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Brasília

Grupo entra com representação contra Luisa Nunes por crime de racismo

A representação feita nesta terça-feira (23), tem como base as falas da influencer do dia 4 de junho, quando a influencer utilizou o Instagram para criticar a hashtag #BlackLivesMatter

Marcus Eduardo Pereira

23/06/2020 23h39

Após declarações racistas em stories no Instagram, bem que a influenciadora digital, Luisa Nunes Brasil, tentou fugir do “cancelamento virtual”, apagando sua conta na rede social. Entretanto, uma representação no Ministério Público de São Paulo pede a investigação de um possível crime de racismo e danos sociais por parte da influenciadora.

A representação feita nesta terça-feira (23), tem como base nas falas de Luisa do dia 4 de junho,  quando a influencer utilizou o Instagram para criticar a hashtag #BlackLivesMatter (vidas pretas importam, em tradução livre), após o caso do assassinato do norte-americano, George Floyd.

Luisa chegou ao ponto de reforçar estereótipos sobre a aparência de pessoas brancas e negras. “Se você está num parque à noite, escuro, e você vê uma pessoa andando e essa pessoa é negra e ela tem os trejeitos de uma pessoa que parece ser um criminoso você vai ficar com mais medo do que se você visse uma pessoa branca de terno e gravata. Isso é natural do ser humano”, disse.

https://twitter.com/LeviKaique/status/1268564759730847744?s=20

Após receber diversas críticas, a influencer apagou as falas e afirmou ter sido mal interpretada. No dia seguinte, deletou sua conta. Nesta terça, o Jornal de Brasília apurou que uma conta @luisanunesbrasil, com mais de 58 mil seguidores está ativa, porém privada.

Nauê Bernardo é um dos advogados do grupo que entrou com a representação no MPSP contra a
influenciadora. De acordo com ele, as medidas já eram estudadas a algum tempo pelo grupo. “Já vinhamos acompanhando, a algum tempo, a história dessa moça. Fez esse post no começo do mês. Um vídeo extremamente racista. Para não ficar só na censura social, eu sentei e escrevi a representação junto com os outros advogados que assinam, e enviamos hoje (terça)”.

O documento pede que seja aberta uma investigação sobre uma possível prática do crime de racismo, com base no artigo 20 da lei anti-rascismo, além de danos sociais.

“Os danos sociais são quando a pessoa provoca algo que atinge a sociedade como um todo ou uma parte relevante. No momento em que essa moça faz essas colocações em relação as pessoas negras, ela está afetando, no mínimo, 50% da população brasileira”, explicou Nauê.

“Ela fala que está baseada em dados, mas em momento algum apresenta qualquer pesquisa que dê embasamento a opinião dela, e ainda que ela traga alguma coisa, é errado, pois ela não pode categorizar pessoas negras simplesmente por achar que essas pessoas estão associadas ao crime”, completou.

Caso Cocielo

Durante a Copa de 2018, o youtuber Julio Cocielo fez uma postagem racista, no Twitter, envolvendo um atacante da seleção francesa. “Mbappé conseguiria fazer uns (sic) arrastão top na praia, heim?”, dizia o post. Kylian Mbappé Lottin, 21 anos, campeão da Copa do mundo daquele ano, é negro.

No dia 12 de setembro, os promotores de Justiça de Direitos Humanos Eduardo Valério e Bruno Orsini Simonetti ajuizaram uma ação civil pública contra o youtuber por racismo. O MPSP pediu uma indenização de R$ 7 milhões por dano social coletivo.

Segundo Nauê, a representação segue os mesmos moldes. “No caso, a conta foi simples, um real por seguidor. Os 7 milhões era o número de seguidores dele e o possível alcance da postagem. Quando pedimos danos sociais, é exatamente para que essa pessoa sinta, no bolso, que a prática dela é absurda e aprenda uma lição: ou deixa de ser racista ou esconde esse racismo não sei onde”.

Recado aos racistas

Com a representação feita, o grupo espera uma resposta do MPSP. O atual momento de manifestações, aliado a atuação do MP no caso Cocielo, dão ânimo as expectativas de Nauê, que pela primeira vez se posicionou contra o racismo por intermédio da lei.

“Como eu sei que não vai ser a última vez que faço isso, eu encorajo todas as pessoas que são vítimas desse tipo de mal que façam alguma coisa. Que procurem as autoridades quando houver esse tipo de atitude estúpida. Hashtag, cancelamento, nada disso é suficiente para constranger quem tem esse pensamento monstruoso”, disse.

Com a prática comum que diversos influenciadores e famosos tem de voltar atrás em suas polêmicas, o advogado pontua a questão de opinião. “Ainda vemos pessoas com esse alcance e que continuam falando esse tipo de coisa absurda, tacanha, bizarra, travestindo de opinião, achando que isso não é crime. Opiniões não devem desrespeitar nem reduzir o outro a uma qualidade sub-humana. O que essa moça fez, ultrapassa muito a mera opinião. Ela precisa ser investigada e se for o caso, punida por isso”.

A reportagem procurou contato com a influenciadora, porém não obteve resposta.

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