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A falta de leitos disponíveis no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) obriga pacientes em estado grave a passar dias e noites pelos corredores, em condições precárias de acomodação. Para algumas famílias, a solução para o problema é entrar na Justiça e pleitear uma vaga. A de Hilda Maria Galiza Lima, 61 anos, corre contra o tempo para salvar a vida da mulher. Uma acomodação digna só foi obtida ontem, com ajuda da Defensoria Pública. Os 58 leitos eram objeto de desejo de 94 pacientes.

Moradores de Santo Antônio do Descoberto (GO), o servidor público Ozano Lira de Moraes, a mulher e o filho enfrentam uma peregrinação por unidades de saúde desde a última quinta-feira. Levaram Hilda à Unidade de Pronto Atendimento de Samambaia, depois ao Hospital de Base e, por fim, ao Hran. A unidade tem competência para tratar do problema, mas as condições de internação são precárias. A Secretaria de Saúde aponta o motivo: superlotação. Enquanto isso, o estado da mulher se agrava e a família passa por dificuldades financeiras.

“É uma tremenda falta de humanidade”, dispara Ozano de Moraes. Foto: Gabriel Jabur

Complicações

Internada no hospital desde a última sexta-feira, Hilda necessita de uma drenagem na região do abdômen para sobreviver. O líquido ascítico, presente na cavidade abdominal, aumenta a cada segundo e gera mais complicações, como cálculos na bile e inchaço do fígado. A mulher havia sido acomodada em uma cadeira, depois em uma maca antiga, cujo revestimento de couro está rasgado.

O genro da senhora resolveu mover uma ação contra o Hran na Defensoria Pública do Distrito Federal. A família aguardou a internação adequada por três dias e ouviu a mesma resposta dos funcionários: “não há médicos e não há leitos”. Além disso, segundo o homem, os profissionais do hospital não acompanham o estado de saúde da mulher. “Dão comida, remédio para a pressão e vão embora. Ela está com os pés feridos, por causa da doença, e dificuldade para respirar. Pode pegar uma infecção e piorar muito”, descreve Moraes. “É uma tremenda falta de humanidade. Nem um animal merece isso”, compara.

Depois de atendido na Defensoria Pública, Moraes teve a esperança em mãos. No documento endereçado à direção do Hran, exigiu-se que a paciente receba o tratamento médico adequado ao quadro clínico em, no máximo, 48 horas. Com isso, o leito foi concedido ontem à noite. “A Justiça foi minha única opção. Conversei com médicos, com a chefia, mas ninguém falava nada. Estão esperando ela morrer”, acusa.

Ausentes

Na tarde de ontem, o homem fotografou uma lista destinada aos chefes de equipe. A planilha mostra que havia apenas dois médicos no período vespertino — um cardiologista e um oftalmologista. Outras especialidades, como clínica médica, pediatria e ginecologia, além de enfermeiros, cirurgiões e anestesistas, não registraram presença.

O sentimento da família é de revolta. “Minha sogra é hipertensa e tem problemas mentais. Toma remédios controlados, está toda inchada e muito doente. Ela estava jogada no corredor como se fosse um cachorro”, acusa Moraes. Ele, a mulher e o filho dormem no carro há três dias. “Hoje não consegui tomar banho. Tudo que eu ouço deles é que não há médicos”, destaca.

Versão Oficial

A Secretaria de Saúde admite que o Hran atende pacientes além da capacidade máxima. “A unidade não pode simplesmente interromper os atendimentos no pronto-socorro por isso”, informou, em nota. A pasta afirma, ainda, que Hilda Maria Galiza de Lima foi assistida pela equipe médica e não recebeu indicação de cirurgia.

“Ela deu entrada no último domingo para investigação de quadro de ascite (líquido no abdômen) e não está grave. Fez exame de urina que detectou infecção urinária, que está sendo tratada e investigada. A paciente também fará outros exames para investigação do quadro e somente após o resultado desses exames poderá haver indicação cirúrgica”.

Sobre a falta de médicos, a secretaria afirma que o controle da frequência é feito por meio de ponto eletrônico com identificação biométrica. A lista fotografada pela família é destinada aos chefes de equipe. “Nem todos haviam assinado quando houve o registro da imagem. Pela manhã, havia cinco clínicos prescrevendo os pacientes internados e atendendo aos pacientes com classificação urgente”, informou a pasta.

Na escala obtida pelo JBr. só constavam dois médicos.

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