Rafaella Panceri
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Um homem de 40 anos, identificado como Josias Sacramento dos Santos, matou a ex-mulher, Simone de Sousa Lima, 26, a facadas em um apartamento da QR 517 de Santa Maria, por volta das 5h dessa segunda-feira (3). Ele a convidou para ir ao local, onde morava sozinho, às duas da manhã e cometeu o feminicídio três horas depois. Em seguida, pediu ajuda ao marido da irmã para fugir da cidade.
O proprietário do imóvel diz ter visto o homem deixar a casa, sem camisa e de bermuda, a pé. Vizinhos escutaram a discussão do casal de madrugada, mas não chamaram a Polícia Militar. A suspeita da Polícia Civil é de que Josias esteja a caminho de Salvador (BA), onde tem familiares e amigos. Caso seja encontrado e condenado, pode ficar preso por 12 a 30 anos.
Cocaína
A perícia encontrou vestígios de cocaína na mesa do apartamento e marcas de sangue na parede. Tudo indica que a vítima entrou em luta corporal com o autor. Simone foi encontrada com diversos cortes feitos com facão no corpo. O maior deles está na perna e provavelmente atingiu artéria femoral. Há outros no peitoral e nos braços. Ela estava grávida de dois meses, mas não houve a confirmação de quem é o pai da criança. Deixou, ainda, um filho de três anos — fruto de outro relacionamento. A causa do feminicídio ainda é desconhecida pela Polícia Civil, que investiga o caso.
Homem mata ex-mulher a facadas e foge em Santa Maria. Vizinhos têm medo de comentar o fato. Foto: Rayra Paiva Franco/Jornal de Brasília
Após assassinar Simone, Josias teria ido até a casa do cunhado (marido da irmã) às 5h30. Ele pediu ajuda para fugir, mas a resposta foi negativa. “O cunhado disse que o carro estava estragado”, esclarece o delegado-chefe da 33ª Delegacia de Polícia (Santa Maria), Rodrigo Têlho Corrêa. O proprietário da quitinete onde o feminicídio ocorreu chegou a vê-lo sair do local pela manhã, mas não acionou a polícia porque não sabia dos fatos. Em depoimento, ele detalhou: “Josias estava correndo, só de bermuda e sem camisa, pela rua”.
Violência
Vizinhos que preferiram não se identificar asseguram que houve discussão e barulho no apartamento durante a madrugada. “Mas ninguém falou nada. É sempre assim”, critica o delegado. O cunhado de Josias só telefonou para a Polícia Militar às 11h, dizendo que o homem foi até a casa dele e dito: “Fiz besteira, matei a Simone e estou ‘vazando'”.
Os moradores da QR 517 têm medo de falar sobre o assunto. “A gente fala e depois se compromete”, explicou uma mulher. A irmã da vítima, menor de idade, prestou depoimento à Polícia Civil e informou que a família sabia que Josias estava envolvido com tráfico de drogas. Outra testemunha, identificada como Claudio Ernesto da Silva, 49, relembrou conversas que teve com Josias. “Ele dizia que o sonho dele era apresentar a cabeça dela como troféu. O filho da Simone [de outro relacionamento] dizia que o sonho dele era ser policial para prender Josias”, conta.
Homem mata ex-mulher a facadas e foge em Santa Maria. Perícia encontrou cocaína no local. Foto: Rayra Paiva Franco/Jornal de Brasília
Relacionamento conturbado
O relacionamento do casal era marcado pela violência. Eles viviam em casas separadas, mas se encontravam com frequência na quitinete onde o homicídio ocorreu. Segundo a PCDF, Josias foi mencionado duas vezes por Simone como agressor em denúncias por descumprimento da Lei Maria da Penha. Como resultado, havia uma medida protetiva em vigor, para protegê-la.
No entanto, os dois se encontravam semanalmente no local. “As denúncias foram feitas por ela em setembro e dezembro de 2017. Havia uma audiência de conciliação marcada para amanhã”, conta o delegado-adjunto da 33ª DP, Paulo Roberto.
O autor do feminicídio já foi preso por porte ilegal de arma de fogo e por receptação de veículo roubado em 2017. A 33ª DP já solicitou a prisão de Josias dos Santos à Justiça. Caso encontrado e condenado, pode ficar preso por um período de 12 a 30 anos.
Homem mata ex-mulher a facadas e foge em Santa Maria. Foto: Rayra Paiva Franco/Jornal de Brasília
Saiba mais
Segundo dados fornecidos pela Polícia Civil, a taxa de denúncias de violência contra a mulher, via Lei Maria da Penha, é de três por dia em Santa Maria. “Há uma grande incidência desse tipo de violência na região e uma delas acaba se convertendo em homicídio”, analisa o delegado da 33ª DP, Rodrigo Têlho Corrêa.
Houve 22 casos de feminicídio em 2018, incluindo o de Simone de Sousa Lima. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, o aumento é de 75% em relação ao mesmo período de 2017, quando 12 mulheres foram assassinadas. Entre os casos, 88% das vítimas foram mortas na própria residência e em 94% dos episódios havia vínculo entre elas e os autores.
