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Brasília

Furto de cabos de cobre dobrou neste ano no DF

Arquivo Geral

12/09/2018 7h00

Atualizada 11/09/2018 22h30

Foto: Kléber Lima/Jornal de Brasilia

Raphaella Sconetto
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Pela quarta vez durante um mês, comerciantes da 403 Norte ficaram sem energia por conta de furto dos fios de cobre. Eles criticam a ausência de soluções mais firmes por parte da Companhia Energética de Brasília (CEB) e da Polícia Militar, e contabilizam os prejuízos de quatro dias em que tiveram o lucro afetado. Só ontem, todo o Bloco E ficou sem energia até as 15h30, porque os ladrões levaram quatro cabos de 75 metros. Apenas em agosto, a PM atendeu 11 ocorrências similares.

Do ano passado até este ano, a quantidade de cabos furtados dobrou: em 2017, foram 9.825 metros levados das redes subterrâneas, e, em 2018, o número já passa dos 18 mil metros – sendo que o ano ainda nem terminou. O prejuízo aos cofres públicos soma R$ 873,9 mil. O ano em que a CEB mais teve prejuízo foi em 2015, com 50 mil metros de cabos furtados, representando uma perda de R$ 1,8 milhão.

“A raiva já passou. O que fica é a vontade de desistir, porque essa é a quarta vez em menos de um mês”, desabafa Rodrigo Melo, 28, chefe e sócio do Cantucci Bistrô. Rodrigo conta que por volta das 5h de ontem, um cozinheiro chegou mais cedo ao restaurante para adiantar o preparo das comidas, mas ouviu um barulho. Foi quando a energia começou a ficar instável. “Ele saiu e viu os bandidos. Eles só falaram ‘vamos, vamos, isso aqui não vai dar nada’”, aponta. Para transportar os cabos, os criminosos usaram um carrinho de supermercado. As circunstâncias direcionam suspeitas a moradores de rua.

Se para os ladrões não vai dar em nada, já que a própria PM afirmou ao JBr. que na ocorrência não consta que houve o furto, para Rodrigo os prejuízos são incalculáveis. Ontem, o restaurante abriu sem energia e recebeu cerca de 60 clientes, enquanto em dias normais seriam 100. “Teve cliente que sentou na mesa e foi embora. Os que ficaram não puderam pedir café, suco. Só servimos refrigerante porque dava para colocar gelo”, conta.

No mês passado, Rodrigo perdeu equipamentos. “No primeiro furto, eles roubaram o cabo neutro e a energia ficou em uma fase. Perdi computador, modem, impressora e tive que pagar um eletricista para refazer toda rede”, destaca.

Para ele, todo esse tempo gasto com o reparo dos cabos poderia ser empregado em outras coisas. “A economia não está boa, tivemos queda no faturamento desde 2016. Em vez de me dedicar a soluções para voltar a faturar, fico perdendo tempo para ver como vou ter energia”, critica. “O pessoal da CEB vem e a única que eles fazem é colocar novos cabos. Não tem nenhuma medida além disso”, completa.

Atendimento improvisado ou inviável

O empresário Benoît Ratabaul, 38 anos, nem mesmo conseguiu abrir a padaria dele. A loja precisa da energia para preparar os pães e assá-los. “Para mim é muito ruim. Tudo depende 100% de energia. Temos coisas congeladas, resfriadas, temos que abrir massa, ver com está. É muito complicado, está sendo bem difícil”, lamenta. Ele estima que só ontem o prejuízo foi de R$ 3 mil, sem contar as outras três vezes no mês passado.

Ele também critica as medidas da CEB. “Para abrir a rede, tem que ser profissional, tem que saber o que vai cortar, tem que ter a chave para abrir. Tudo isso mereceria fazer com que a CEB procurasse atitudes mais firmes, em vez de simplesmente trocar. Até por conta da responsabilidade que ela tem de garantir o fornecimento aos clientes”, sugere.

Dono de padaria, Benoît sequer pôde abrir o estabelecimento nessa terça-feira: “Tudo depende 100% de energia”. Foto: Kléber Lima/Jornal de Brasilia

Para não perder os clientes, a dona de uma loja de cestas de café Valéria Wandalsen, 57 anos, relembrou o passado. No subsolo, onde a luz do sol não bate, a lâmpada elétrica deu lugar à lamparina. “As meninas estão montando as cestas no escuro mesmo. Contam com a luz do celular e do lampião”, conta. “É um absurdo isso acontecer. Vamos perdendo a esperança, porque a gente sabe que ninguém vai fazer nada para parar”, completa.

Ocorrências constantes

Um funcionário da CEB, que preferiu não se identificar, relata que os furtos são constantes e avalia que não há mais nada a ser feito. “Gastaram milhões para melhorar as travas, mas eles conseguem quebrar”, conta. “O prejuízo vem para a CEB, porque precisa repor os cabos várias vezes, e para os moradores e comerciantes, porque têm casos que queimam equipamentos”, completa.

Ele conta ainda que as ocorrências são mais constantes no Plano Piloto. “São onde a rede é subterrânea. Asa Sul, Asa Norte, Cruzeiro. Tem lugar em que se troca hoje e amanhã já tem que voltar de novo. Na área rural, lá em Planaltina, por exemplo, onde não é subterrâneo, os bandidos levam o transformador”, comenta.

No furto da Asa Norte, os bandidos levaram quatro cabos de 75 metros, conforme contou o funcionário ao Jornal de Brasília. Com essa quantidade, ele estima que os criminosos possam lucrar cerca de R$ 3 mil com a revenda clandestina do material.

Versão Oficial

Em nota, a CEB explicou que para prevenir os furtos são registrados boletins de ocorrência para investigações da Polícia Civil, mas também vem substituindo os fios de cobre por alumínio onde é possível, já que “este metal tem menor valor de mercado”. Além disso, a companhia explica que barreiras de concreto são instaladas para evitar o acesso às caixas subterrâneas. “A população pode ajudar denunciando à polícia movimentação de pessoas suspeitas próximas às estações transformadoras e caixas subterrâneas”, finaliza a nota.

A Polícia Militar, por outro lado, apontou em nota que, em muitos casos, ao se chegar ao local, a corporação “não se constata a ocorrência do crime”, assim como informaram sobre o caso específico da 403 Norte. A PM disse apenas que “quando um crime apresenta um mesmo modus operandi é necessário que um trabalho investigativo seja feito a fim de identificar os autores”.

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