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Brasília

Homens que espancaram travestis a pauladas não responderão por homicídio

Segundo juiz, eles não tiveram intenção de matar. Polícia solicitou prisão preventiva, mas o pedido foi negado e os suspeitos estão soltos

Willian Matos

12/11/2019 13h14

Willian Matos
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A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) divulgou, na manhã desta terça-feira (12), resultado das investigações de um crime praticado contra duas travestis em agosto de 2019, em Taguatinga. Na ocasião, dois homens agrediram as vítimas com pedaços de madeira, como mostra o vídeo abaixo:

Segundo a delegada-chefe da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin), Angela Maria dos Santos, a Justiça entendeu que os homens não tiveram intenção de matar as vítimas, e sim apenas agredir. A Polícia Civil solicitou prisão preventiva dos suspeitos, mas o pedido foi negado.

“As investigações foram concluídas. Foi representada pela prisão preventiva dos autores como tentativa de homicídio combinada com a homotransfobia. [A representação] foi encaminhada ao tribunal de júri. A prisão foi negada e foi desclassificada a natureza penal”, explica Angela, afirmando que, agora, o caso é tratado como lesão corporal grave. “Agora, o processo está sendo trabalhado na 1ª vara criminal de Taguatinga.”

A delegada-chefe explica melhor a decisão da Justiça. “O juiz entendeu que não era o caso de tentativa de homicídio. Se ele entende que não foi tentativa de homicídio, ele entende que não há intenção de matar”, afirma. “Segundo o entendimento do juiz, eles só tiveram intenção de lesionar”, complementa.

Para Angela, é necessário uma mudança no que diz respeito às minorias. Autoridades e sociedade como um todo precisam repensar paradigmas, de acordo com a delegada. “Tudo que envolve gênero precisa de uma mudança de paradigma por parte de policia, judiciário, ministério público e sociedade em geral. É necessário entender que existem grupos marginalizados que, pela sua própria condição de ser, já estão em situação de vulnerabilidade. É realmente necessário que haja um olhar mais compassivo.”

Relembre o caso

No dia 18 de agosto deste ano, duas travestis foram agredidos a pauladas por dois homens após desentendimento quanto ao pagamento de um programa. Nas imagens (vídeo acima), é possível ver os suspeitos pegando pedaços de madeira e batendo nas travestis. Elas caem no chão, mas a dupla continua a bater, desferindo chutes, socos e xingamentos. Depois, eles fogem em um Hyundai Veloster.

A delegada-chefe da Decrin descreve o que aconteceu no dia do crime. “As vítimas nos narraram que estavam próximo à Coca-Cola e foram abordadas por um veículo com dois rapazes que combinaram um programa. Eles foram a um motel e, na saída, ficou uma dívida de R$ 12. Estes rapazes deram um relógio como garantia”, conta. O vídeo abaixo mostra um dos suspeitos deixando o relógio no estabelecimento:

 

A delegada prossegue. “Depois, foram até um caixa eletrônico sacar o dinheiro mas não o fizeram. Daí, deixaram as vítimas no meio do caminho, dizendo para elas descerem e, de uma forma muito grosseira, ameaçaram e partiram para cima delas com um pedaço de pau, agredindo, dizendo para elas saírem do carro, com muita fala homofóbica”.

“As vítimas precisaram fingir que estavam mortas para que eles desistissem de agredi-las.”

Versão contraditória

A delegada Angela explica que os próprios suspeitos se contradisseram quando precisaram de auxílio médico. Eles tiveram lesões na mão após as agressões e precisaram ir a uma unidade de pronto atendimento (UPA). Chegaram a dizer que as travestis os agrediram com um estilete, mas, segundo a PCDF, não procede.

“Eles procuraram uma UPA, porque ficaram com uma lesão. Em princípio, na unidade, eles disseram que a lesão foi produzida por um vidro. Depois, no Hospital de Base, onde eles precisaram fazer uma sutura, alegaram que foi o estilete. Então, o tempo todo é contraditória a versão deles”, explica a delegada. “Logo depois, um dos autores trocou a cor do carro no sistema do Detran — o Veloster passou a trafegar com uma cor vermelha”, cita.

Os dois suspeitos estão em liberdade.

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