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Brasília

Hospital realiza sonho de noivos que pensam em se casar há 21 anos

O projeto Casamentos no Apoio tem rede de parceiros para colaborar com os eventos. “A gente se renova a cada casamento”, afirma voluntária

Aline Rocha

30/07/2019 14h23

Fotos: Mariana Raphael/Saúde-DF

Aline Rocha
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Após 21 anos de espera pelo casamento, Jair Rodrigues dos Santos finalmente conseguiu escutar o tão esperado “sim” de Euma Edite Barbosa. A cerimônia foi organizada em apenas cinco dias, com direito a aliança, bolo e buquê e aconteceu no Hospital de Apoio nessa segunda-feira (29). O casamento contou com a ajuda e presença de voluntários, servidores e familiares do casal.

Jair tem câncer terminal de orofaringe e, apesar de não conseguir falar, nunca deixou de expressar a vontade de oficializar a união com Euma. “Ele não fala, mas sempre deixou claro a todos os profissionais com quem tem contato que queria se casar com a dona Euma”, relata o médico residente Wesley Coelho, que acompanha o paciente desde o início da internação, em 16 de julho.

De acordo com a noiva, ele sempre falava em casamento e ela adiava. “Depois que ele adoeceu, quando soube que seria transferido do Hospital de Base para o de Apoio, disse logo: ‘agora eu caso!’ E eu pensei que não teria mais como fugir. Diante do que estamos vivendo hoje, eu digo: nunca deixe passar as oportunidades”, explica a noiva.

No dia do casamento, ambos estavam visivelmente nervosos. Ela, de vestido novo comprado pela mãe, segurava o buquê e tentava disfarçar a emoção de estar se casando aos 60 anos de idade. Jair não fala, em razão de uma traqueostomia, mas o nervosismo refletiu-se na noite mal dormida e na agonia em sair logo do leito e ir para o local da cerimônia, que ocorreu no auditório do hospital, onde os convidados já os aguardavam.

Preparativos

A voluntária do Hospital de Apoio, Izabel Tostes, diz que dentre os 10 casamentos que já participou, esse se destaca como o que menos tempo permitiu para os preparos. Por isso, não foi possível conseguir mais itens, como o vestido para a noiva e músicos, como já aconteceu em outras ocasiões.

Em parceria com outros voluntários do hospital, Izabel conseguiu as alianças de ouro, um buquê de flores, o pastor, bolo, doces e salgadinhos da festa, além de uma profissional de maquiagem para a noiva. “Eu estava chegando de viagem e vim direto do aeroporto”, conta a maquiadora Fernanda Cravo, que já participou de outras ações na unidade hospitalar. “Foi gratificante ver o semblante da dona Euma mudar depois de se olhar no espelho, maquiada”.

Fotos: Mariana Raphael/Saúde-DF

De acordo com Izabel, o projeto Casamentos no Apoio já tem uma rede de parceiros para colaborar com os eventos, cada vez mais constantes. “A gente se renova a cada casamento”, destaca. “Percebo que, mesmo na hora da tristeza, quando um está vendo o outro partir, há espaço para a alegria. E percebemos uma melhora nos pacientes depois do casamento: ficam mais felizes”, relata.

Após o beijo dos noivos, Jair levantou as mãos como gesto de agradecimento a Deus e sinalizou com um “joinha” a todos os presentes. Euma usou as palavras para fazer o mesmo e, diante de irmãos, cunhados, filha, neta e servidores do hospital, declarou: “Quero agradecer a Deus pela oportunidade e a todos aqui presentes por terem realizado nosso sonho. Meu esposo é um homem muito bom, e, enquanto eu estiver viva, o amarei e estarei do lado dele”.

Os noivos

Euma conquistou, primeiramente, a sogra. “Eu trabalhava em um restaurante e ela sempre ia comer lá. Vivia dizendo que tinha um filho solteiro e que gostaria que eu o conhecesse, pois eu era uma mulher trabalhadora”, relembrou. O encontro aconteceu em uma festa, em Ceilândia. Logo já estavam juntos.

Jair vivia pedindo para oficializar a união e chegou a indicar que eles poderiam fazer isso em casamentos comunitários, mas Euma sempre adiou. “Acho que, por isso, ele estava tão ansioso, mandando me ligar toda hora para eu não perder o casamento – acho que era medo de eu desistir”, diverte-se a noiva.

Fotos: Mariana Raphael/Saúde-DF

O documento de união estável foi assinado na sexta-feira (26). “Ele queria muito falar o ‘sim’ para ela, e os profissionais do hospital trabalharam isso com ele, já que a traqueostomia e o tumor o impossibilitam de falar; ele conseguiu e expressou sua felicidade com isso”, conta a assistente social Jamila Trevizan.

Jair teve a doença diagnosticada há pouco mais de dois anos. Os primeiros sinais foram as dores, cada vez mais frequentes, na garganta e nos ouvidos. Ao fazer os exames, descobriu um câncer na orofaringe. O tratamento foi iniciado em São Paulo. Com a saúde estabilizada, retornou a Brasília, mas logo voltou a sentir dores e passou a ser acompanhado pela rede pública de saúde.

O trabalho da equipe do hospital é fazer com que o paciente em cuidados paliativos seja atendido em suas necessidades, dentro do possível. “Fazemos de tudo para que ele esteja bem no dia do casamento, fazendo intervenções com medicamentos, com psicóloga, enfim, com tudo o que for necessário para ele estar feliz para aquele momento”, explica Jamila.

 

Com informações de Agência Brasília

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